A chuva entupiu o trânsito nas principais artérias de Lisboa. Mas se Marcelo Rebelo de Sousa conhece bem as ruas da capital que vão dar à reitoria da Universidade de Lisboa, o mesmo não se pode dizer de Rui Rio, mais habituado ao trânsito da cidade do Porto. Foi assim que um chegou a horas, e o outro se atrasou. E foi assim que um esperou pelo outro, mais de meia hora dentro do carro: Marcelo e Rio entraram juntos e sentaram-se lado a lado.

O evento era do Presidente da República, que foi convidado para apresentar o novo dicionário de termos europeusEuropa de A a Z –, sendo que Rui Rio era apenas um dos convidados de primeira fila dos eurodeputados social-democratas, mas Marcelo Rebelo de Sousa não saiu do carro antes de o presidente do PSD chegar. Rui Rio chegou, Luís Marques Mendes chegou, os dois juntaram-se à conversa com Paulo Rangel no átrio da reitoria, e lá entraria o Presidente da República. Estava aberta a sessão.

Entendimentos, convergência, diálogo, e muita urgência para os conseguir. Os termos não são europeus, mas, nos dias que correm, não podiam ser mais portugueses. Depois de ter almoçado com Rui Rio no Palácio de Belém — num encontro que Marcelo Rebelo de Sousa se escusou a detalhar, dizendo apenas que correu “muitíssimo bem” — Presidente da República e líder do PSD voltaram a encontrar-se para a apresentação do dicionário coordenado pelo eurodeputado Carlos Coelho. Marcelo sentou-se entre Paulo Rangel e Rui Rio, que por sua vez se sentou ao lado de Carlos Coelho, seguindo-se Leonor Beleza e Marques Mendes. Uma plateia recheada de sociais-democratas que ouviu, uma vez mais, o recado dos entendimentos.

O tema foi a Europa, mas Marcelo aproveitou para reforçar o apelo aos entendimentos imediatos, sob pena de, se forem arrastados, irem cair em cima do calendário eleitoral de 2019. “É agora que temos de pensar, falar, juntar esforços, promover convergências, definir e tentar fazer vingar objetivos. Não é daqui a meses em pleno ano eleitoral de 2019, quando já for tarde“, disse Marcelo no palanque do Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa.

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Marcelo referia-se às questões de fundo que estão em jogo na Europa, desde o “crescimento e o emprego, o social, as migrações, o futuro da economia e da moeda única, a segurança, a defesa, o relacionamento com a Aliança Atlântica, a proximidade com os cidadãos, aos sonhos, anseios, angústias e desilusões”, mas em tudo imprimia urgência. “Temos poucos meses, muito poucos, para debater e decidirmos o que há a decidir”, voltaria a dizer. Mais à frente, viria, contudo, a cingir os temas sobre os quais espera convergências aos temas dos fundos estruturais pós-2020 e à descentralização: “Nós portugueses, temos muito poucos meses para debatermos como vamos lutar para não deixarmos perder a coesão social e territorial, e que prioridades vamos eleger cá dentro e na Europa para o período crucial iniciado em 2021”, disse.

Pelo meio, uma alfinetada à classe política em geral, “governantes nacionais e europeus”, que estão “muito afastados do povo que os elege”. A culpa é deles, não do povo, disse. “A culpa do afastamento não é desse povo, é de quem gosta de pedir o voto de tantos em tantos anos mas depois se esquece na voragem do dia a dia”, disse, sublinhando a importância de obras como a que estava ali a apresentar, porque “pretende lutar contra a maré da indiferença, do alheamento, do silêncio”.

Aos jornalistas, no final da sessão, Marcelo seria breve nas palavras mas voltaria a vincar a urgência do diálogo, dizendo-se optimista quanto à possibilidade de esses entendimentos serem feitos “em tempo útil”. “Com o quadro global que temos penso que há certas matérias importantes onde é possível: uma delas é a Europa, a outra é a descentralização, onde eu já tive oportunidade de lançar o apelo no congresso da Associação Nacional de Municípios”, disse.

Ou seja, o apelo está lançado, agora resta saber se é cumprido em tempo útil: até ao final do ano, para não cair em cima do ano eleitoral. Para já, a reunião com Rui Rio correu “muitíssimo bem”. Disse apenas isto, mas disse-o duas vezes.