As duas entidades representativas do setor dos táxis anunciaram esta quinta-feira que pretendem manter-se em protesto até à próxima segunda-feira, dia em que serão recebidos na Presidência da República, pelas 15h00.

O presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), Florêncio Almeida, anunciou que o protesto “é para continuar” e que “não é para desmobilizar”, acrescentando que “o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, se disponibilizou” para receber os profissionais do setor na segunda-feira, às 15h00. No entanto, ressalvou, a reunião pode acontecer antes do previsto. Florêncio Almeida, que falava nos Restauradores, em Lisboa, acrescentou que os representantes do setor estão também a tentar ser recebidos pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues.

Já o presidente da Federação Portuguesa do Táxi (FPT), Carlos Ramos, afirmou que, apesar da disponibilidade do Presidente da República, o chefe de Estado já disse publicamente que “a resolução do problema está nas mãos da Assembleia da República e do Governo”.

As associações que representam o setor do táxi consideraram, numa comunicação aos profissionais que se encontram nos Restauradores, em Lisboa, que a noite desta quinta-feira e o dia de sexta-feira serão decisivos para o protesto que começou na quarta-feira.

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“Resistir, resistir, resistir. Não sairmos daqui. Penso que esta noite e amanhã [sexta-feira] é determinante para as conclusões da nossa luta”, disse o presidente da Federação Portuguesa do Táxi (FPT), Carlos Ramos, falando aos presentes.

Para o dirigente, será necessário “esperar qual o desenvolvimento que possa vir a acontecer a partir do momento que o senhor primeiro-ministro esteja cá em Portugal”. O primeiro-ministro, António Costa, participou hoje numa reunião informal de chefes de Estado e de Governo que decorreu em Salzburgo, na Áustria.

Depois de um dia longo de paralisação e protestos em várias cidades do país, os taxistas mantiveram-se mobilizados durante toda a noite e manhã de quinta-feira em Lisboa, Porto e Algarve. Na capital, na Avenida da Liberdade, as faixas laterais continuam ocupadas como no dia anterior, mas a polícia reabriu o eixo central para facilitar circulação. Apesar da paralisação dos táxis, as autoridades têm conseguido manter o trânsito, ainda que condicionado, a circular nas faixas livres.

Já esta quinta-feira de manhã, Carlos Ramos, presidente da Federação Portuguesa do Táxi, garantiu que não vão desmobilizar até terem uma resposta do Governo e voltou a exigir que ouvissem as declarações do Presidente da República, avança federação do setor.

Em declarações aos jornalistas na Praça dos Restauradores, em Lisboa, Carlos Ramos recordou as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa que, na quarta-feira, pediu “um equilíbrio justo” entre o setor dos táxis e as plataformas eletrónicas de transporte que operam em Portugal, como Uber, Taxify, Cabify e Chauffeur Privé.

“O que eu espero é que se atinja um equilíbrio justo na concorrência ante uma realidade que vem de trás e é socialmente muito importante e uma realidade que arrancou há menos tempo e que está a alargar-se na sociedade portuguesa”, afirmou o Presidente da República.

Ao segundo dia de protesto, a organização garante que a mobilização cresceu e que estão agora 1.300 táxis parados em Lisboa. Em declarações à agência Lusa, Carlos Ramos, referiu que em Lisboa estão “mais de 1.300 taxistas, um número superior ao de ontem [quarta-feira]”, num universo de 3.400 que operam na capital.

Segundo o responsável, também no Porto o número de táxis que aderiu ao protesto é superior ao de quarta-feira pela mesma hora: “Encontram-se por lá mais de 200 carros”, acrescentando que em Faro já se juntaram, na Estrada Nacional 125-10, 250 viaturas.

De acordo com Carlos Ramos, os táxis em Lisboa já se encontram no cruzamento da Avenida da República com a Avenida Elias Garcia. As viaturas mantêm-se estacionadas na faixa bus, a maioria deles vazios, nos dois sentidos da Avenida da Liberdade. Os taxistas não puderam ocupar a rotunda do Marquês de Pombal, retomando o aparcamento no sentido descendente da Avenida Fontes Pereira de Melo.

