Um mistério, é o que é. Há um Real na La Liga e outro na Champions.

O “interno” é passivo a defender, tantas vezes displicente no ataque – o senhor displicência é Karim Benzema e o Santiago Bernabéu já o apupa mesmo se não o for –, pouco solidário entre jogadores algo aburguesados nos relvados espanhóis, dependente de um rasgo (o que é de Ronaldo tardou a aparecer no começo da época e apenas agora se avista com golos a sair em barda) que resolva e assarapante o marasmo. O Real “interno” é sobretudo de engate: se engatar, se o primeiro sair, se depois do primeiro vier um segundo e um terceiro mais, vence. Mas não entusiasma.

Na Champions é diferente. E findos que estão os oitavos-de-final, pode até dizer-se que o Real vulgarizou o PSG e que hoje, não fosse o guarda-redes Areóla e os postes, os madridistas voltariam à capital espanhola com uma vitória por uma sacada de golos.

Sim, não houve Neymar – que provavelmente só regressa por altura do Mundial –, e o PSG nos primeiros minutos viveu sobretudo dos dribles (que descansem em paz os rins os de Marcelo e Carvajal) de Ángel Di María e da velocidade estonteante de Kylian Mbappé. Mas também é verdade que no jogo da ida o brasileiro esteve presente e a história não foi tão diferente quanto isso. Quem nunca mas nunca facilita é Ronaldo. E voltou a “molhar a sopa” no Parc des Princes, chegando aos 12 golos (sim: do-ze) em oito jogos.

Os golos, esses, surgiram todos na segunda parte. Da primeira há apenas para contar um falhanço de Benzema e uma defesa decisiva de Keylor Navas. O falhanço foi ao minuto 37. Marcelo mete a bola looooonga nas costas da defesa francesa, Thiago Silva escorrega e falha o corte, deixando Benzema isolado. Benzema corre que se desalma em direção à grande área, esperou que Areóla deixasse os postes e rematou. Mas tanto esperou, tanto esperou, que o conterrâneo das balizas cortou-lho o ângulo todo e defendeu. Por fim, ao minuto 43, Mbappé acelerou pela direita, deixou Marcelo a apanhar bonés e rematou cruzado já na área. Navas fechou a nesga de espaço por onde a bola poderia entrar junto ao poste direito e defendeu para canto com o que estava mais à mão – que neste caso até foi um pé.

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Retomado o jogo, e volvidos escassos seis minutos, Marco Asensio recupera a bola a Dani Alves, escapa em direção à grande mas, não tendo a quem cruzar, não cruza, dribla, dribla uma e outra vez, e espera. Chegou Lucas Vásquez, Asensio isolou Lucas e o extremo cruzou para o poste contrário. Quem lá estava era, como antes, como sempre ou quase sempre, Ronaldo para desviar de primeira. É: another day at the office, senhores.

Marco Verratti esticou-se para cima do árbitro Felix Brych e o alemão expulsou-o. O minuto era o 66. A expulsão resolveu (mais ainda) tudo? Não, nem por sombras. Até porque ao minuto 71 o PSG empataria a partida. Que salgalhada foi o golo parisiense. Ángel Di María cruza desde a esquerda para o interior da grande área, Thiago Silva amortece de cabeça e Pastore desvia também de cabeça. A bola ressalta em Casimiro, ressalta segunda vez em Cavani, e trai o desamparado (com tantos ressaltos e ressaltinhos) Navas.

O Real queria sair de Paris com a vitória e saiu mesmo. Ao minuto 81, Rabiot alivia mal, Casimiro remata, a bola acerta em Marquinhos e também Areóla é traído. Depois, “pliiiiim”, “pliiiiim”, foi um trincolejar como se não houvesse amanhã. Ao minuto 81, Bale (que havia entrado pouco antes e estava com pulmão para dar e vender) acelera pela esquerda fora, cruza, e Vásquez remata de primeira, ao primeiro poste, acertando o espanhol onde não quereria de todo acertar: o ferro. Dois minutos mais tarde, a mesma história, agora com Ronaldo (após assistência de Casimiro) a acertar com estrondo no caprichoso metal que protegia Areóla.

Contas feitas: o Real vence e convence em Paris; 2-5 somadas as duas mãos. Mas isto é na Champions. Em Espanha, o Real “interno” está a 15 pontos de distância do líder Barcelona…