Há uma série de modelos da BMW que podem, sem qualquer intervenção do condutor e por vezes mesmo depois de estarem estacionados, começar a arder. Só este ano já arderam 30 veículos na Coreia do Sul, onde 100.000 veículos já foram chamados às oficinas, sendo que na Europa o processo envolve 323.700 unidades, das quais 2.359 circulam em Portugal.

O caso não é novo, mas só agora se tornou do conhecimento público, sobretudo no mercado europeu. Desde 2016 que os técnicos da BMW andavam às voltas com os incêndios que, por vezes, deflagravam em alguns dos seus veículos equipados com motores turbodiesel. Mas de início, o reduzido número de casos, aliado ao facto de o fogo destruir a quase totalidade do veículo, dificultava a análise e o consequente apurar das origens. Até Junho deste ano, quando foi possível finalmente perceber que o problema estava relacionado com o dispositivo de recirculação de gases de escape (EGR).

Qual é o problema?

O EGR é um sistema que visa diminuir as emissões de óxidos de azoto (NOx) pelo motor. Capta uma parte dos gases de escape à saída do motor, refrigera-os e volta a introduzi-los na câmara de combustão, com o objectivo de baixar a temperatura e, com ela, reduzir as emissões de NOx.

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Sucede que nos EGR dos motores 2.0 turbodiesel de quatro cilindros (fabricados de Abril de 2015 a Setembro de 2016) e 3.0 turbodiesel de seis cilindros (produzidos entre Julho de 2012 e Junho de 2015), existe a possibilidade de uma fuga do líquido de refrigeração, uma mistura de água e glicol, um álcool utilizado para reduzir a sua temperatura de congelação. O glicol acumulado no EGR entra em contacto com resíduos de carvão e óleo, a temperaturas muito elevadas, que facilmente começam a arder, rapidamente transformando o carro numa bola de fogo.

Qual é a dimensão do problema?

Na Europa há 323.700 BMW equipados com o sistema de EGR que pode dar problemas, sendo que só na Alemanha há 96.000 veículos problemáticos que vão ser chamados à oficina, número que em Portugal baixa para 2.359 unidades. Nem todos irão arder, mas todos eles incorrem nesse risco, sendo agora uma questão de sorte, ou melhor dizendo, de azar.

Azar é também o facto de a BMW alemã, que é quem está a investigar o problema e a desenvolver a solução, pouco ou nada dizer às suas representantes nos diversos países. Aos poucos informou que os veículos equipados com motores em que há risco de incêndio são os Série 3, Série 4, Série 5, Série 6 e Série 7, além dos X3, X4, X5 e X6, tendo a meio da tarde de hoje avançado com o número de unidades defeituosas a circular em Portugal (2.359).

Amanhã deverão ser conhecidos os modelos envolvidos no lote português de BMW em risco, estando previsto que até 6ª feira a BMW Portugal saiba (e informe a rede de assistência) quando se iniciarão as chamadas à oficina, para reparação, bem como o tipo de intervenção que vai ser necessária, sendo que oscilará entre uma e três horas, obviamente sem custos para o cliente.

O que aconteceu nos outros países?

Regra geral, também nos restantes países europeus a informação é pouca e chega a conta-gotas. O que no mínimo é estranho, para um problema que anda a ser estudado há dois anos.

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O caso em relação ao qual existe mais informação é o sul-coreano, mercado onde este problema foi detectado inicialmente (maioritariamente em BMW 520d). Com pelo menos 27 carros incendiados desde Janeiro, a situação originou grande polémica, especialmente depois de ser público que a BMW sabe qual é a origem do problema desde Junho.

Na segunda-feira, numa conferência de imprensa em Seul, o vice-presidente da BMW para a qualidade, Johann Ebenbichler, garantiu que o problema não era específico da Coreia do Sul e que também afectava unidades comercializadas na Europa. De seguida e confrontado com acusações de a BMW ter atrasado a divulgação do problema, Ebenbichler acabaria por pedir desculpa, em nome da BMW, pelo “alegado” atraso.

Quem não foi em cantigas foram as autoridades sul-coreanas que, independentemente da solução a implementar pelo fabricante, decidiram avançar com uma investigação para perceber até que ponto a BMW atrasou a divulgação da avaria e das suas consequências.

Os carros problemáticos devem parar?

Foi exactamente esta a questão que colocámos à BMW Portugal, em relação à qual não obtivemos resposta. É certo que das 2.359 unidades comercializadas em Portugal que apresentam risco de incêndio, apenas uma pequena percentagem irá ter algum problema, mesmo se não houvesse recall. Basta ver que na Coreia do Sul, onde há 100.000 unidades com risco de incêndio, “apenas” 30 arderam este ano e, desde 2012, o número ficou muito aquém das 100 unidades, o que fazendo a proporção aponta para a possibilidade de arderem no nosso país menos de dois automóveis. A questão é que certamente não haverá condutores interessados em que o seu BMW passe a ser uma estatística.

Enquanto a marca não decide como aconselhar os seus condutores, durante as semanas (e vão ser várias) que vão mediar até o problema estar resolvido nos 2.359 veículos, o melhor mesmo é parar o carro. E mesmo depois deste problema estar resolvido, não será de surpreender que a marca alemã tenha de lidar com os clientes que, por motivos vários, viram os seus BMW arder, que certamente não vão deixar de responsabilizar o fabricante, contando que os seus veículos estejam abrangidos pelo recall devido ao risco de incêndio associado ao EGR.