Dois golos marcados, um penálti falhado, um jogo inteiro no banco, uma lesão e o quarto lugar garantido num torneio de…quatro equipas. Foi este o resultado pessoal de Rui Rio no torneio de futebol que abriu a festa social-democrata do Pontal, no Algarve. O presidente do PSD calçou as suas velhas chuteiras, e embora não jogasse futebol “há mais de 20 anos” e a “idade já pesar”, entrou em campo ao lado de dirigentes do partido e à mercê de todas as metáforas futebolísticas que pudessem surgir. Ficava bem na fotografia ter ficado em primeiro lugar, mas a verdade é que o árbitro não foi sensível a esse argumento e, num torneio de quatro equipas, o líder ficou mesmo em último. “Na política, como no futebol, também joga para o terceiro e quarto lugar?”, perguntaram-lhe. “Não, na política jogo para o primeiro lugar, como é evidente”.

Então o que falhou? Rio até arriscou uma explicação: “Aqui joguei a médio ofensivo, na política tenho de jogar a ponta de lança”. Além de que, se no futebol a idade prejudica a força, na política a idade dá “experiência”, que dá força.

Não foi exatamente isso que se viu nos relvados, contudo.

O primeiro jogo colocava frente a frente a Direção Nacional do PSD e o Conselho Estratégico Nacional (CEN) do partido. Rui Rio – em modo RR7 – vestiu a camisola número sete e foi capitão mesmo sem braçadeira. À entrada para o relvado, disse que iria jogar a médio ofensivo: mas a verdade é que passou grande parte do tempo encostado à linha, à espera de espaço para se conseguir desmarcar. O maestro, esse, foi Poiares Maduro. Deixou em casa a camisola verde e branca do clube que apoia, envergou o cor de laranja e foi o melhor da equipa de Rui Rio. Quando o líder decidiu descansar um pouco no banco de suplentes, assumiu o comando da equipa e levou a Direção Nacional para a frente. No miolo, Fernando Negrão. O líder parlamentar do PSD não se moveu para lá da linha do meio-campo e não foi por não ser necessário.

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Rui Rio até entrou a ganhar: abriu o marcador, bisou na partida e tudo parecia correr de feição aos camisolas laranja. Mas não foi suficiente. O CEN – comandado pelo secretário-geral adjunto e deputado Bruno Coimbra, que marcou e deu a marcar – foi sempre superior e chegou à larga vantagem num período em que Rui Rio estava de fora. O líder regressou, pegou no jogo e a Direção Nacional ainda reduziu. Já na fase final da partida, quando a equipa de Rio perdia por 7-5, foi assinalada uma grande penalidade sobre Poiares Maduro. Quando chegou a altura de escolher quem batia o penálti, a indecisão foi pouca. Tal qual capitão, Rio agarrou na bola e colocou-a a 11 metros de David Justino, o guarda-redes adversário. Ganhou balanço, demonstrou confiança mas enganou-se no exemplo e em vez de imitar Cristiano Ronaldo no jogo inicial do Mundial 2018 contra a Espanha imitou o mesmo Ronaldo na fase de grupos do Euro 2016, frente à Áustria: falhou.

Os últimos minutos da partida já só tiveram um líder do partido desgastado, sem pernas para fazer grandes sprints mas sorridente sempre que era solicitado e deixava a bola sair pela linha final. O apito soou três vezes e o resultado final ficou em 7-5. Rio perdeu e ficou afastado da grande final; do outro lado, os autarcas social-democratas precisaram de ir a grandes penalidades para vencer os militantes do Algarve.

