“O rio mais longo da Península Ibérica está a morrer”. Esta é a conclusão apresentada aos leitores da reportagem intitulada “A agonia do Tejo”, publicada esta segunda-feira no jornal espanhol El País. O veredicto surgiu após uma viagem ao longo dos 1038 quilómetros de comprimento do Rio Tejo. O jornal apresenta a reportagem — dividida em quatro capítulos e com quatro vídeos — que é também a “história de um Tejo incapaz de dar tudo o que dele se deseja obter”.
Na viagem, os repórteres encontraram um rio em que a seca deixou à vista alguns problemas estruturais — a poluição e o excesso de reservatórios de água — e onde apenas a primeira secção do rio mantém águas cristalinas.
Logo no capítulo um, intitulado “Fendas onde havia água”, o jornal identifica o local ao longo dos mais de mil quilómetros do Tejo onde as consequências da seca são mais notáveis: na zona de Aranjuez, onde o rio Tejo — limpo mas diminuído — e o rio Jarama — com mais volume mas poluído — se encontram.
Ambos se juntam aqui, mas o canal principal [o rio Tejo] traz tão pouca água que não consegue diluir a poluição do afluente [o rio Jarama], que transporta despejos da cidade de Madrid e da sua área metropolitana”, pode ler-se na reportagem.
Este primeiro capítulo apresenta ainda alguns números para mostrar como os factos apresentados são preocupantes: quase oito milhões de pessoas são fornecidas pela água existente onde esses dois rios se encontram.
O problema a que se dedica o capítulo dois — intitulado “O esgoto de Madrid” — é mesmo esse: o rio Tejo já não tem volume suficiente para diluir os resíduos urbanos e industriais que vêm dos seus afluentes.
A zona de Talavera de la Reina é uma das mais preocupantes a este nível. “Mesmo cumprindo os regulamentos, o volume de resíduos é tal que a capacidade de purificação é insuficiente”, disse uma professora da Universidade de Castilla-La Mancha e um dos líderes do Grupo de Investigación del Tajo — um grupo de académicos e ecologistas que lutam pela recuperação do rio – ao El País.
No capítulo três, cujo título é “300 quilómetros de reservatório de água”, é denunciado outro problema: a sucessão de reservatórios ao longo do rio Tejo, ou seja, as várias barragens que foram construídas com o argumento de garantir o consumo humano e reduzir o risco de catástrofes, dada a capacidade de armazenar água, gerar eletricidade e travar cheias.
Mas a sua construção também implicou mover populações inteiras, cujas casas ficaram submersas. Só que agora, devido à seca, algumas dessas aldeias ficaram de novo à vista. São “uma sucessão de pântanos hidroelétricos que inundaram aldeias e ruínas históricas”, como descreve o El País sobre os 300 quilómetros antes do rio Tejo passar a fronteira para Portugal. Um dessas aldeias é Talaverilla, cujos restos estão hoje visíveis.
Na primeira secção do rio Tejo, a água é transparente, apesar de ter até oito metros de profundidade. O último capítulo da reportagem, intitulado “O paraíso perdido de águas cristalinas”, fala sobre esta zona do rio, um pouco mais abaixo da sua nascente em Teruel, entre Cuenca e Guadalajara.
Embora a área já tenha sido alvo de transformações artificiais — foram construídas duas minicentrais elétricas que dificultam a passagem dos peixes –, esta área é considerada por ativistas e pesquisadores como um “paraíso perdido”.