Teresa Leal Coelho e Pedro Passos Coelho estão oficialmente em campanha, mas é complicado. Para esta sexta-feira estava agendada a primeira ação oficial da candidata do PSD a Lisboa, acompanhada do presidente do partido, e não se pode dizer que tenha sido “um passeio”. Local escolhido: Associação portuguesa das Famílias Numerosas, em Belém, seguido de um contacto com a população em frente ao Palácio de Belém (com o Presidente da República fora do país, em Malta).

Problema número um: o tema “Marcelo vs. Passos” era apetecível e inevitável. Problema número dois: estava marcada uma manifestação de enfermeiros para aquele mesmo local, e a comitiva teve de fazer um desvio, passando da zona das queijadas de Belém, junto ao Palácio, para o coração dos pastéis de Belém. Problema número três: junto aos Pastéis de Belém há mais turistas do que lisboetas. Mas, continuemos. “É preciso é andar”, diria Passos a dada altura.

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O passeio pela rua, que não estava inscrito na agenda oficial da candidata, acabou por ser um momento conturbado. Nada o fazia prever quando Teresa Leal Coelho e Pedro Passos Coelho chegaram, pelas 10 horas, à sede da Associação de Famílias Numerosas, para uma reunião de trabalho. Assim que chegou, Passos elogiou logo a prestação da candidata no debate televisivo da noite passada. Não quis falar aos jornalistas de qualquer assunto que não tivesse a ver com a campanha a Lisboa, nem das recomendações recém-divulgadas do FMI, nem tão pouco da nova greve marcada pelos enfermeiros, que estão em pé de guerra com o Governo. “Vamos concentrar-nos nas questões de Lisboa”, pediu Passos, depois de se ter mostrado “confiante” na candidata que escolheu, ele próprio, para protagonizar a corrida do PSD à câmara de Lisboa.

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“Estamos a lutar para ganhar a câmara, não para perder. Mas não temos a mania de que somos os maiores do mundo, nem temos a arrogância de mandar cancelar jogos de futebol, ou missas, ou cinemas no dia das eleições, porque sabemos que a maior parte das pessoas que se abstém não vota porque não quer, não tem interesse. E esse é que é o problema”, disse, falando aos jornalistas ao lado de Teresa Leal Coelho, que descreveu como “uma grande candidata”. Em arranque oficial da campanha, numa altura em que faltam precisamente 15 dias para a ida às urnas, Passos Coelho quer passar a mensagem de que só há prognósticos no fim do jogo. “A eleição de Lisboa é capaz de surpreender muita gente, há gente que tem dito coisas cheias de certezas, e não tenho certezas como essas de que o dr. Medina já tem a eleição ganha e isto é um passeio. Ninguém pode ter a arrogância de dizer que conhece o resultado das eleições”, afirmou.

Ao seu lado, Teresa Leal Coelho tinha dito que contava com o apoio do líder do partido “desde o primeiro dia, até ao último dia”. Mas a verdade é que se o processo de escolha da candidata do PSD a Lisboa começou por ser conturbado, também foi conturbado o primeiro dia de campanha oficial lado a lado.

Enfermeiros no caminho: um desvio necessário

Enquanto a comitiva, composta por alguns deputados eleitos pelo círculo de Lisboa e alguns membros da juventude partidária, esperava a chegada de Passos e Teresa Leal Coelho à pastelaria em frente ao Palácio de Belém, começavam ouvir-se ali perto as buzinas da manifestação que se iria seguir. Para cá e para lá viam-se manifestantes com t-shirt pretas a dizer “Basta” e bastou uma troca de olhares para os organizadores daquela ação de campanha terem percebido que aquilo não estava no programa. Ninguém quer ser acusado de aproveitamento político. “Vamos antes aos pastéis de Belém”, começou-se a ouvir.

O desvio não estava programado. “Não vou fazer graça com o assunto porque não sei quem é que traçou o caminho, na verdade não sei se este era o trajeto inicialmente previsto ou não, mas se há uma manifestação de enfermeiros aqui ao lado é evidente que não nos iremos misturar com uma coisa que não está centrada na nossa campanha, nem a vamos procurar incluir na nossa campanha”, disse Passos Coelho quando questionado sobre o assunto.

