A queda da ponte Morandi, em Génova, em Itália, na passada terça-feira, provocou 43 mortos e fez soar os alarmes do país em relação ao estado de conservação das infraestruturas e a necessidade de mais inspeção e apoio. Este era um cenário previsto há muito tempo por alguns especialistas, mas foi ignorado. E não é o único. Segundo vários engenheiros, são cerca de 300 as pontes italianas que estão em risco de colapso e precisam de manutenção, incluindo uma ponte perto de Agrigento, na região da Sicília, uma estrutura criada por Ricardo Morandi, o mesmo engenheiro civil responsável pela criação da ponte em Génova.

Mas não é só em Itália que o escrutínio está a ser feito de modo mais rigoroso. Um pouco por toda a Europa, os especialistas alertam para a falta de manutenção das pontes e de dinheiro para investir nessa tarefa, sendo este um problema que se foi agravando desde a crise financeira de 2008, diz o New York Times, que fez um ponto de situação a nível europeu. Já a Economist, que cita um estudo de 1999, revelou que 30% dos viadutos na Europa têm algum tipo de defeito, muitas vezes relacionado com a corrosão do seu material. Os governos trabalham soluções para evitar este tipo de desastres? As pontes europeias são seguras?

França: um terço das pontes precisa de reparos

O último incidente com uma ponte em França remonta a 15 de maio, quando uma parede que sustentava um viaduto na A15 em Gennevilliers, no nordeste de Paris, colapsou, obrigando ao encerramento da autoestrada em ambos os sentidos.

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Em terras francesas, também os avisos já chegam há algum tempo, mas têm sido pouco comentados. Em julho deste ano, o Ministério dos Transportes divulgou um relatório que concluiu que “todos os indicadores revelam uma forte deterioração da rede rodoviária nacional”, incluindo pontes e aquedutos. “Das 12 mil pontes da rede, um terço precisa de reparos”, lê-se no documento, que acrescenta que em 7% dos casos tratam-se de danos graves que podem levar a um eventual risco de colapso.

Em média, são precisos 22 anos para que uma ponte seja reparada depois de mostrar sinais de deterioração, acrescentaram os autores do estudo, concluindo que é necessário duplicar o investimento na manutenção das estradas e pontes.

Depois do colapso da ponte em Génova, a ministra dos transportes francesa, Elisabeth Borne, anunciou a criação de uma nova lei para o próximo mês sobre o planeamento de infraestruturas, incluindo uma revisão de todas as obras. A acrescentar a essa medida está uma proposta de mil milhões de euros para um plano com o objetivo de “salvaguardar a rede viária” e realizar obras urgentes.

Todas as pontes serão visitadas anualmente e vão receber inspeções detalhadas a cada três anos”, disse a ministra, acrescentando que “tem havido uma clara falta de investimento nesta área” e que cerca de metade das superfícies precisam de ser renovadas.

Alemanha: há inspeções, mas também problemas

12,4% dos viadutos estão em más condições e apenas 12,5% são considerados seguros. É desta forma que os peritos caracterizam a situação das pontes na Alemanha entre 2005 e 2018. A falta de investimento é uma das temáticas mais criticadas nos relatórios de avaliação.

Em algumas pontes a passagem de veículos pesados está barrada devido a problemas de estabilidade, que são mais visíveis na parte oeste do país, onde as pontes são significativamente mais velhas. Na ponte de Leverkusen, por exemplo, os camiões não podem circular desde 2012, quando foram encontradas algumas rachas na estrutura. Estão previstas obras para 2024.

No entanto, o cenário no país é menos grave em comparação com outros locais, muito devido ao programa de renovação levado a cabo entre 1990 e 2000. Andreas Scheuer, ministro dos transportes, anunciou recentemente um investimento de 1.300 milhões de euros em trabalhos de reparação e renovação este ano. “Na Alemanha, temos um sistema de controlo de pontes”, disse ao jornal Bild am Sonntag. Este sistema obriga a que, a cada seis anos, as pontes sejam inspecionadas de uma forma extensiva e detalhada.

