O ex-Presidente timorense José Ramos-Horta recusou responder este sábado às críticas recentes de que tem sido alvo sobre o seu papel na luta pela libertação de Timor-Leste, afirmando que só está preocupado com o futuro do país.

“Eu não fiz mais do que ninguém. Talvez fiz o mínimo, o menos de todos. Os que, do outro lado, têm falado na história, devem-se acalmar porque não reclamo rigorosamente nada”, afirmou à Lusa, à margem de uma ação de campanha para as legislativas antecipadas de 12 de maio em Madabeno, a 25 quilómetros a sul de Díli.

“Se acham que a frente diplomática representada por mim, Mari Alkatiri e outros não fez nada, que fique assim. O debate terminou. Eu não tenho problema nenhum. Não estou nesta campanha para vir a ser ministro ou presidente ou primeiro-ministro. O que me preocupa é o curso e a trajetória do pais. Há muito a corrigir”, sustentou.

Fundador da Fretilin, José Ramos-Horta foi durante décadas o rosto internacional da luta contra a ocupação indonésia, papel pelo qual recebeu em 1996 – e conjuntamente com o então administrador apostólico de Díli – o Prémio Nobel da Paz.

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Desde o inicio da campanha, em que pela primeira vez em décadas voltou a vestir, literal e politicamente, a camisola da Fretilin – está no atual Governo como ministro de Estado – Ramos-Horta tem sido alvo de críticas dos dirigentes e militantes da oposição.

Os líderes e militantes da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), incluindo Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak, têm marcado parte do seu discurso por duras críticas à Fretilin, a Ramos-Horta e a Mari Alkatiri, secretário-geral do partido.

Muitos dos comentários referem-se ao passado da luta contra a ocupação indonésia e pela independência de Timor-Leste, com tentativas de alguns dirigentes de politizarem os diferentes braços da resistência: armada, clandestina e diplomática.

“Aqueles que usam linguagem muito agreste, já com ataques pessoais, talvez estejam muito nervosos com a possibilidade real de perderem. Provavelmente é isso. E isso não os ajuda”, considerou.

“O povo observa quem são os líderes que agem com serenidade, elegância, sem ataques pessoas. Esse povo não gosta de líderes que usam linguagem de confrontação e ataques”, considerou.

Os timorenses podem gostar mais de um líder ou de outro, mas respeitam todos, “sem hostilidade a nenhum” e “quando um ou outro faz ataques pessoais, negando o papel de um outro, isso não cai bem no eleitorado, sobretudo no eleitorado jovem”.

“Perante ataques pessoais, batem-me numa face, dou a outra. Continuo a respeitar imenso Xanana Gusmão e não podemos negar o seu imenso contributo para a luta e para os últimos 15 anos”, afirmou.

“Temos diferenças de abordagem em relação à governação e ao futuro do país, e acredito no futuro do país. Não sou anti-CNRT ou anti-Xanana. Continuarei, mesmo sendo alvo de ataques, a falar com todo o respeito e admiração por Xanana Gusmão”, afirmou.

Sem comentar em concreto as acusações, Ramos-Horta lamenta os comentários que considera “pouco pedagógicos”, considerando que “supostamente os líderes devem dar o exemplo”, ensinando os mais jovens”.

Jovens que, garante, “querem programas, querem ver esperanças de melhorar as suas vidas, de ver o seu futuro melhor” ou, então, nas zonas mais isoladas do país, que “querem água limpa para a aldeia, eletricidade onde não há, escolas mais perto, investimento na agricultura para poder ter mais comida para as crianças”.

“Só pedem isso. Não estão muito preocupados com o gasoduto, se vem para Timor ou não. Não participam nesse debate, não estão muito preocupados com grandes visões. Pedem coisas simples”, afirmou.

Ramos-Horta rejeita ainda as críticas da AMP à Fretilin “como se o partido tivesse governado” quando foi o CNRT, agora na coligação, que liderou o executivo nos últimos 10 anos, com a Fretilin a dar apoio para “viabilizar” o executivo.

“Mostrou sentido de Estado. Foi o que fez. Agora de repente fazem esse ataque feroz à Fretilin, como se tivesse a governar estes 10 anos. Mas afinal quem governou 10 anos?”, questiona.