Gemma Xifré já deve estar arrependida de ter cedido os livros raros da sua livraria, a Maldà, em Barcelona, para servir de decoração à cerimónia de entrega do Prémio Planeta 2018. Dispostas como centro de mesa, atadas por uma pequena corda de sisal e com um arranjo de flores em cima, estavam ali raridades capazes de levar qualquer bibliófilo à loucura: primeiras edições de obras de renome no panorama literário hispânico, como”La esfinge Maragata” de Concha Espina, editado em 1914; ou “Història d’una pobre noia”, de Folch i Torres e do ano de 1928.
O problema para a livreira é que, possivelmente sem consciência disso, muitos dos bibliófilos que foram àquela cerimónia cometeram mesmo uma loucura: pegaram nos 500 livros e levaram-nos para casa.
O alerta foi dado pela jornalista e escritora Llucia Ramis no Twitter: “Todos aqueles que tiraram os livros dos centros de mesa como lembrança podem devolvê-los, por favor? Não eram presentes.”
Tots els qui vàreu agafar llibres del centre de taula com a souvenir, podríeu tornar-los, per favor? No eren de regal. https://t.co/mbRLhCYCne
— Llucia Ramis (@lluciaramis) October 17, 2018
O caso insólito levou mesmo a que a pergunta básica fosse feita por outro utilizador do Twitter: “Um momento. Puseram livros em cima das mesas de um prémio literário e não se podia levá-los?”. A resposta da jornalista confirmou as suspeitas: “Sim. Eram decoração. Mas já sabes como são os amantes da literatura, que vemos primeiras edições, joias descatalogadas, clássicos preciosos e coisas assim em todo o lado”.
Sí. Eren de decoració. Però ja saps com som els amants de la literatura, que per tot pensam veure primeres edicions, joies descatalogades, clàssics preciosos, i coses així. pic.twitter.com/2hqZSIxK77
— Llucia Ramis (@lluciaramis) October 17, 2018
Desde a cerimónia, que teve lugar em Barcelona esta terça-feira, a proprietária da livraria, Gemma Xifré tem pedido àqueles que foram à gala da Planeta que entreguem os livros que retiraram das mesas. Já houve uns quantos a fazerem-no. “Não vou dizer quantos. Acima de tudo, está a privacidade”, disse a livreira ao El Periódico.
Gemma Xifré só quer mesmo os livros de volta — nem um pedido de desculpas pede. “Não, não é preciso. Ninguém tem culpa. Foi tudo um mal entendido”, disse àquele jornal.
O escritor e jornalista Victor Amela, que esteve presente na cerimónia, já fez o seu mea culpa e comprometeu-se a devolver os livros. “Este sábado, 20 de outubro, às 18h00, devolverei os livros de de centro de mesa da cerimónia Planeta 2018 que tenho em custódia desde segunda-feira. Convoco os outros custódios a uma celebração na livraria Maldà”, escreveu no Twitter.
¡ATENCIÓN! Este sábado 20-O a las 18:00h. devolveré el #CentroLibrosPlaneta2018 que custodio desde el lunes: convoco a otros custodios a concelebrar en la Llibreria @LaMaldaAribau (llibres molt ben relligadets per nens discapacitats de Fundació @Fupar) @juansotoivars @lluciaramis pic.twitter.com/uWCw9x2dpI
— VÍCTOR AMELA (@amelanovela) October 18, 2018
Os livros em questão foram alugados pela Fundação Fupar, organização que promove a inclusão social e laboral de adultos com deficiência. Esta fundação tem participado na organização da cerimónia de entrega do Prémio Planeta nos últimos sete anos. A Planeta ainda não se pronunciou sobre o sucedido.