Os motoristas de táxi protestam contra a entrada em vigor, em 1 de novembro, da lei que regula as quatro plataformas eletrónicas de transporte que operam em Portugal — Uber, Taxify, Cabify e Chauffeur Privé. Carlos Ramos criticou ainda a mudança de postura da PSP, pela abertura ao trânsito do eixo central da Avenida da Liberdade, em Lisboa, a partir das 7h30.

“Para nós, as condições mantinham-se. O protesto prolonga-se e as condições também se mantinham”, disse Carlos Ramos referindo-se diretamente às condições previamente acordadas com as autoridades policiais sobre as restrições de trânsito em Lisboa.

Para o presidente da Federação Portuguesa do Táxi, os protestos que se verificam no Algarve e no Porto, não registam hoje qualquer alteração sobre o esquema de restrições ao trânsito automóvel. Carlos Ramos estranha, por isso, a abertura do eixo central da Avenida da Liberdade, no centro da capital, até porque, recordou, um comunicado da Câmara Municipal de Lisboa alertava na noite de quarta-feira que os “cortes de trânsito” se iriam manter.

“Isto pode criar problemas. Vai haver provocações. Já apelamos aos nossos colegas para que não respondam”, disse Carlos Ramos, acrescentando que no aeroporto de Lisboa também se verificou uma mudança da PSP ao impedir que os taxistas se mantivessem concentrados junto à Praça de Táxi. Carlos Ramos frisou que vai responsabilizar a PSP “por algo que possa ocorrer”.

Milhares estacionados em protesto

Mais de mil táxis em Lisboa e centenas em Faro e Porto. Estes foram os números da manifestação que se iniciou esta quarta-feira contra o diploma que regula as plataformas de transporte individual, também conhecida como a lei Uber. E a ordem é para manter o protesto. As associações representativas do setor, a ANTRAL e a Federação do Táxi, ficaram insatisfeitas com as respostas dos partidos que não se comprometeram em enviar o decreto para o Tribunal Constitucional.

Não sabemos quando vamos parar o protesto. Não há fim à vista. Neste momento alguns taxistas foram para casa descansar, mas regressam de manhã. E vamos juntar tantos ou mais como os que estiveram hoje (quarta-feira)”, disse ao Observador, pelas 00h00 de quinta-feira, o presidente da ANTRAL (Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros), Florêncio de Almeida.

O protesto começou às 5h da madrugada de quarta-feira. Em Lisboa, a Praça dos Restauradores e a Avenida da Liberdade estiveram cortadas ao trânsito e a fila chegou durante o dia à Avenida da República, onde a circulação ficou limitada ao transporte público. Para já, as autoridades mantêm a Avenida da Liberdade cortada, mas há indicação de que a PSP quer reabrir a avenida na quinta-feira.

Em declarações à TSF, o intendente Alexandre Coimbra afirmou que a PSP quer reabrir a totalidade da Avenida da Liberdade ao transito automóvel já a partir da meia-noite desta quinta-feira. As autoridades vão “permitir que os táxis estejam estacionados nas zonas laterais”, ou seja “estarão no local, mas não poderão ocupar a faixa de rodagem

Mas a Câmara de Lisboa vai manter para já os condicionamentos de trânsito. Assim, nesta avenida central da capital, o trânsito só será permitido a transportes públicos e veículos de emergência, podendo a PSP “determinar a abertura ao transporte individual caso entenda haver condições para tal”, avança a autarquia em comunicado. As restantes vias terão fortes restrições, acrescenta o município.

Plataformas de transporte crescem com a paralisação dos táxis

Já tinha sido assim na última manifestação de taxistas e voltou a acontecer: com os táxis parados em Lisboa, Porto e Faro, quem beneficiou foram as plataformas eletrónicas. No caso da Taxify, a procura subiu esta quarta-feira entre 5 a 10% em comparação com a média diária da empresa, segundo dados do jornal Eco.

