Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) denuncia a Coreia do Norte por vender produtos essenciais para o fabrico de armas químicas à Síria, cujo regime é acusado de usá-las em várias ocasiões durante a guerra civil que começou no seu país em 2011. Entre 2012 e 2017, terão partido pelo menos 40 navios com carregamentos ilícitos da Coreia do Norte para a Síria.

A Coreia do Norte está atualmente proibida de exportar material militar, devido a sanções acordadas pelo Conselho de Segurança da ONU.

O documento, que para já não foi publicado mas ao qual o The New York Times teve acesso, dá conta de carregamentos enviados em navios que continham “válvulas e termómetros específicos para o uso [no fabrico] de armas químicas” e azulejos à prova de ácido, que, explica o relatório da ONU, é utilizado na construção de fábricas daquele tipo de armamento.

O relatório dá conta de pelo menos cinco carregamentos enviados daquele país asiático para aquele país do Médio Oriente durante 2017 previstos num contrato entre duas empresas estatais de cada um destes países. Os carregamentos seriam feitos pela Korea Mining Development Trading Corp. e recebidos na Síria pela Metallic Manufacturing Factory. Os navios utilizados para esta troca comercial pertenciam à Cheng Tong Trading Co. Ltd., uma transportadora chinesa.

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Um destes carregamentos foi intercetado a meio do caminho, por um país que não é identificado pelo relatório das Nações Unidas.

Relações entre os dois países já são antigas

Os dois países têm relações já antigas, que datam pelo menos da década de 1970, altura em que a Coreia do Norte, sob a liderança de Kim Il-sung, avô de Kim Jong-un, procurava expandir a influência de Pyongyang através de acordos comerciais e militares com países emergentes de África e também do Médio Oriente.

Durante a guerra israelo-árabe de 1973, a Coreia do Norte ajudou a Síria com aviões e pilotos militares. Em 2007, Israel bombardeou a região síria de Deir ez-Zor aquilo que seria uma central nuclear construída com o auxílio de técnicos norte-coreanos.

Em 2015, em plena guerra civil, o regime sírio fez uma cerimónia pública para batizar um parque com o nome de Kim Il-sung em Damasco, juntamente com uma placa alusiva ao líder fundador da Coreia do Norte.

O regime sírio está a ser acusado de usar armas químicas na província de Idlib, em Afrin e, mais recentemente, na região de Ghouta, um aglomerado de subúrbios às portas de Damasco que é um dos poucos enclaves dominados pelas várias forças que combatem as tropas de Bashar al-Assad. O Estado Islâmico, cujo domínio territorial na Síria caiu a pique ao longo de 2017, também foi acusado de utilizar armas químicas durante a guerra.

Para já, há poucas reações a este relatório da ONU, noticiado pela The New York Times. Uma delas partiu de Kenneth Roth, diretor da ONG Human Rights Watch. “É claro que um regime que põe a sua gente em prisões mortíferas porque os seus pais são da oposição (Coreia do Norte) não hesitariam em ajudar Assad a gasear civis sírios”, escreveu no Twitter.