Jerónimo de Sousa criticou duramente o PS por ter aprovado uma proposta de reforma laboral que os comunistas consideram “inaceitável e injusta.” O secretário-geral do PCP lembrou que os socialistas precisaram de contar com a abstenção da direita para conseguirem ver aprovado o acordo a que chegaram em sede de concertação social, onde já não tinham contado com o apoio do braço sindical comunista, a CGTP.

“Com esta proposta, o trabalhador pode trabalhar 10 horas por dia, 50 por semana ou 150 por ano sem receber qualquer compensação por isso”, lembrou Jerónimo de Sousa para criticar o facto de o PS ter voltado as costas “aos trabalhadores.” Apesar de ter afastado a ideia de que este desacordo venha a afetar as negociações com a esquerda para o Orçamento de Estado, o líder do PCP não se inibiu nas críticas ao Executivo de António Costa, a quem apontou o dedo por estar, com isto, a “legitimar a precariedade”. Responsabilizou os socialistas e avisou que não vai largar o osso facilmente: “Este é um combate inacabado e o PCP vai estar nessa luta”, garantiu.

Reforma laboral aprovada com ajuda da direita. Mas PS ficou isolado no voto a favor

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Questionado sobre o Orçamento do Estado, Jerónimo de Sousa salientou que o PCP “sabe separar as coisas” e voltou a mostrar confiança na solidez da geringonça. “O processo está a ser encetado e não existe nenhuma proposta concreta.” Depois do verão, logo se verá.

BE dá segunda oportunidade ao PS

Do lado dos bloquistas, as críticas dirigidas ao Governo foram semelhantes às do PCP, embora tenha havido mais panos quentes nas acusações. O deputado José Soeiro lamentou que o PS tenha votado ao lado da direita mas lançou um derradeiro desafio aos socialistas para voltarem atrás e reverterem as medidas hoje aprovadas, lembrando que já nesta quarta-feira o PS “aprovou documentos positivos ao lado do PCP e do BE” sobre matéria laboral.

“O PS tem de assumir que quer voltar a trazer a discussão para a especialidade”, sinalizou. José Soeiro deu a entender que o Bloco de Esquerda está disposto a deixar aberta a porta aos socialistas. Em modo de ultimato, o deputado lembrou que o PS ainda tem uma oportunidade para se arrepender e dirigiu-se diretamente aos socialistas: ou voltam “a contar com uma maioria feita à direita” ou preferem, “com a esquerda, anular as medidas que contratualizaram com os patrões.”

Do lado do PS, não houve resposta clara. Carlos César tentou relativizar o facto de não ter havido entendimento com os parceiros de esquerda. “Houve até várias medidas que o PS votou ao lado de PCP e Bloco de Esquerda”, recordou. O líder parlamentar socialista falou aos jornalistas no fim do plenário mas não revelou se o partido quer seguir pela passadeira que o Bloco de Esquerda parece estar disposto a estender. E aproveitou a oportunidade para tentar amenizar os ânimos: “nós não temos uma aproximação preferencial com o PSD”. No entanto, foi com a bancada laranja que os socialistas conseguiram aprovar medidas com que a esquerda não concordava – como no caso da descentralização ou da reforma laboral. “O PSD é que se chegou à frente”, justificou-se Carlos César. 

As alterações laborais vão agora descer à discussão na especialidade, onde podem vir a sofrer modificações. Mas o PSD já avisou: se houver alterações substanciais àquilo que foi esta tarde aprovado no hemiciclo, o voto dos sociais-democratas pode mudar e fazer cair a reforma laboral. Para onde se vai virar então o PS?