Os trabalhadores da Infraestruturas de Portugal (IP) cumprem esta quarta-feira um dia de greve, depois de não terem chegado a acordo com o Governo, numa reunião que teve lugar na terça-feira. Os sindicatos exigem que a administração da empresa e o Governo concretizem o acordo coletivo de trabalho e cheguem a acordo sobre um regulamento de carreiras.

Cerca de 80 a 90% dos comboios foram suprimidos até às 08h00 de esta quarta-feira devido à greve dos trabalhadores da Infraestruturas de Portugal (IP), segundo fonte da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans).

Segundo a Rádio Renascença, estavam previstas 257 ligações previstas entre as 00h00 e as 8h00 e apenas se realizaram 85, dos quais 65 urbanos de Lisboa e 20 no Porto.

Segundo fonte da CP, que apresentou dados até às 06h00, dos 30 comboios urbanos de Lisboa previstos para esta quarta-feira circularam 25 e dos 12 previstos nos urbanos do Porto circularam quatro. A mesma fonte indicou que até àquela hora não circularam comboios nem no serviço Regional nem no Longo Curso.

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Na linha de Sintra — uma das mais movimentadas todos os dias na área de Lisboa –, a Amadora viu esta manhã todos os comboios suprimidos a partir das 7h, sendo que nenhum dos passageiros na estação sabia se os comboios viriam efetivamente. Entre as 8h e as 9h já passaram quatro, embora todos estivessem sobrelotados, confirmou o Observador no local.

Na estação do Cacém, por volta das 6h já se encontravam sete ligações suprimidas, sendo que apenas às 7h49 chegou o primeiro comboio, com destino a Lisboa-Oriente, e às 8h03 acabou por chegar outro em direção a Lisboa-Rossio. De Santa Apolónia, deviam ter partido 22 comboios, mas não partiu nenhum.

Na linha do Norte, em Porto Campanhã apenas circularam sete comboios, sendo que cerca de 80% dos comboios não apareceram. Em Vila Nova de Gaia, dos 17 comboios previstos para esta manhã, nenhum deles passou, à exceção de um de mercadorias.

Em Vila Franca de Xira, só um comboio passou, às 7h05, sendo que até perto das 8h ainda não tinha passado mais nenhum, prevendo-se que a situação assim continuasse. Em Aveiro, por sua vez, também não houve comboios, nomeadamente Alfa-pendulares e Intercidades. O mesmo sucedeu em Coimbra. Não há garantias de que haja comboios mais tarde.

De acordo com José Manuel Oliveira, coordenador da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), que falava à agência Lusa na estação de comboios de Santa Apolónia, em Lisboa, a adesão à greve por parte dos trabalhadores “é muito significativa”.

“Basta olharmos para o exemplo que temos aqui [Santa Apolónia]. Os comboios estão todos suprimidos até cerca das 09h30. Se houve dois ou três comboios desde a meia-noite são a exceção. A adesão à greve é muito grande”, afirmou o responsável.

A Fectrans disse à Lusa que quer chegar a acordo com o Governo e, nesse contexto, vai ter uma reunião conjunta, dos 14 sindicatos, na próxima terça-feira para responder ao documento que recebeu na terça-feira.

“É um documento muito extenso, mas que estamos a analisar. Vamos reunir na terça-feira, mas um aumento de 54 cêntimos no subsídio de alimentação dos trabalhadores não é suficiente (…). Não podemos trabalhar em 2019 com ordenados de 2018”, afirmou.

A CP – Comboios de Portugal já tinha alertado para “fortes perturbações na circulação” devido à greve na IP, face à previsão de “supressões de comboios a nível nacional em todos os serviços“. A empresa alertou ainda que “não serão disponibilizados transportes alternativos“.

A paralisação contará com serviços mínimos, definidos pelo tribunal arbitral, tendo sido subscrita por 14 organizações sindicais. Estão abrangidos, nos serviços mínimos, os encaminhamentos para o destino de comboios a circular ao início da greve, os comboios socorro e aqueles que transportem matérias perigosas, jet fuel, carvão e bens perecíveis.

“Não houve acordo. É um processo que vai levar algum tempo. Houve muito pouca evolução”, afirmou à agência Lusa José Manuel Oliveira, coordenador da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), no final da reunião de terça-feira, no Ministério do Planeamento e Infraestruturas. Assim, acrescentou, mantêm-se os motivos para a greve marcada para esta quarta-feira.

Os sindicatos querem “respostas às propostas sindicais tanto da parte da empresa como do Governo” em relação à negociação do acordo coletivo, disse José Manuel Oliveira. “A empresa e o Governo pretendem fazer uma negociação sem a valorização salarial e profissional dos trabalhadores”, defendeu o dirigente sindical, na segunda-feira, acrescentando que “há uma grande distância” entre as posições dos sindicatos e da IP para que seja possível um acordo.

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Governo diz que fez “muitas cedências” para chegar a acordo com trabalhadores ferroviários

O secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, lamentou esta quarta-feira a posição dos sindicatos representativos dos trabalhadores da Infraestruturas de Portugal (IP) em avançar para greve, referindo que o Governo “fez muitas cedências“.

“Só posso lamentar a situação de rotura a que os sindicatos nos conduziram e que vai ter reflexo na greve, que vai prejudicar os cidadãos e a circulação dos passageiros que utilizam o meio ferroviário”, disse em declarações à agência Lusa.

O secretário de Estado referiu que o governo manifestou “sempre vontade de negociar” e evitar o recurso à greve. “O facto é que já houve resultados definitivos do processo negocial, basta falar na reposição de direitos adquiridos dos trabalhadores. Entre 2017, 2018 e já incluindo 2019 estamos a falar de um impacto de 33 milhões de euros”, explicou.

Guilherme W. d’Oliveira Martins referiu ainda que, no início de 2018, na sequência de greves e da continuação do processo negocial “foi negociado um subsídio intercalar que confere a cada trabalhador da IP 23 euros por mês”.

“Em 2018 este valor totaliza 800 mil euros e em 2019 totaliza 1,2 milhões de euros, já no quadro de negociação do acordo de empresa. Por cima disto, o governo e a IP estavam dispostos a dar mais. Para além dos 1,2 milhões, estávamos dispostos a fazer um esforço adicional de 1,4 milhões de euros, com um total de esforço adicional de 2,6 milhões de euros, mais 360 mil euros para isenção de horário de trabalho”, explicou.

O secretário de Estado deu alguns exemplos, como o aumento do subsídio de escala de 18,5% para 19% ou o aumento de 54 cêntimos no subsídio de refeição diário.

“Foram muitas as cedências que fizemos, em que os sindicatos nunca apresentaram nenhuma contraproposta, nem nenhuma contrapartida. O Governo está sempre disponível para negociar, é preciso é que sindicatos mudem a sua posição e não adotem uma postura de rotura”, concluiu.

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