Noruega: pontes geridas por autoridades locais são maior preocupação

O colapso da ponte em Génova levantou preocupações sobre o estado dos viadutos na Noruega. Rapidamente surgiram relatos de falta de condições de segurança de muitas das 17.500 pontes existentes no país.

Há dois anos, a Autoridade de Supervisão das Estradas Norueguesas descobriu que o governo falhou no acompanhamento das condições de muitas das obras e que os relatórios de estragos e falta de segurança estiveram com erros durante 20 anos. Há um ano foram identificadas 21 pontes como tendo “estragos críticos“.

A grande preocupação está nas pontes que são controladas pelas autoridades locais, diz o grupo de transportes da holandês, TNL.

Portugal: pedem-se esclarecimentos sobre a manutenção das pontes

2001, Entre-os-Rios, 59 mortos. O pior acidente em pontes e viadutos na Europa desde 2001. As memórias da queda da Ponte Hintze Ribeiro ainda estão presentes e no momento da queda da ponte Morandi foram várias as comparações que surgiram.

Desde aí, o que mudou? Não há muitas informações e, por isso, esta semana o PCP pediu ao ministro do Planeamento e Infraestruturas esclarecimentos sobre a manutenção das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, das autoestradas, incluindo o viaduto Duarte Pacheco, e das ferrovias nacionais.

Este requerimento entregue na Assembleia da República chegou na sequência de “notícias mais ou menos fundamentadas ou especulativas, com as que recentemente vieram a público sobre a ponte 25 de abril ou mesmo sobre o viaduto Duarte Pacheco (que não devem ser ignoradas).”

PCP pediu ao ministro do Planeamento e Infraestruturas esclarecimentos sobre a manutenção das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama.

Em Março deste ano, o presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) reconheceu no Parlamento que o agravamento das falhas estruturais identificadas na Ponte 25 de Abril, sem que haja uma intervenção para as corrigir, poderá obrigar a reduzir o tráfego ferroviário na ponte. Carlos Pinta disse também que a expressão usada em relatórios técnicos de monitorização da estrutura de “risco de colapso a curto prazo”, refere-se a alguns elementos da estrutura e não à própria estrutura.

Se obra não avançar, tráfego ferroviário na Ponte 25 de Abril terá de ser reduzido

Já Rui Coutinho, diretor de gestão de ativos da Infraestruturas de Portugal, assegurou em declarações à Antena 1, que cerca das 7.200 pontes e viadutos sob a sua responsabilidade “estão inspecionados por técnicos com competência para essa função” e que estão “em boas condições de segurança”.

Segundo a IP, 90% das pontes, viadutos e túneis da rede apresentava em 2017 um estado de conservação entre o “razoável” e o “bom”, estando a decorrer sete empreitadas de reabilitação.

Espanha: falta de informação

Muitas das pontes espanholas são relativamente recentes, sendo a maior parte construída ou renovada depois da adesão de Espanha à União Europeia, em 1986. No total, são 22.500 pontes que o governo assegura terem sido inspecionadas nos últimos cinco anos.

Mas, pouco ou nada se sabe. O El Confidencial revelou na semana passada que o governo espanhol tem recusado com frequência fornecer informações sobre a manutenção das pontes. Tal como em Portugal, também em Espanha um membro do Parlamento, Fèlix Alonso Cantorné, pediu detalhes ao governo, citando um relatório de uma associação espanhola que informa que a manutenção das pontes custaria seis mil milhões de euros.

Bulgária: 211 pontes vão ser renovadas em simultâneo

Na Bulgária, o primeiro-ministro anunciou que 211 pontes vão ser renovadas, a maior parte construída há mais de 40 anos e considerada em mau estado. “Seja financiado através de empréstimos ou seja pago no orçamento, quero que todas sejam renovadas em simultâneo”, disse Boyko Borisov na semana passada. O país, o mais pobre da União Europeia, tem recebido ajuda financeira da Europa para modernizar as suas infraestruturas. As suas autoestradas têm apenas a extensão de 777 quilómetros, muitos dos quais em más condições.