A Associação dos Administradores Hospitalares quer que os doentes e os profissionais de saúde participem na gestão dos hospitais, defendendo que a avaliação dos conselhos de administração passe a depender também da satisfação dos utentes.

Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) afirma que é necessário “criar mecanismos de melhoria da experiência dos doentes nos hospitais“, levando-os para a gestão hospitalar, primeiro de modo consultivo, ouvindo as suas opiniões e a sua avaliação.

“Os serviços de saúde estão organizados de forma diferente dos restantes serviços que a população usa. Os hospitais e os centros de saúde mantêm uma organização que é, muitas vezes, avessa à experiência do doente. Temos de perceber com os doentes que mudanças estruturais têm de existir no sistema”, argumenta Alexandre Lourenço.

O responsável indica, a título de exemplo, que não se devem “chamar os doentes para irem todos os dias, em dias diferentes, fazer procedimentos aos hospitais”.

Para isso, defende que é necessário ouvir os doentes, com consultas que podem ser feitas através de inquérito, fazendo até depender a avaliação dos conselhos de administração e dos administradores da opinião dos utentes.

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“Hoje em dia, de uma forma genérica, nos vários serviços públicos e privados que usamos somos inquiridos sobre a nossa satisfação. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) serve as pessoas, não é um serviço passivo em que as pessoas têm caridosamente acesso a cuidados de saúde”, indica Alexandre Lourenço em entrevista à Lusa.

O presidente da APAH considera que os hospitais estão atualmente “muito focados nos processos internos de prestação de cuidados”, mas “desfocados da experiência e do interesse do doente”: “Esta é uma grande mudança cultural que tem de existir no sistema”.

Os administradores pretendem ainda que os profissionais de saúde participem também na gestão dos hospitais, devendo igualmente contribuir para avaliar o desempenho das administrações.

Uma “avaliação permanente de todos os atores interessados no sistema de saúde” contribuirá para que haja gestores “preparados e qualificados”.

“A gestão [dos hospitais] é altamente complexa. São organizações com profissionais elevadamente diferenciados e estas pessoas também têm de estar envolvidas na gestão e na decisão da sua organização, principalmente na decisão estratégica do caminho a percorrer. [Os profissionais] têm de ser trazidos para a gestão de topo, não necessariamente na gestão operacional diária, mas na gestão estratégica”, argumenta Alexandre Lourenço.

A Associação dos Administradores Hospitalares tem defendido que os gestores dos hospitais sejam avaliados e responsabilizados pela sua gestão, promovendo os melhores e afastando os que tenham pior desempenho.

O presidente da associação insiste na necessidade de ser dada autonomia aos hospitais, mas com “orçamentos próximos dos custos reis”, responsabilizando depois a gestão.

Na semana passada, o ministro da Saúde anunciou a intenção de dar autonomia a um quarto dos hospitais portugueses, um processo que devem arrancar no próximo ano.

“Não sei se o número definido de um quarto dos hospitais será possível ou não. Mas penso que o importante é ter critérios muito transparentes para dizer que instituições estão preparadas para isso”, alerta Alexandre Loureço.

O responsável lembra que há muitos hospitais com custos de operação “muito superiores ao próprio financiamento”, o que tem de ser tido em conta na avaliação e na forma de dar autonomia às organizações.

Hospitais portugueses vão dar formação de gestão aos PALOP

Os hospitais portugueses vão receber gestores dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) para estágios, troca de experiências e aprendizagem mútua, anunciou o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH).

“Vamos abrir as portas dos hospitais portugueses para acolher gestores desses países e também dar apoio de consultoria para a gestão de serviços de saúde nesses países”, disse Alexandre Lourenço em entrevista à agência Lusa, a propósito do 27.º congresso da Associação Europeia dos Administradores Hospitalares, que decorre entre quarta e sexta-feira, no Centro de Congresso do Estoril, em Cascais.

No primeiro dia do congresso vão ser discutidas formas de cooperação na gestão de serviços de saúde entre o Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe e Timor, no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) com o patrocínio da Federação Internacional dos Hospitais.

“Para nós, o desenvolvimento dos sistemas de saúde depende muito da capacidade de liderança e da gestão das organizações e, particularmente, o Brasil e Portugal têm maior capacidade nestas áreas e estamos a organizar um ‘workshop’ que vai permitir fazer essa ponte e apoiar os outros países lusófonos nesta matéria”, adiantou o presidente da APAH.

O objetivo é encontrar “pontes e possibilidade de gestão“, que passam pela promoção de programas de estágio e de capacitação de gestores.

“Em Portugal e a nível europeu promovemos estágios” de curta duração (um mês), em que gestores portugueses vão a outros países e vice-versa, e “vamos propor isso a estes países africanos”, explicou o presidente da APAH. Segundo Alexandre Lourenço, esses programas de estágio vão ser disponibilizados pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e pelo Colégio Brasileiro dos Executivos de Saúde.

“Também existe da nossa parte uma necessidade de aprender muito com os colegas africanos”, que vão dar a conhecer a realidade dos seus países no congresso, disse.

Por outro lado, a experiência adquirida em Portugal e na Europa para combater doenças infecciosas também “pode ser útil” para ajudar os países lusófonos. “Em Portugal e na Europa estamos muito focados nas doenças crónicas e a reestruturação do sistema funciona muito nesta base”, mas estes países “continuam a viver grandes dificuldades no âmbito das doenças infecciosas.

Nesse sentido, a experiência adquirida “ao longo do tempo para combater essas doenças infecciosas pode ser útil a apoiar estes países. No entanto, o que se pretende mesmo “é uma cooperação conjunta para conseguir perceber os problemas e criar momentos de troca de experiências e de aprendizagem mútua”, frisou Alexandre Lourenço.

No congresso europeu são esperados mais de 600 participantes e 100 oradores de toda a Europa, incluindo membros da Comissão Europeia, da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).