Até aqui, Donald Trump alegara sempre desconhecimento: dizia que não sabia que o seu advogado Michael D. Cohen pagara 130 mil dólares (quase 110 mil euros) à atriz pornográfica Stephanie Clifford para evitar que ela revelasse um caso que tivera com “The Donald” (que o presidente negava) e dizia ainda que “não sabia” de onde vinha o dinheiro. A partir desta quinta-feira será impossível fazê-lo: numa entrevista dada esta quarta-feira à Fox News, Rudolph W. Giuliani, um dos advogados do presidente, afirmou que Trump “não conhecia os detalhes” do acordo na altura em que foi celebrado — e não saberia dele até muito recentemente — mas não só o ficou a conhecer como reembolsou o advogado pelo pagamento, que Cohen sempre disse ter feito a título pessoal.

Algum tempo depois do fim da campanha eleitoral, eles acordaram um reembolso”, disse Giuliani, acrescentando que Trump terá pago “35 mil dólares por mês, da sua conta pessoal familiar”. Os pagamentos terão superado os 450 mil dólares (cerca de 375 mil euros), alegadamente por Cohen ter assumido outras “despesas adicionais ou inesperadas” do presidente dos EUA.

A declaração, aparentemente prejudicial ao presidente norte-americano, foi na verdade feita para o defender das acusações de violação das regras de financiamento de campanhas eleitorais que vigoram no país. Provando-se que essa violação existiu e aconteceu com “o conhecimento e vontade” do candidato, poderia constituir crime (lembra o The New York Times).

Desde que o pagamento foi tornado público pela atriz pornográfica Stephanie Clifford (Stormy Daniels de nome artístico) e pelos seus representantes legais que se discute se este deve ou não ser considerado financiamento eleitoral. Se sim, os 130 mil dólares (ainda por cima, não declarados nas contas de campanha) excedem os limites de doação individual estabelecidos, embora esses limites não se apliquem a investimentos próprios do candidato — daí o argumento de que o reembolso de Trump protege-o da acusação.

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Apesar dos advogados do presidente norte-americano reiterarem que não foram utilizados fundos de campanha para proceder ao pagamento à atriz, aferir se os 130 mil dólares podem ou não ser considerados financiamento eleitoral depende em grande medida da resposta a uma questão, aponta o jornal norte-americano: o pagamento foi ou não foi feito “especificamente para ajudar a campanha de Trump”, evitando o impacto negativo que a revelação do caso poderia ter na candidatura?

Para Paul S. Ryan, um responsável da organização Common Cause (que supervisiona decisões e políticas governamentais), a pergunta tem uma resposta óbvia: “Todos os factos indicam que o pagamento foi feito com o fim de influenciar a eleição. Até esta noite, era difícil de provar [que se tratou de financiamento à campanha] porque Donald Trump negou sempre estar a par do pagamento. O reembolso, porém, prova que o conhecia”, afirmou Ryan, citado pelo The New York Times.

Trump: atriz fez “acusações falsas e extorsionárias”

O presidente norte-americano já reagiu, alegando que o valor pago ao seu advogado pelo silêncio da atriz pornográfica Stormy Daniels correspondia a uma avença mensal e assegurando que não foi usado qualquer dinheiro da campanha eleitoral.

Donald Trump escreveu no Twitter que o seu advogado Michael Cohen recebia uma avença mensal através do qual pagava “um contrato privado entre duas partes, conhecido como acordo de confidencialidade” e que era usado para impedir “as acusações falsas e extorsionárias” da atriz sobre a relação que mantiveram.