Um Alfa Pendular que fazia o trajeto entre Lisboa e Braga, no passado dia 11 de setembro, com hora de partida de Santa Apolónia às 14h00, acabou por não cumprir a viagem devido a uma avaria que poderia ter resultado num descarrilamento, de acordo com uma notícia avançada pelo jornal Público esta terça-feira.

O incidente aconteceu ao nível dos rodados, que começaram por incandescer, tendo sido necessário interromper a viagem em Campanhã. O que começou com fumo nos rodados podia ter acabado num descarrilamento: o rolamento da caixa de eixos avariou e o veio de transmissão no qual assentam as rodas fundiu, descreve o jornal citando a informação a que teve acesso . Certo foi que os passageiros foram encaminhados para outro comboio e o Alfa recolheu às oficinas de Contumil.

Por enquanto, não se sabe se a causa está em eventuais falhas de manutenção ou em motivos excecionais que não se podem prever, mas a CP e o GPIAAF (Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes Aéreos e Ferroviários) já abriram um inquérito para as apurar. Nas palavras de Pedro Conceição, engenheiro especialista em manutenção ferroviária, que já foi quadro da EMEF, questionado pelo jornal Público, “um rolamento gripar é um fenómeno que pode acontecer a qualquer momento, mesmo quando a manutenção é perfeita e até pode acontecer com rolamentos novos… basta que tenham um defeito de fabrico ou sido sujeitos a mau manuseamento”.

Os sistemas de deteção de caixas quentes que estão colocados ao longo da via férrea e que identificam aumentos de temperatura dos rodados, aquando da passagem dos comboios, poderiam muito bem prever estes incidentes; porém, em Portugal, esses equipamentos estão desativados.

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“Ao contrário dos comboios mais recentes, o Alfa Pendular que é uma tecnologia dos anos 90, não tem nenhum sistema de detecção de temperatura anómala que permita dar o alerta para um problema deste tipo. Já o material mais recente tem sensores de medição do ABS do comboio que já têm embebidos o sistema de detecção de caixas quentes. Mas os pendulares não”, contou o especialista ao Público.

Fontes da EMEF, que pediram o anonimato, reconhecem que há já vários anos que a logística da empresa não consegue responder às solicitações de peças e que a sua falta é transversal a todas as oficinas da empresa. A EMEF tem 11 oficinas em todo o país, mas a falta de sobressalentes é maior nas oficinas onde se fazem grandes reparações. Além disso, as equipas trabalham sob forte pressão para libertar rapidamente os comboios imobilizados, o que pode levar a decisões erradas como, por exemplo, colocar um rolamento que já ultrapassou o limite expectável de vida.

Questionada sobre que medidas foram tomadas para verificar se havia riscos na restante frota dos pendulares, a CP limitou-se a responder que “o Alfa Pendular é objeto de rigorosa manutenção por parte da EMEF, de acordo com os mais elevados padrões de qualidade, em particular no que diz respeito à segurança da circulação”.

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A IP refere ainda que “o sistema de deteção de caixas quentes é complementar/auxiliar de segurança do sistema ferroviário, estando em curso um processo para instalação de novos equipamentos com tecnologia compatível com a realidade actual e que abranja a totalidade da rede ferroviária nacional”.