“Reuniões como a que o BAD [Banco Africano de Desenvolvimento] vai realizar na Coreia do Sul providenciam aos governos dos países africanos uma oportunidade para debater os assuntos mais importantes para o desenvolvimento de médio e longo prazo das suas nações”, disse Helena Afonso, analista económica com pelouro de África nas Nações Unidas, à Lusa, antecipando os temas em debate na reunião dos governadores do BAD, que começa segunda-feira em Busan, na Coreia do Sul.

O “fomento da inovação na indústria, o desenvolvimento da agricultura ou a mobilização de recursos domésticos” são alguns dos temas destacados pela economista, que salienta também o facto de as reuniões incluírem “representantes da sociedade civil, académicos e setor privado”.

A reunião dos governadores do BAD tem como tema “Acelerando a Industrialização de África”, e decorre num contexto de crescimento fraco no continente e de dívida pública excessiva, que aliás foi um dos temas em destaque nos Encontros da Primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, e que é também vincado por Helena Afonso.

“O crescimento das economias em África neste e no próximo ano deverá situar-se nos 3,6% e 3,9%, respetivamente, apoiado num aumento dos preços das matérias-primas e maior crescimento global, mas este ritmo de crescimento encontra-se bastante abaixo dos níveis necessários para erradicar a pobreza extrema, conforme estipulado no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 1 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, salienta a economista.

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Entre as principais tarefas urgentes para a generalidade dos países africanos está “aumentar o potencial de crescimento do médio prazo. Urge também atender às vulnerabilidades que se estão a formar em muitos países, sobretudo no que se refere à dívida pública, e atender às várias crises humanitárias no continente”, concluiu a analista económica responsável por África nas Nações Unidas.

A dívida pública nos países africanos tem subido de forma significativa nos últimos anos, tendo atingido, em média, um rácio de 50% face ao PIB, o que é considerado demasiado elevado face às necessidades de despesas de investimentos em infraestrutura na generalidade destes países. Os Encontros Anuais, seguindo o modelo dos Encontros da Primavera do FMI e do Banco Mundial, são uma das maiores reuniões económicas do continente, juntando chefes de Estado, acionistas de referência no setor público e privado e académicos e parceiros para o desenvolvimento.

O BAD tem projetos em curso nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) de mais de 2 mil milhões de dólares, segundo números desta entidade, devendo usar as reuniões para avançar no projeto de criação de um instrumento de financiamento específico para os países lusófonos africanos.