O crescimento não terá sido maior, neste caso, porque a determinado momento deixou de haver motoristas disponíveis para responder ao nível de procura que se verificava. Por restrições internacionais da Uber, a empresa — líder de mercado neste setor e com 6.500 motoristas registados em Portugal — também terá crescido com o protesto dos táxis.

Outras duas empresas do setor — a Cabify e, mais recente, a Chaffeur Privé — também não cederam até ao momentos números que permitam perceber o impacto da paralisação de táxis em três das principais cidades do país, incluíndo a capital.

Taxistas “insatisfeitos” apelam a continuação dos protestos

As duas entidades representativas do sector do táxi apelaram nesta quarta-feira para que os profissionais se mantivessem em protesto nas ruas, depois de terem estado reunidas com os grupos parlamentares. Após os encontros no parlamento, os representantes voltaram aos Restauradores — local do início do protesto em Lisboa — para comunicarem os resultados da reunião. E, esta quinta-feira, mantiveram a paralisação na rua.

O presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), Florêncio de Almeida, disse que tanto esta entidade como a Federação Portuguesa do Táxi saíram “insatisfeitos” da reunião e entendem que o protesto deve continuar.

“Nós, associações, somos da opinião de que não devemos desmobilizar. Todos agora ou ninguém no futuro. Peço a todos que não desmobilizem, pelo contrário… peço para sensibilizarmos os nossos colegas que venham e inclusivamente as nossas famílias para trazerem comida e um colchão para podermos dormir”, disse. “Ninguém sai daqui, vamos continuar a nossa luta até que o governo nos ouça e que resolva os nossos problemas”, acrescentou.
Depois de os grupos parlamentares ouvirem os representantes dos taxistas, só o BE admitiu pedir ao Tribunal Constitucional a fiscalização da chamada “lei Uber”.

Todos os grupos parlamentares aceitaram receber os representantes da ANTRAL e da Federação Portuguesa do Táxi na Assembleia da República ao início da tarde. Bruno Dias, deputado do PCP, anunciou entretanto que o partido vai propor à Assembleia da República a revogação da lei que regula as plataformas eletrónicas de transporte – assim como o PEV. “Esta não pode ser uma discussão encerrada. Aquilo que nós manifestámos foi, da parte do grupo parlamentar do PCP, a disponibilidade e o empenho em continuar a intervir contra esta lei”, disse Bruno Dias em declarações aos jornalistas. Por outro lado, o PS anunciou que “essa questão não está colocada”. “Nós percebemos naturalmente as preocupações, vamos avaliá-las ainda no quadro do grupo parlamentar, mas essa questão não foi colocada por nós”, explicou o deputado Carlos Pereira, ainda que tenha ressalvado que o grupo parlamentar socialista “não fecha as portas a nada”.

Lei Uber. Partidos não dão (para já) a mão aos taxistas

Rui Moreira, presidente da câmara municipal do Porto, e Rogério Bacalhau, presidente da câmara municipal de Faro, também se mostraram disponíveis para ouvir os argumentos dos taxistas.

Governo diz que houve “consenso alargado” na aprovação da lei

O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, recordou já esta quarta-feira que a lei que regula as plataformas eletrónicas de transporte como a Uber ou a Cabify mereceu um “consenso alargado” na Assembleia da República, apesar de um veto presidencial aquando da primeira versão do diploma.

“A lei é uma lei da Assembleia da República, tendo merecido um consenso tão alargado na sua aprovação, tendo depois de um veto sido promulgada, continuando o Governo a trabalhar com as associações dos taxistas onde reconhecemos que as matérias de acordo completo são poucas”, disse o governante, que tutela os transportes urbanos.

