Há uma autêntica galáxia fantasma a 65 milhões de anos-luz do Sistema Solar que desafia tudo o que julgamos saber sobre a formação desses corpos celestes. NGC1052-DF2, o nome de código com que os cientistas batizaram esta galáxia, aparenta ter quantidades insignificantes de matéria negra, uma forma de matéria que não emite radiação em qualquer parte do espectro electromagnético. Até agora, os cientistas acreditavam que a matéria escura era essencial para a formação e para manter a integridade das galáxias, mas esta descoberta pode deitar por terra essa teoria.

Se não fosse a matéria escura, as estrelas que ficam nas bordas das galáxias seriam como passageiros sem cinto a andar num carrossel a alta velocidade: seriam atiradas para fora à conta da força centrífuga. Tinha de haver alguma coisa que funcionasse como uma cola dentro da galáxia e que mantivesse todos os corpos celestes reunidos dentro dela. Como todas as galáxias observadas por astrónomos tinham mais massa do que eles conseguiam ver, os cientistas teorizaram que o mais provável é que houvesse uma matéria transparente que, embora tivesse massa e força de gravidade, não emitisse luz — era a matéria escura.

A teoria dizia que “as galáxias começavam como uma bolha de matéria escura que acumula gás, que se transforma em estrelas, que se transformam em galáxias”, conta Pieter van Dokkum, o cientista da Universidade de Yale que lidera o estudo, à New Scientist. Tudo batia certo, até porque todas as galáxias observadas obedeciam a esta teoria e eram compostas por até 99,8% de matéria negra. Até agora, porque NGC1052-DF2 tem 400 vezes menos quantidade desta matéria misteriosa do que qualquer galáxia estudada até hoje pelos astrónomos. A quantidade de matéria negra é tão pequena que os cientistas a consideram irrelevante e dizem não justificar como é que a galáxia mantém a sua integridade e não se despedaça. Ninguém faz ideia do que acontece dentro dela.

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NGC1052-DF2 deve ter 100 e 340 milhões de vezes a massa do Sol. Não há certezas porque a galáxia é muito distante e a luz que emite é muito ténue.

Pieter van Dokkum explicou que chegou a esta descoberta depois de fazer a conta de subtração que todos os astrofísicos fazem para descobrir que quantidade de matéria visível e de matéria negra existem dentro de uma galáxia. A massa total dela é fácil de obter: basta saber a velocidade das estrelas ou de quaisquer outros corpos celestes que existem dentro da galáxia. Depois subtrai-se a quantidade de massa visível: o que sobrar é a massa que não emite radiação eletromagnética e a que a comunidade científica chama matéria negra. Só que, quando Pieter van Dokkum terminou as contas feitas a 10 aglomerados de estrelas que encontrou junto ao centro da galáxia, ficou com um resultado a roçar o zero.

Isso já tinha acontecido antes, mas apenas por engano. Alguns cientistas mediram a quantidade de matéria negra na região com mais estrelas e encontravam muito pouca, mas o mistério desvanecia-se quando se percebia que a maior parte dela estava acumulada nas margens das galáxias. Aqui o caso é outro: “Tem havido algumas declarações que falam de galáxias sem matéria negra nas últimas décadas mas elas são todas corrigidas com medições mais cuidadosas. Nesta galáxia em particular, por ser tão grande e difusa, não há lugares onde a matéria negra se possa esconder”, explicou Pieter van Dokkum.

Pieter van Dokkum já tem uma possível explicação para esta galáxia. Segundo ele, é possível que ela tenha resultado da colisão de duas galáxias ou que a bolha de gás de que nasceu tenha sido soprada por ventos em alta velocidade provocados por buracos negros quando o universo ainda era jovem. Eventos como este são muito raros, por isso podem explicar a existência de galáxias tão especiais. Mas se os cientistas encontrarem mais “vamos ter de pensar numa nova teoria que explique como se formaram”, conclui o astrofísico.

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