O mundo dos direitos televisivos ficou de pantanas esta temporada. A distribuidora britânica Eleven Sports entrou de rompante no mercado português, provocando um terramoto que abalou a espécie de monopólio que a Sport TV detinha há 20 anos na transmissão das principais provas de futebol. O tiro no porta-aviões começou com a compra da Liga dos Campeões e da Liga Espanhola, dois dos principais ativos da estação portuguesa, estendendo-se depois a outras ligas — francesa, alemã, escocesa e belga, por exemplo. E a promessa é de não ficar por aqui.

As águas agitaram-se, os jogos salpicaram para mais canais (pagos) e, com isso, subiu a conta mensal de quem quer estar por dentro de todas as transmissões. Alternativas mais baratas procuram-se. As casas de apostas podem entrar na história nessa vertente — já vai perceber como. Em Portugal, há duas a disponibilizar live streaming (transmissão em direto na Internet) de jogos: a Bet.pt (o Observador contactou a empresa, mas não foi possível obter esclarecimentos sobre o modo de funcionamento desta plataforma) e a BetClic, que disponibiliza o serviço para todos os utilizadores registados — e que façam um depósito único de 10 euros, que podem ser convertidos em apostas.

Eleven Sports garante direitos de transmissão da liga alemã nos próximos três anos

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“Assim que começámos a apostar no streaming na nossa plataforma, o nosso índice de apostas por jogador também começou a aumentar, porque as pessoas começam a ter um feeling daquilo que está a acontecer ao jogo”, explica ao Observador Miguel Domingues, diretor de comunicação e marca da BetClic. “Vendo que o nosso utilizador aprecia essas mais-valias, começámos a adquirir cada vez mais ligas, cada vez mais desportos, porque começou a fazer sentido nesta nova realidade, onde os direitos televisivos estão dispersos por várias operadoras, muitas delas operadoras pagas”.

A forma de funcionamento, explica o responsável, é simples: ser maior de 18 anos, fazer o registo no site ou na aplicação (os jogos também podem ser vistos no telemóvel) e fazer o tal depósito mínimo de 10 euros. Enquanto houver saldo, “mesmo que seja um cêntimo”, diz Miguel Domingues, continua válido o acesso a todos jogos disponibilizados — e não apenas àqueles em que se apostou. Aliás, tecnicamente nem precisa de apostar. “As pessoas podem olhar para isto como uma alternativa mais em conta. O nosso negócio são as apostas, mas sabemos que há pessoas que se vão inscrever apenas para ver os jogos, sem apostar”.

“Há ainda uma nuance”, acrescenta o diretor de comunicação. “Imagine que fez a última aposta ontem, não ganhou e perdeu todo o saldo. Mesmo assim, se fez uma aposta nas últimas 24 horas, ainda consegue ver os jogos nesse período”.

Um feliz acaso chamado Ronaldo

A grande bandeira da empresa de apostas chama-se Série A. Tudo porque Ronaldo se mudou do Real Madrid para a Juventus, arrastando consigo os olhares de muitos dos adeptos da modalidade por cá. Foi um golpe de sorte. “Curiosamente, o contrato já estava fechado antes de o Ronaldo ir para a Juve. Foi uma feliz coincidência“, adianta o responsável. “Somos a única casa de apostas que tem a liga italiana. Aliás, somos a única plataforma em Portugal que tem a liga espanhola e a liga italiana no mesmo lugar. Nem os canais de televisão têm isso”. Trocado por miúdos, equivale a dizer que dá para ver Ronaldo e Messi no mesmo serviço.

Mas não fica por aí. A oferta é vasta — dentro e fora do futebol. Excluído está o campeonato nacional (a Sport TV detém os direitos), mas, além das já citadas La Liga e Série A, também a liga francesa, alemã, belga, a MLS, os sul-americanos Brasileirão e Libertadores, por exemplo, fazem parte da grelha da plataforma. Tal como o Torneio de Wimbledon, o US Open e o Roland Garros, no ténis, a NBA, a FIBA, a Euroleague e a Eurocup no basquetebol e a EHF no andebol.

Apesar de a plataforma de streaming não obrigar a apostar, Miguel Domingues garante que existe uma relação direta entre o serviço e o aumento de apostas. “O melhor exemplo é a NBA, porque as apostas para esta liga já existiam antes e o streaming veio depois — só no ano passado. Desde então, houve um aumento de 60% nas apostas naquele campeonato. E é basquetebol. Passou para o nosso top-4 de apostas desportivas”.

A plataforma é uma alternativa, sim, mas a empresa garante que não pretende entrar no duelo de gigantes das transmissões televisivas. “Vemos este serviço de streaming como uma mais-valia gratuita para o nosso cliente, em que não há publicidade; o nosso mercado não é, de todo, a transmissão televisiva, nem queremos estar nessa luta. Somos uma casa de apostas”, remata Miguel Domingues.