O ministro falava aos jornalistas à margem do segundo congresso do Movimento de Cidadania Melhor Alentejo, que decorre no Centro de Congressos da Câmara de Portalegre.

“Da nossa parte estamos a fazer tudo aquilo com que nos comprometemos, a lei é uma lei da Assembleia da República que está aprovada, está promulgada e o que acontece em qualquer lei é, neste caso, no dia 01 de novembro a lei entra em vigor”, declarou.

João Matos Fernandes afirmou ainda que este processo legislativo foi o “mais participado, mais discutido, mais longo” em que teve oportunidade de participar como ministro.

Marcelo defende “equilíbrio justo” entre setor e plataformas

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu esta quarta-feira “um equilíbrio justo” entre o setor dos táxis e das plataformas eletrónicas de transporte que operam em Portugal.

“O que eu espero é que se atinja um equilíbrio justo na concorrência ante uma realidade que vem de trás e é socialmente muito importante e uma realidade que arrancou há menos tempo e que está a alargar-se na sociedade portuguesa”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado, que falava aos jornalistas após a cerimónia de encerramento do segundo congresso do Movimento de Cidadania Melhor Alentejo, que decorreu no Centro de Congressos da Câmara de Portalegre, disse ainda que “não se pode fechar as portas ao futuro”, mas que, também, “não se pode fechar a portas” ao passado sobre esta matéria. “Como eu disse sempre quando vetei a lei, não se pode fechar a porta ao futuro, mas não se pode esquecer aqueles a quem devemos tanto passado e presente”.

PCP não descarta envio do diploma para o Tribunal Constitucional

Em julho, o BE, PCP e Os Verdes votaram contra a segunda versão do decreto que regulamenta o novo regime jurídico sobre a atividade de TVDE, isto é, Transporte em Veículo Descaracterizado a partir de Plataforma Eletrónica. A primeira versão tinha sido vetada pelo Presidente da República, por não ser “equilibrada” para os taxistas. A segunda versão do diploma foi aprovada com votos a favor de PS, PSD e PAN e abstenção do CDS-PP, tendo sido promulgada por Marcelo Rebelo de Sousa.

Em declarações feitas esta manhã à TSF, o deputado do PCP, Bruno Dias, não se comprometeu com um eventual apoio do partido ao envio do decreto-lei para o Tribunal Constitucional, mas admitiu a possibilidade. Bruno Dias referiu que o PCP está “disponível para iniciativas que possam por um ponto final” ao que consideram ser uma “operação de discriminação e de um regime como ‘fato à medida’ para os interesses de [empresas] multinacionais”.

O pedido de fiscalização da lei pelo Tribunal Constitucional pode ser feito por seis entidades: Presidente da República, Assembleia da República (AR), primeiro-ministro, Provedor de Justiça, Procurador-Geral da República e pelo menos um décimo dos deputados da AR. Daí a vontade dos taxistas em sensibilizar os deputados para o tema.

Não fechamos a porta a analisar qual a abordagem a aplicar. Mesmo do ponto de vista legislativo e político, não deixamos cair a toalha ao chão. Não desistimos da intervenção no plano parlamentar, no sentido de que esta lei – que é injusta – seja revogada”, afirmou ainda Bruno Dias, do PCP.

Os táxis, em Lisboa, já enchem a Avenida da Liberdade nos dois sentidos. (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

Presidente da câmara de Faro, do PSD, diz que lei Uber “não acautela interesse público”

Rogério Bacalhau, presidente da câmara de Faro eleito pelo PSD, partido que votou a favor da lei que regulamenta novas operadoras de transporte, manifestou apoio à posição dos taxistas. A nova lei, referiu, “não acautela o interesse público, nomeadamente o facto de se disponibilizar transporte público quando há necessidade às diferentes horas do dia”.

É preciso ter alguma regulamentação, mas para que todos tenham as mesmas obrigações ou pelo menos para que se opere em plataformas de concorrência do mesmo nível. Não é isso que se passa neste momento”, afirmou Rogério Bacalhau.

