O Tour está prestes a começar e Chris Froome já teve de enfrentar o primeiro obstáculo em terras gaulesas: o ciclista britânico foi recebido com assobios por parte do público que assistiu à apresentação das equipas, na passada quinta-feira, depois de ver divulgada a decisão da UCI/AMA de ilibá-lo do controlo positivo por excesso de salbutamol na Vuelta de 2017. Chris Froome foi apupado logo ao subir a rampa de acesso ao palco, com uma vaia e impropérios a serem proferidos em maior tom quando o mestre de cerimónias passou a palavra ao líder da Sky.

Chris Froome confirma quarta vitória no Tour, mas ainda é um campeão à procura de sair da sombra

“Obviamente, vamos dar tudo por tudo este ano”. Foi esta a única frase proferida pelo britânico, que venceu quatro das últimas cinco edições do Tour, mas que não se livrou das hostilidades de um público francês habituado a lidar com casos de consumo de doping (veja-se o caso de Alberto Contador, também ele vaiado). “Vai para casa, batoteiro”, podia ler-se num cartaz escrito em inglês por um espetador que fez questão de se deslocar até Vendée, localidade de onde se dará o início da prova, no sábado.

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No Twitter, o líder da Sky não comentou a forma como foi recebido pelo público francês, preferindo destacar os dez anos de carreira profissional que conta nas pernas e o que pode conquistar no ano de 2018. “Regresso à apresentação do Tour de há dez anos. Nunca imaginei estar de volta para defender o título e chegar à quinta vitória, dez anos depois!”, escreveu Chris Froome na rede social.

Em entrevista à Eurosport, o britânico admitiu que a despenalização por parte da UCI/AMA foi “um enorme peso tirado dos ombros”. “Naturalmente, foi um período muito difícil. É a pior coisa de que podes acusar qualquer atleta. Para mim, para a minha família e para os meus companheiros foi muito complicado. Mas é fantástico ultrapassar esta fase”, explicou Froome.

Já Nairo Quintana, da Movistar, fez questão de comentar as assobiadelas recebidas por Froome, encarando-as com alguma naturalidade. “Ser assobiado pelo público nunca é agradável, mas, às vezes, colhe-se o que se semeia”, atirou o colombiano, corroborado pelo companheiro de equipa Alejandro Valverde: “É uma pena que estas coisas aconteçam, mas todo estavam cientes de que isso poderia acontecer”, admitiu. Ainda assim, o espanhol preferiu apontar baterias ao que realmente importa. “Sábado começa a prova e é disso que devemos falar. É preciso falar de ciclismo e não de coisas antidesportivas”, atirou.

E nem um relatório detalhado da alimentação de Froome parece ser suficiente para convencer o público da sua inocência. Isto porque, dias antes da receção hostil ao ciclista britânico, a Sky havia divulgado o esquema de treinos do seu chefe de fila durante o Giro, assim como o esquema de nutrição utilizado na última prova italiana, que Froome ganhou. A Sky centrou-se na etapa 11, um percurso relativamente plano e sem grandes objetivos ou dificuldades para o britânico, e na etapa 19, essa, sim, mais importante: Froome atacou durante mais de 80 quilómetros e acabou por vencer na derradeira chegada ao alto, em Bardonecchia.

Froome foi absolvido do caso de doping e poderá fazer a Volta a França

Segundo os dados enviados pela Sky à BBC Sport, as diferenças sentidas na alimentação de Froome entre as duas etapas são abismais, com o britânico a consumir quase o triplo de calorias na etapa 19 (6.663 kcal), sendo metade da alimentação feita depois de a etapa terminar. Ainda assim, por mais calorias que o chefe de fila da Sky ingira antes, durante, ou depois deste Tour, há uma gordura da qual já não se livra: os assobios de quem não concorda com a sua presença na Volta a França.  

Froome venceu quatro das últimas cinco edições do Tour e aproveita a despenalização da UCI/AMA para ir em busca do quinto título

Confira o plano de alimentação de Chris Froome:

Etapa 11

– Pequeno almoço (524 kcal)

– Durante a etapa (981 kcal)
3 bidões de água, 5 barras de gel e 5 tostas de arroz

– Recuperação (516 kcal)
Arroz e frango, acompanhado de água

– Jantar (445 kcal)
À base de arroz e proteína

– Total do dia: 2.466 kcal
(407 gramas de hidratos, 139g de proteína e 32g de lípidos)

Etapa 19

– Pequeno almoço (996 kcal)
200ml de sumo, 400 gramas de arroz, omelete (3 claras e 1 gema), 4 panquecas com compota e chá verde com mel

– Durante a etapa (2.348 kcal)
14 géis, 4 tostas de arroz e 2 Beta Fuel, da SIS

– Recuperação (2.348 kcal)
70g de smoothie de recuperação, Haribo (gomas), 400 gramas de arroz e quatro pedaços de banana

– Jantar (971 kcal)
Arroz e alguma proteína

– Total do dia: 6.663 kcal
(1305g de hidratos, 143g de proteína e 88g de lípidos)