Minutos antes, o líder do PSD tinha deixado claro que não queria falar sobre esse tema do momento, não por não o “preocupar”, mas sim por não ser o momento adequado. Só Teresa Leal Coelho aproveitou a deixa para dizer que “há uns dias, Fernando Medina anunciou um investimento de 30 milhões de euros nos centros de saúde, e no mesmo dia José Sá Fernandes anunciou um investimento de 30 milhões para jardins. A saúde e os jardins para este executivo camarário valem o mesmo, é isto que temos de mudar”. Não foi fácil, contudo, dar a atenção devida à candidata quando era Passos Coelho o centro das atenções.

Desviados os enfermeiros (que aqui ou ali iam aparecendo no caminho, a beber um café ou a comer um pastel de Belém), encontraram-se os turistas. O plano B foi um passeio pelos jardins de Belém onde decorria uma feira de artesanato e uma paragem nos muito concorridos Pastéis de Belém. Resultado: turistas, turistas e mais turistas. Passos ajustou-se, Teresa Leal Coelho foi atrás. “Too many people, right?”, disse o líder do PSD a um casal estrangeiro que se encolhia para tentar passar pelas muitas pessoas, entre jornalistas e comitiva, que acompanhavam a ação de campanha.

Uns metros adiante, e novo treino de língua inglesa. “It’s always a politician! (É sempre um político!)”, disse a um cidadão estrangeiro curioso que abordou Passos Coelho perguntando se era político. Teresa Leal Coelho acrescentou até um detalhe: não só é político como é “um ex-primeiro-ministro de Portugal”. “Gosta de Lisboa?”, perguntou ainda o ex-primeiro-ministro ao jovem turista, que disse logo que era uma cidade “encantadora”, mas que estava há muito tempo a tentar encontrar um sítio para comer, e parecia ser “impossível”, dada a quantidade de gente. Quem respondeu à queixa foi o líder do PSD, com a candidata ao lado: “Estamos a tentar tornar Lisboa uma cidade melhor, ainda melhor do que é atualmente”.

Marcelo ausente, mas muito presente

Mesmo com as notícias de mau relacionamento entre Passos Coelho e Marcelo Rebelo de Sousa, o PSD marcou a primeira ação de campanha do líder e da candidata a Lisboa para as portas da residência oficial do Presidente da República. Pedro Passos Coelho aproveitou a coincidência para lembrar que hoje já não vai tantas vezes a Belém como antigamente, mas que seria bom sinal se voltasse a frequentar aquelas ruas mais vezes. Não é que queira dizer que a relação entre o líder da oposição e o Presidente da República é “doce” ou “amarga”, mas recorda-se bem de como o Presidente aprecia o doce dos pastéis de Belém. Um doce que, todavia, “não se pode estar a comer a toda a hora”.

“Agora venho menos vezes aqui a Belém, normalmente vinha cá às quintas-feiras, agora venho menos vezes. E como há aqui muitos turistas, acabamos por encontrar mais facilmente o Presidente da República fora daqui”, disse Passos, para a seguir responder que “seria bom sinal” se a partir de 2019 passasse a frequentar mais vezes esta freguesia de Lisboa. Entre pedir um café e um pastel de Belém, Passos ainda viria a explorar mais a questão. É que “tem-se criado por aí a ideia de que nós não gostamos de doces, e isso não é verdade, tem é que se comer com conta, peso e medida”, disse, referindo-se às recentes trocas de ideias mais amargas que tem havido entre o Presidente da República e o líder do PSD.

Marcelices à parte, não houve selfies e foram poucos os beijinhos. Teresa Leal Coelho apertou a mão dos comerciantes com quem se foi cruzando, perguntando-lhes sempre onde moravam e se tinham ou não sido “expulsos” do centro da cidade. Habitação e ação social são algumas das suas preocupações. Passos até deu uma ajuda, contando que quando chefiava o Governo e António Lamas foi designado presidente do CCB, chegou a falar com o então presidente da câmara de Lisboa, António Costa, para se pensar como “fazer o reordenamento estratégico” da zona de Belém, onde “não há disciplina nem coordenação, e onde os turistas são empurrados de um lado para o outro e os autocarros se amontoam”. As conversas terão prosseguido com Fernando Medina, mas a ideia “acabou por morrer”. “Vamos retomar esse projeto”, limitou-se a dizer a candidata.