O presidente da câmara de Faro defendeu que esta “problemática” deveria ser “analisada nas regiões, nos concelhos” para depois “cada concelho tomar as medidas que entender de forma a garantir um serviço de qualidade de transporte de passageiros nas diversas modalidades. Ninguém está aqui nem contra nem a favor dos serviços de táxi e de outras plataformas, estamos aqui a defender os interesses dos munícipes e das populações para garantir que o serviço é efetuado todos os dias do ano e a qualquer hora do dia“.

O presidente da câmara do Porto, Rui Moreira, também terá manifestado apoio à luta dos táxis. Quem o afirmou foi José Faria Monteiro, vice-presidente da ANTRAL – Associação Nacional de Transportadores Rodoviários em Automóveis. À TVI, o dirigente do setor garantiu que Rui Moreira “é sensível à justiça da luta” dos táxis:

Foi ele que nos alertou em 2014 para a pretensão da Uber em instalar-se na cidade do Porto. Sensibilizámos também o senhor presidente para que ele, através da sua influência política, nos ajude a reorganizar o mercado de outra maneira, com o objetivo de o tornar funcional e competitivo.”

Taxistas algarvios queixam-se de terem sido “invadidos” no verão por plataformas como a Uber

Cerca de duas centenas de táxis do Algarve estão concentrados na Estrada Nacional 125, junto ao aeroporto de Faro. A manifestação de taxistas contra a lei das novas plataformas de transporte conseguiu reunir na estrada de acesso ao aeroporto algarvio “à volta de 50% da frota de táxis do Algarve”, que “é formada por 425 automóveis”, números que deixaram a organização “muito satisfeita com a mobilização conseguida”, disse à agência Lusa Francisco José Pereira, presidente da cooperativa Rotáxis, de Faro, e um dos organizadores do protesto.

Francisco José Pereira disse que, no Algarve, o principal problema sentido pelos profissionais do táxi passa pelo número elevado de veículos de transporte de passageiros sem caracterização que ali se deslocam no verão, para trabalhar nos meses de maior afluência de turistas, retirando negócio ao setor tradicional do táxi.

“A nossa grande preocupação é que este ano, em junho, julho e agosto, fomos invadidos por centenas de carros de transporte de passageiros em viaturas descaracterizadas, coisa que nunca tivemos, o que a acontecer no próximo ano vai tirar sustentabilidade ao setor do táxi, que é um setor tradicional”, lamentou.

Questionado sobre se esses veículos descaracterizados são da região, a mesma fonte respondeu que não e disse que “vêm de propósito ao Algarve para fazer o verão, durante dois ou três meses, e trabalhar junho, julho e agosto. E está a causar grande preocupação nas câmaras municipais, dado o elevado número de viaturas que estão a trabalhar nos seus concelhos e que já são mais do que o número de todo o setor do táxi na região”, acrescentou, cifrando perdas registadas em “à volta de 30%”.

Este valor “é um número muito elevado” para o setor tradicional do táxi, ao qual é “exigido um conjunto de requisitos” e que é “muito regulado”, contrariamente aos veículos de transporte sem caracterização, considerou. “Há diferença no tratamento. E pedimos a suspensão da lei 45/18 de 10 de agosto, para não entrar em vigor até o Tribunal Constitucional dizer qualquer coisa sobre o que pensamos que é inconstitucional, porque causa desigualdade entre uns e outros quando o serviço é o mesmo”, pediu.

António Fortunato, taxista em Albufeira, disse à Lusa que este verão foram vistos “muitos veículos a trabalhar na cidade que não são de lá”, tendo até sido “mais do que o número dos táxis” que há na cidade. Este profissional quantificou as suas perdas durante o verão “em 50%” e assegurou que, nos 30 anos que leva na profissão de taxistas, nunca viu “nada assim”. “Tem que se encontrar uma solução para isto, porque assim não pode ser”, apelou.

