O Congresso espanhol deu luz verde à exumação de Francisco Franco. A maioria absoluta dos deputados (172 votos) aprovou a retirada dos restos mortais do ditador espanhol do Vale dos Caídos. Houve ainda 164 votos contra a exumação e duas abstenções — as do PP e do Ciudadanos. O decreto-lei que o Conselho de Ministros acordou a 24 de agosto foi agora aprovado, já depois de o governo ter notificado a família Franco desta possibilidade. O documento ainda poderá sofrer alterações, mas a validação já garante a exumação de Franco.

A decisão de retirar Francisco Franco do Vale dos Caídos baseia-se no facto de que, nesse local, só podem estar enterradas “as pessoas falecidas por consequência da Guerra Civil espanhola”. Carmen Calvo, vice-presidente do Governo, disse que “era uma anomalia ter um ditador no mausoléu do Estado: “Quem não vê a urgência é quem não vê a necessidade. Quem não vê a forma é quem não vê o fundo. Tiremos este país desta vergonha”, disse.

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A validação do decreto foi celebrado no congresso com uma ovação de metade da sala. Ian Gibson, hispanista irlandês conhecido pelas biografias de Antonio Machado, Federico García Lorca e Salvador Dalí, foi um dos convidados para a sessão que aplaudiu a decisão do Congresso. Um dos seus livros, “La represión nacionalista de Granada en 1936 y la muerte de Federico García Lorca” — em português “A repressão nacionalista de Granada em 1936 e a morte de Federico García Lorca” –, foi proibido em Espanha sob o regime de Francisco Franco.

A família de Francisco Franco estava contra a exumação do corpo do militar espanhol. Em agosto, a família Franco fez saber “que vai esgotar todas as possibilidades legais ao seu alcance” para impedir a retirada dos restos mortais do Vale dos Caídos. A declaração foi feita após a modificação da Lei da Memória Histórica de 2007, que dizia que era “urgente e de excecional interesse público a imediata exumação e transferência dos restos mortais” do ditador: “A presença no recinto dos restos mortais de Francisco Franco dificulta o efetivo cumprimento do mandato legal de não exaltação do franquismo e do propósito de prestar homenagem a todas as vítimas do conflito”, conclui.

Se a família de Francisco Franco não declarar um novo sítio para colocar os restos mortais do militar, essa tarefa caberá ao próprio governo.

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