Várias instituições culturais de Paris estão a assinalar os 50 anos do Maio de 68, entre as quais a Cinemateca Francesa, a Universidade Paris-Nanterre, o Centro Pompidou e as Belas-Artes de Paris.

Ao longo do ano, vão decorrer várias iniciativas em torno da revolta estudantil e operária, que também vão mobilizar o Théâtre Nanterre-Amandiers, a Cité de l’Architecture et du Patrimoine, os Arquivos Nacionais, a Biblioteca Nacional de França e o Palais de Tokyo.

A Universidade Paris-Nanterre, que esteve parcialmente ocupada desde a semana passada pelos estudantes que se opõem à reforma do acesso ao ensino superior, apresenta uma programação até outubro sob o tema “1968-2018 Prop’osons! [Proponhamos!]”.

A 4 de maio, a universidade vai ser palco de um colóquio internacional em torno do título “Global 68 — Solidarity in Alliances and Global History” [“68 Global — Solidariedade nas Alianças e História Global”], depois de várias conferências, realizadas em 22 de março, a data que, há 50 anos, marcou o arranque do movimento com a ocupação do ‘campus’ por uma centena de estudantes.

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No Théâtre des Amandiers, em Nanterre, o destaque do programa “Mundos Possíveis” vai para o espetáculo “Re-Paradise”, de Gwenaël Morin, de 4 a 26 de maio, uma reinterpretação de “Paradise Now” que a ‘trupe’ norte-americana The Living Theater levou a Avignon, em 1968.

“Mundos Possíveis” conta, também, com instalações, espetáculos ao ar livre, conferências sobre teatro, concertos, filmes e peças coreográficas, em colaboração com o Centro Cultural Suíço de Paris, a Universidade Paris Nanterre e o Centro Nacional das Artes Plásticas.

O espaço ‘La Terrasse’, em Nanterre, tem patente até 26 de maio a exposição coletiva “1968/2018, Das metamorfoses à Obra”, com trabalhos, por exemplo, dos realizadores Jean-Luc Godard e Chris Marker. Até 3 de maio, a Cinemateca Francesa vai continuar a projetar filmes que foram apresentados na primeira Quinzena de Realizadores de maio de 1969, uma secção alternativa e paralela ao Festival de Cannes, que tinha sido suspenso em 1968.

Das cem curtas e longas-metragens de novos cineastas — que iam da ‘Nouvelle Vague’ francesa ao Cinema Novo brasileiro — a Cinemateca Francesa está a exibir 65, entre as quais “O leito da virgem”, de Philippe Garrel, “Barravento”, de Glauber Rocha, “Brasil ano 2000”, de Walter Lima Jr., “Partner”, de Bernardo Bertolucci, “Une Femme Douce”, de Robert Bresson, “Pauline s’en Va”, de André Téchiné, e “Duo Pour Cannibales”, de Susan Sontag.

A Cinemateca Francesa vai, ainda, apresentar a exposição “Chris Marker, As Sete Vidas de um Cineasta”, de 03 de maio a 29 de julho, acompanhada por uma retrospetiva integral dos filmes deste realizador, escritor, fotógrafo e documentarista, nome da ‘Nouvelle Vague’ e da corrente ‘Rive Gauche’, que desenvolveu a ligação do cinema a outras artes.

De 28 de abril a 20 de maio, o Centro Pompidou vai acolher exposições, debates, performances, projeções e ateliês sob o título “Maio 68 — Assembleia Geral” e, de 30 de abril a 18 de maio, a instituição vai ser palco de um ciclo de 12 miniconferências sobre o tema “Para uma história de 68”.

Até 20 de maio, o Palácio das Belas-Artes de Paris tem patente a mostra “Imagens em Luta. A cultura visual da extrema-esquerda em França (1968-1974)”, com mais de 800 cartazes, folhetos e outras publicações do Maio de 68, que foram na altura aí realizados no Atelier Popular.

“A beleza está na rua”, “Nós somos o poder”, “Dizer não é pensar” são algumas das palavras de ordem da exposição que remonta aos dias em que “a arte [estava] ao serviço do povo” e era “proibido proibir”. A exposição vai ser acompanhada, de 12 a 20 de maio, por conferências, performances e outra exposição de jovens artistas.

No Palais de Tokyo, a partir de 4 de maio, vai ser visível, numa das fachadas, a pintura monumental da artista espanhola Escif, que vai reproduzir alguns dos ‘slogans’ das revoltas estudantis de Maio de 68, enquanto os andares inferiores da instituição vão ser intervencionados pelo artista francês Paul Loubet.

De 16 de maio a 16 de setembro, a Cité de l’Architecture et du Patrimoine vai ter patente a exposição “Mai 68, l’architecture aussi!” [“Maio de 68, a arquitetura também”], sobre os anos 1962-1984 que viram “a renovação do ensino acompanhar a renovação da arquitetura e do urbanismo”.

A Cité de l’Architecture é, ainda, palco de um colóquio internacional sobre “1968 e a formação dos arquitetos. Perspetivas internacionais”, a 15 e 16 de maio, e de projeções e debates, a 24 de maio e a 6 de junho, em torno da fotografia e de maio de 68.

Sob o tema “68, os arquivos do poder”, os Arquivos Nacionais vão expor “A Autoridade em crise”, de 3 de maio a 17 de setembro, em Paris, e “As Vozes da Contestação”, de 24 de maio a 22 de setembro, em Pierrefitte-sur-Seine, nos arredores da capital.

Nas duas mostras, vão ser apresentados mais de 400 documentos oriundos da polícia e dos serviços administrativos da época e também oriundos da rua, como cartazes e imagens audiovisuais guardadas pela polícia, militantes ou investigadores.

De 17 de abril a 26 de agosto, a Biblioteca Nacional de França vai ter patente os “Ícones de Maio de 68: as imagens têm uma história”, numa exposição que questiona a construção mediática da memória visual coletiva. A 17 de maio, a exposição vai ser acompanhada por uma jornada de estudos intitulada “os mundos de 68” e, a 16 de junho, vai haver debates com testemunhas da época. De 4 de maio a 28 de julho, o Hôtel de Ville vai expor “Paris 1968”, com cerca de 300 fotografias do célebre fotojornalista do maio de 68 Gilles Caron (1939-1970).