No Porto, o protesto começou frouxo

A meio da manhã, no Porto, eram poucos os taxistas que pediam o envio do diploma conhecido como “lei da Uber” para o Tribunal Constitucional. Apenas perto de 100 táxis permaneciam, de forma pacífica, junto à Avenida dos Aliados. O número subiu ao longo da manhã e, segundo os organizadores, às 12h estavam já 280 taxistas em protesto.

De acordo com Carlos Lima, da Federação de Táxis do Porto, o aumento da adesão dos motoristas ao protesto que decorre na avenida dos Aliados prende-se com o facto de só agora, cerca das 12:00, uma parte dos taxistas poder deslocar-se ao local, porque até então teve serviços marcados durante a manhã, para transporte de pessoas ao hospital, por exemplo.

“Uma parte deles [taxistas] teve de cumprir serviços diários como levar pessoas ao hospital ou para fazerem análises. Só agora puderam juntar-se a nós, como de resto estava previsto”, explicou.

Carlos Lima acrescentou que, a estes motoristas, somam-se ainda os que estiveram “a garantir os serviços mínimos e que, uma vez terminado o turno, rumaram aos Aliados”. Nessa avenida nevrálgica da cidade, os agentes da PSP presentes têm garantido que o trânsito flua na única faixa de rodagem disponível naquela zona da avenida.

Os 280 táxis preenchem meia avenida, ocupando uma das duas faixas de rodagem em ambos os sentidos de circulação, no troço compreendido entre o edifício da Câmara do Porto e os cruzamentos com a rua Elísio de Melo (sentido descendente) e do Dr. Magalhães Lemos (sentido ascendente).

Quem lá esteve não poupou nos protestos. Vítor Oliveira, taxista há 30 anos no Porto, afirmou (também à agência Lusa) que o setor “esteve sempre preparado” para servir a população, afirmando que tal acontece “há décadas” na cidade.

“A questão de terem vindo alternativas [aos táxis] é bem-vinda, até porque melhora o nosso serviço e as pessoas gostam, e contra isso nada. O que acontece é que, como em qualquer atividade, é preciso estar legitimado e credenciado para o fazer, algo que as plataformas não fazem, porque não são elas quem trabalha, mas sim os prestadores que não estão habilitados para o fazer”, criticou.

Considerando-se “vítima de um serviço precário que atua na cidade do Porto desde 2014”, o taxista lembrou que a lei que regula a atividade das plataformas eletrónicas de transporte em veículos descaracterizados “só vai sair a 01 de novembro”, culpando, por isso, a tutela por uma “atividade ilegal” em Portugal. “No Porto, neste momento, há 700 táxis licenciados e há 1.000 carros a trabalhar para as plataformas”, relatou o motorista, adiantando que a concorrência, “desde 2014, tem feito decrescer o negócio entre 40 e 50%” na cidade.

Também José Peixoto, taxista há 42 anos, admitiu  que quando as plataformas chegaram a Portugal o “setor não estava preparado”, mas culpou o Governo por isso: “Se elas [plataformas] tivessem as mesmas armas que nós as coisas estavam equilibradas. Mas não pagam impostos, carros, aluguer e nós pagamos tudo, somos obrigados a ter tudo”, vincou o taxista.

Associações falam em 30 mil postos de trabalho em risco

A entrada em vigor da lei que regula as plataformas eletrónicas de transporte de passageiros coloca em risco 30 mil postos de trabalho no setor do táxi, avançaram as associações que representam os taxistas, exigindo “concorrência leal”.

Os partidos que aprovaram esta lei na Assembleia da República têm de ser forçados a dar cara, se estão ou não estão interessados em defender os 30 mil postos de trabalhos e os milhares de pequenos empresários do setor” do táxi, afirmou à Lusa o presidente da Federação Portuguesa do Táxi (FPT), Carlos Ramos, no âmbito da concentração de taxistas na praça dos Restauradores, em Lisboa.

