A noite estava escura em Cabo Canaveral à hora do lançamento da Sonda Solar Parker. Eram 3h31, mais cinco horas em Lisboa, quando o foguetão Delta IV Heavy descolou.

Faltavam 10 segundos para o lançamento, mas o som e vibração dos propulsores mal deixaram ouvir a contagem decrescente. Pouco depois o clarão da explosão — de força para a descolagem, não de falhanço — e o foguetão afastava-se da estrutura que o tinha suportado até aqui.

O som dos propulsores manteve-se bem audível durante os primeiros minutos — mesmo para quem só estava a ver o lançamento à distância — até o foguetão não ser mais do que um ponto brilhante no céu.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As 24 horas que os técnicos ganharam com o adiamento do lançamento da sonda permitiu resolver os problemas técnicos detetados. O foguetão e a sonda continuam a ser vigiados ao minuto para garantir que tudo está a correr conforme planeado.

A cada minuto o funcionamento dos três propulsores ia sendo vigiado. Sem a força deste foguetão, seria impossível colocar a sonda no caminho certo até ao Sol. É preciso 55 vezes mais energia para lançar a sonda para o Sol do que para Marte.

Delta IV Heavy seguiu o trajeto esperado e ao fim de pouco mais de um minuto, o foguetão tinha atingido a velocidade do som. Graças à força de propulsão, pouco depois dos dois minutos e meio o foguetão pesava metade do que se estivesse na Terra.

A United Launch Alliance, responsável pelo foguetão Delta IV Heavy, preparou uma animação com o que vai acontecer em cada momento do lançamento e na viagem da sonda pelo espaço:

Ainda antes dos quatro minutos, o foguetão desligou e libertou dos dois motores laterais, colocou o motor central na potência máxima e seguiu viagem. Neste momento, o foguetão estava a gastar cerca de 1.190 litros de combustível por segundo, viajava a 24.750 quilómetros por hora e atingia os 138 quilómetros de altitude.

Depois dos cinco minutos, o combustível do motor esgotou-se e a primeira etapa da viagem completa-se com a libertação do motor que deixou de funcionar. Mas o foguetão e a sonda ainda têm outros recursos.

O motor da segunda ligou-se e, poucos segundos depois, a cápsula que envolvia a sonda libertou-se. Cada vez mais leve — com menos de 5% do peso aquando a descolagem — a viagem continua.

Pouco antes dos 40 minutos, a sonda libertou-se de todas as estruturas que a ajudaram na viagem exceto do motor da terceira etapa, a peça que faltava para que possa realmente contrariar o movimento da Terra em torno do Sol e dirigir-se para a estrela. Uma propulsão potente de um minuto e a missão deste motor chegou ao fim, libertou-se da sonda.

A Sonda Solar Parker segue a viagem de seis semanas em direção a Vénus que a vai ajudar a abrandar a velocidade e ajustar a rota em direção ao Sol. Por agora está garantido que consegue abrir os painéis solares que lhe vão fornecer parte da energia que precisa.

“Tenho de deixar de roer as unhas por causa do lançamento e começar a pensar em tudo o que se vai descobrir que eu ainda não sei”, disse Eugene Parker, o físico que descreveu os ventos solares pela primeira vez e que deu o nome à sonda. “Tudo o que posso dizer é: Uau!”

Aos 91 anos, é o primeiro lançamento que Eugene Parker tem oportunidade de assistir ao vivo. “É como o Taj Mahal. Toda a gente já o viu em fotografias. Mas quando estamos lá é que percebemos que as fotografias e vídeos não captam tudo.”

Para saber mais sobre o objetivo da missão da Sonda Solar Parker e sobre a tecnologia que teve de ser desenvolvida:

Uma “viagem à Terra do Nunca”, mas muito mais quente. 7 respostas para saber porque queremos ir ao Sol?

(Artigo atualizado às 9h45 com mais informação)