Os bancos nacionais eliminaram um quinto dos créditos problemáticos dos seus balanços ao longo de 2017, para 37 mil milhões de euros, indicou o Banco de Portugal no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) divulgado esta quarta-feira. Para a autoridade monetária, esta é uma redução “muito significativa” desse fardo que penaliza a rentabilidade dos bancos e é um dos principais, senão o principal, risco para a estabilidade do sistema. Por isso mesmo, o Banco de Portugal defende que o esforço tem de continuar, aproveitando as condições mais favoráveis com juros baixos e investimento estrangeiro em Portugal.
Além de avançar com o valor de créditos em incumprimento — 37 mil milhões no final de 2017 –, o Banco de Portugal explica, também, com números, como é que a redução de 9,3 mil milhões foi conseguida.
Limpeza superior a 9 mil milhões
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Os 9,35 mil milhões de euros que os bancos “limparam” dos seus balanços representam o maior valor nos últimos anos. No final de 2015, o crédito malparado da banca portuguesa ascendia a quase 50 mil milhões, um valor que caiu entretanto para 37 mil milhões.
Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal (junho 2018)
O fator principal foi o volume de empréstimos abatidos ao ativo, isto é, a utilização de capital para reconhecer perdas — isso foi possível, em grande parte, graças aos reforços de capitais em bancos como o Caixa Geral de Depósitos, o MillenniumBCP e o Montepio. Por outras palavras, o capital entra, mas é consumido pela contabilidade, que os regista como valores que provavelmente não serão recuperáveis (o write off).
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Também teve um impacto importante a venda de carteiras de ativos problemáticos a outros investidores, incluindo o “empacotamento” de vários créditos em produtos titularizados. Os bancos conseguiram, também, recuperar alguns valores que tinham sido registados como crédito em risco mas que acabaram por ser recuperados — isso verificou-se, sobretudo, no segmento dos particulares.
Registo de imparidades e vendas de ativos ajudam a “limpar a casa”
Com estes efeitos, a banca portuguesa conseguiu baixar o rácio de crédito malparado — os non performing loans, ou NPL — para 13,3%, o que é um valor significativamente inferior aos 17,2% no final de 2016 mas que continua a ser um rácio elevado. “É fundamental que os bancos portugueses continuem a cumprir os planos de redução de NPL submetidos às autoridades de supervisão, o que os colocará numa posição mais favorável para aceder aos mercados financeiros internacionais”, salienta o Banco de Portugal no relatório.
Onde é que continua a haver crédito em falta?
A situação dos bancos é “muito heterogénea”, diz o Banco de Portugal, mas o grau de exposição das várias instituições aos diferentes setores de atividade económica tem algumas semelhanças. Os bancos não só operam nos mesmos setores como, muitas vezes, têm os mesmos clientes — e é por isso que foi criada a plataforma (de iniciativa privada) entre um conjunto de instituições para tentar gerir, da melhor maneira possível, os processos em que um mesmo devedor está em risco nos créditos a mais do que um banco.
O Banco de Portugal estima que, “em 2017, a redução do rácio de NPL no segmento das sociedades não-financeiras, conjugada com o reforço do rácio de cobertura de NPL por imparidade, tenha sido transversal às pequenas e médias empresas e às empresas de maior dimensão“.
As atividades imobiliárias e a construção, ainda que continuem a ser os setores com maior peso de crédito em incumprimento, foram, também, aquelas onde houve uma redução mais veloz entre 2016 (losango amarelo) e 2017 (losango azul escuro).
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