Na praça dos Restauradores, em Lisboa, o presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), Florêncio de Almeida, disse à Lusa que o protesto nacional “está a ser um grande sucesso”. “Esta concentração foi marcada por tempo indeterminado e enquanto não estiver o nosso problema resolvido a intenção é continuarmos por aqui”, avançou Florêncio de Almeida, defendendo que “os táxis têm de ter as mesmas condições que têm os TVDE [transporte em veículo descaracterizado a partir de plataforma eletrónica]”. Na perspetiva do presidente da ANTRAL, “se as armas não são iguais, não pode haver concorrência leal”.

“O que nós pretendemos com este protesto é conseguir sensibilizar os partidos com assento parlamentar – é necessário e é urgente que esta lei não entre em vigor, porque esta lei pretende criar dois regimes jurídicos e fiscais para o exercício da mesma função, que é transporte de passageiros em viaturas ligeiras”, declarou o responsável da FPT, indicando que os taxistas não conseguirão competir com o sistema das plataformas eletrónicas, que “fica particamente liberalizado, pratica os preços que muito bem entender, através das tarifas dinâmicas, e pode-se deslocar dentro do território nacional onde houver clientes para transportar”.

“Não temos nada contra a concorrência, é preciso que a concorrência seja equilibrada”, reforçou Carlos Ramos, indicando que o setor não vai desistir de lutar para que tal aconteça.

Horas de sono e muito dinheiro perdidos. Os sacrifícios do protesto valerão a pena?

Faro: taxistas seguem apelo para continuar protestos

Os taxistas algarvios em protesto na Estrada Nacional 125/10, junto ao aeroporto de Faro, vão permanecer indeterminadamente no local enquanto não conseguirem que o Tribunal Constitucional aprecie a nova legislação das plataformas eletrónicas de transporte, disse um representante.

O presidente da cooperativa Rotáxis de Faro, Francisco José Pereira, disse à agência Lusa que os profissionais do setor que se concentraram no acesso ao aeroporto da capital algarvia “vão permanecer solidários com os colegas” de Lisboa e do Porto e vão também “continuar com o protesto” pela noite dentro.

“Sim, vamos manter a paralisação até haver instruções em contrário, vamos continuar solidários com Lisboa e manter a paralisação”, garantiu este porta-voz dos taxistas algarvios, referindo-se ao apelo feito pelas duas entidades representativas do setor do táxi, após se terem reunido com os grupos parlamentares, para manter indefinidamente o protesto enquanto não for apreciada a legislação que vai regular as plataformas eletrónicas.

A mesma fonte explicou que vai manter-se a configuração do protesto, com os profissionais a ocuparem as duas faixas da Estrada Nacional 125 que desembocam na rotunda do aeroporto de Faro e o trânsito a ser feito por uma única faixa que faz o mesmo percurso, pela direita, garantindo que o trânsito regular consiga aceder à infraestrutura aeroportuária, mas também à praia de Faro.

“Vai ficar tudo exatamente na mesma, vai ficar tudo igual até que haja alguma luz ao fundo do túnel”, afirmou, congratulando-se por a manifestação em Faro ter “atingido 279 carros em determinada altura” e ter sido “uma paralisação com um número bastante elevado, face ao universo da frota do Algarve”, que é composta por 425 táxis.

Esta adesão demonstra, frisou, que “há alguma preocupação e desencanto do setor no Algarve” pela forma como as plataformas eletrónicas estão a operar, com veículos seus a afluírem à região nos meses de verão e de maior afluxo turístico, retirando negócio ao setor do táxi e causando prejuízos cifrados “em 30%” nos meses de junho, julho e agosto.

“Neste momento, o ânimo é de cansaço, mas há vontade de resistir, embora com alguma frustração por os políticos não arranjarem uma solução de equilíbrio para as partes. Queremos que seja agora, o timing não é coincidente, mas temos que resistir e vamos ver como as coisas se desenrolam”, disse ainda Francisco José Pereira.