As autoridades chinesas assumiram o controlo temporário do grupo segurador Anbang e vão apresentar acusações criminais contra o seu fundador, Wu Xiaohui por suspeitas de fraude. A Anbang foi uma das duas finalistas na primeira tentativa de compra do Novo Banco em 2015 que não se concretizou.

O controlo da Anbang pelas autoridades foi comunicado esta sexta-feira pelo regulador chinês dos seguros, enquanto os procuradores de Shanghai anunciaram a acusação contra o fundador do grupo por suspeitas de fraude no angariação de fundos e desfalque. A tomada de controlo da segurada privada vai durar pelo menos um ano e é justificada por atividades ilegais na área dos seguros que ameaçam a insolvência da seguradora.  Não são dadas mais informações sobre os factos em causa.

Este raide surpresa faz parte da campanha anti-corrupção liderada pelo presidente Xi Jinping e atinge uma das estrelas empresarias chinesas que cresceu nos últimos anos com a compra de vários ativos internacionais, alguns tão emblemáticos como o hotel Waldorf Astoria em Nova Iorque. As autoridades chinesas procuraram também resolver um problema interno criado pela venda de produtos de investimento de alto risco por parte da seguradora a milhares de chineses.

As autoridades chinesas, que já tinham detido Wu em junho, anunciaram a intervenção na Anbang dias antes de uma reunião à porta fechada do Partido Comunista que deveria aprovar novos responsáveis e decisões de reestruturação no setor financeiro.

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A Anbang e a Fosun, outro grupo financeiro privado chinês, foram os dois finalistas na primeira operação de venda do Novo Banco. Apesar de ter, segundo a imprensa, apresentado a oferta mais alta, na última fase do processo o Banco de Portugal negociou apenas com a Fosun, numa altura em que os grupos financeiros chineses estavam sob pressão por causa das quedas acentuadas na bolsa de Xangai.

Mas a dona da Fidelidade não melhorou a proposta inicial apresentada e o Banco de Portugal decidiu não fazer o negócio. Um ano  depois, a Fosun entrou no capital do BCP e é hoje o seu maior acionista, com mais de 25%. Em Portugal, a Fosun tem ainda a seguradora Fidelidade que, por sua vez, é dona da Luz Saúde.

O fundador da Anbang não é um alvo solitário da campanha lançada por Xi Jinping contra a corrupção nas grandes empresas públicas e privadas da China. A atuação das autoridades intensificou-se depois do crash na bolsa de Xangai no verão de 2015 e à medida que cresciam a nível internacional dúvidas sobre a sustentabilidade financeira das empresas chinesas que realizaram grandes aquisições fora de portas, muitas vezes a preços inflacionados, com recurso a dívida.

Porque estão a desaparecer os milionários e poderosos chineses?

A Fosun, um grupo privado com sede em Hong-Kong, não passou ao lado destas movimentações quando, no final de 2015, o seu fundador, conhecido como o Warren Buffet chinês, desapareceu. Guo Guanchagang ficou incontactável por uns dias, até que se soube que esteve a ser interrogado ou a colaborar com as autoridades em investigações judiciais. O fundador da Fosun, um dos mais conhecidos milionários chineses a nível internacional, mantém-se em funções no grupo como presidente. E depois de uma pausa para consolidação das aquisições, a empresa chinesa voltou às compras com a tomada de controlo da casa de moda francesa Lanvin.