Londres já tem dois pontos fortes para levar à terceira ronda de negociações sobre o Brexit com a União Europeia: criar uma “união aduaneira temporária” e garantir que não existem barreiras físicas entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte. Bruxelas reagiu a avisar que primeiro é preciso consumar a saída ordenada do Reino Unido e só depois será possível discutir os termos de um acordo bilateral entre a União Europeia e um parceiro que já será “externo”.

A terceira ronda de negociações está marcada para o final de agosto, mas no início da semana começou a ser divulgado o plano britânico. A estratégia do Reino Unido é acordar um “período de transição”, durante o qual o país manteria uma “ligação estreita” com a União Europeia, numa circulação de bens que seria “o mais livre possível e sem fricções”. O objetivo será proporcionar uma “transição suave” que permita “negociar novas e audaciosas relações comerciais com todo o mundo”. Londres insiste assim em colocar já em cima da mesa os termos da relação comercial futura com a União Europeia, após deixar de ser oficialmente um Estado-membro da União Europeia.

Já a Comissão Europeia adverte que a futura relação comercial entre Reino Unido e a União Europeia não é prioritária. “Tomamos nota do pedido do Reino Unido para um período de aplicação (das novas regras) e da sua preferência em relação ao relacionamento futuro, mas só discutiremos (estas questões) quando fizermos progressos suficientes nas condições de retirada ordenada”, afirmou um porta-voz da Comissão Europeia, encarregada da negociação em nome dos 27 restantes países da União.

A mesma fonte da Comissão Europeia, lembrou que primeiro é preciso consumar a saída: “Como Michel Barnier [o negociador-chefe europeu para o ‘Brexit’] disse em várias ocasiões, não é possível existir ‘comércio sem atrito’ fora do mercado único e da União Aduaneira”, sublinhou o porta-voz da Comissão num comunicado, adiantando que o acordo sobre a futura relação entre as duas partes só poderá ser concluído “quando o Reino Unido se tornar um país terceiro”.

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Outra questão em cima da mesa é a fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. As autoridades britânicas defendem que haja alguma “flexibilidade e imaginação” a gerir a questão. Desde logo, que a fronteira seja também ela “imaginária”. O docuemnto defende que não exista uma fronteira física, havendo livre circulação entre as duas Irlandas, com alguns ajustes aduaneiros. De acordo com a Reuters, cerca de 30 mil pessoas atravessam esta fronteira todos os dias sem controlos ou taxas aduaneiras. A questão é particularmente sensível, já que, antes do acordo de paz em 1998, morreram mais de 3600 pessoas em conflitos entre a maioria protestante (defensora que a Irlanda do Norte pertencesse ao Reino Unido) e a minoria católica (pela independência ou integração na República da Irlanda.

No documento que servirá de guia para a nova ronda de negociações, o Governo britânico defende que não existam “infra-estruturas físicas”, nem qualquer posto de controlo entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte. “Ambos os lados precisam mostrar flexibilidade e imaginação quando se trata da questão da fronteira na Irlanda do Norte”, afirmou uma fonte do governo britânico citada pela Reuters.

Por outro lado, a resposta do coordenador do Parlamento Europeu para o “Brexit”, Guy Verhofstadt, antecipa mais dificuldades, classificando de “fantasia” a existência de “fronteiras invisíveis” entre o espaço da União Europeia e um país terceiro.