A partida que decidia quem ficava em terceiro e em quarto lugar no torneio de futebol do Pontal foi jogada então entre a Direção Nacional e os militantes algarvios. Do outro lado do campo, Salvador Malheiro e os restantes autarcas disputavam com o CEN a vitória no torneio. Rui Rio começou e terminou no banco de suplentes: o líder social-democrata não jogou e passou todo o encontro a observar os acontecimentos. Levantou-se já no final, quando a Direção Nacional precisava de apenas um golo para levar o resultado para grandes penalidades, e voltou a encarnar uma versão de Cristiano Ronaldo — desta feita, a da final do Euro 2016. Andou para a frente e para trás, deu algumas indicações e a equipa conseguiu mesmo chegar ao empate. 4-4 e foi tudo para penáltis.

Na altura de escolher quem cobraria as grandes penalidades, todos os olhos voltaram a cair sobre o capitão: mas desta vez Rio decidiu passar o testemunho. Manteve-se à margem, à entrada da grande área, viu Carlos Moedas falhar o remate e ouviu Poiares Maduro dizer que se devia gravar o momento para enviar para o presidente da Comissão Europeia. Comentários, nenhum. A Direção Nacional perdeu nos penáltis e ficou no último lugar do torneio do Pontal.

A final, por seu lado, também só terminou com recurso a grandes penalidades. Salvador Malheiro e os restantes autarcas venceram o CEN e ficaram com o primeiro lugar do torneio que ainda teve Maló de Abreu a ser substituído pelo árbitro Rui Silva, Carlos Moedas com umas caneleiras “iguais às de Ronaldo”, segundo o próprio, e Paulo Rangel na assistência a garantir que era melhor jogador enquanto “treinador de bancada”.

PSD contra PSD, mas sem “divergências táticas”

Pôr o PSD a jogar contra o PSD, numa altura em que os críticos internos acusam Rio de estar a gastar energias a apontar baterias aos membros do seu próprio partido em vez de as gastar com o governo de António Costa, é uma graça que se faz sozinha. Ainda para mais quando o torneio se realiza um dia depois de ter sido tornado público que o PSD estava a pôr em tribunal todos os candidatos autárquicos que tenham acumulado dívidas “monstruosas” em nome do partido. Vingança das vinganças: depois de terem eliminado os dirigentes nacionais e de terem ido à final com a equipa do Conselho Estratégico, a equipa dos autarcas (composta maioritariamente por autarcas algarvios, do Porto e Salvador Malheiro, de Ovar) sagrou-se vencedora do torneio (sem ter, contudo, tido a oportunidade de defrontar a equipa de Rio).

Estimular a rivalidade interna é uma coisa que, contudo, não preocupa Rui Rio nesta altura conturbada. “Na lógica desportiva tudo bem, quando é sociais-democratas contra sociais-democratas na comunicação social é que já não é famoso”, disse, acusando alguns críticos de terem “divergências táticas, e não genuínas”, que mascaram de “liberdade de expressão” só para fazer o número para a comunicação social.

A verdade é que as quatro equipas em campo tinham muito pouco de rivalidade interna, não havendo nenhum crítico disfarçado pronto para dar uma canelada ao líder. Apesar de tudo, Rio jogou em terreno seguro e com o objetivo de fazer “team building”. Se Marcelo Rebelo de Sousa estivesse a assistir (na bancada pelo menos não estava) poderia ter lançado uma tirada à Passos dizendo que “por acaso foi ideia minha”. É que a primeira vez que o PSD entrou literalmente em campo foi em 1996, quando Marcelo, que era líder, organizou um torneio do mesmo género no Pontal. “Em 1996 eu era secretário geral e era o professor Marcelo Rebelo de Sousa o líder do partido, e como em 1995 tinha havido aquele espectáculo degradante do PSD contra o PS e o PS contra o PSD a meia dúzia de metros de distância a ver quem tinha mais militantes e trazia mais camionetas, dessa vez fizemos uma coisa parecida com esta. Aliás a última vez que joguei a bola foi em 96”.

Rio estava destreinado e, apesar de ter sido atleta de 100 metros e fazer desporto “regularmente”, saiu lesionado, a queixar-se de uma perna. “Quando arrefecer vamos ver se isto melhora…”, desabafaria a caminho do balneário.