O seu concerto era um dos concertos a não perder do segundo dia do NOS Primavera Sound 2018. Vince Staples, rapper de 24 anos de Compton (a cidade de Kendrick Lamar, Ice Cube, Dr. Dre, Eazy E, DJ Mustard e dos N. W. A.) não desiludiu, fez do palco principal do festival uma discoteca de rap a céu aberto e mostrou que o presente e futuro deste género musical passa em grande parte pelo seu percurso.

Envergando a indumentária que usa habitualmente em concertos, um colete cujo significado está a ser discutido na internet, Vince Staples entrou em palco confiante e com energia, cantando um novo tema lançado há apenas três meses: “Get the Fuck Off My Dick”. O público foi rapidamente conquistado pelo seu registo, uma mistura muito própria de batidas e rimas de rap com beats eletrónicos que se ouviram no volume certo (alto, é claro).

Muito conhecido pela sua atitude crítica sobre quase tudo, da América à própria cultura hip hop, Vince Staples é um talento em bruto que conta já com dois álbuns de grande nível no currículo: Summertime ’06 e Big Fish Theory. Foram os temas dos dois discos que Staples apresentou esta sexta-feira no Porto, com destaque para interpretações exímias, muito aplaudidas, de “Big Fish” e “745”. “It’s all beautiful, man”, isto está lindo, dizia ele ao ver os saltos na plateia.

Enquanto Staples ia cantando, saltando e dançando em palco, atrás de si um ecrã ia apresentando imagens e pequenos vídeos escolhidos criteriosamente para acompanhar tema. Viu-se por exemplo Muhammad Ali a lutar no ringue e Martin Luther King a marchar num protesto enquanto Staples cantava “Homage” (com versos como “These niggas won’t hold me back” e  “I’m too cultured and too ghetto / If you knew better you’d do better”). Mas também imagens de notas numa canção profundamente crítica do rumo da América, “BagBak”, editada antes de Donald Trump ser presidente e em que Staples canta “Obama ain’t enough for me / we’re only getting em started”. Em português, significa algo como: “ter o Obama não me chega, estamos só no início.”

Se o progresso da América de então para cá é pelo menos discutível, no caso de Vince Staples a expressão aplica-se na perfeição: ele estava e está só a começar mas aos 24 anos já é um músico com um registo singular. Num género musical tão popular e com tantos artistas, ter uma voz própria que já se reconhece e distingue de outras não é coisa pouca. Apurando os dotes musicais e performativos, não seria surpreendente se daqui por dois ou três anos fosse ele um dos cabeças de cartaz do festival em que em 2018 foi revelação.

Nota – Vince Staples não quis ser fotografado no Porto

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR