Numa altura em que cada vez se fala mais de fake news e de relatos tidos como fidedignos que acabam por ser mentira, uma banda norte-americana de metal conseguiu chegar às bocas do mundo por causa da forma impressionante como ludibriaram uma série de músicos e agentes ingleses.

De acordo com o Telegraph, o grupo californiano Threatin forjou centenas de ‘likes’, visualizações e seguidores de forma a conseguir garantir uma digressão pelo Reino Unido. Representantes de salas de espetáculos eram contactados por um alegado ‘booker’ — nome dado aos profissionais que se dedicam à arte de marcar concertos — e outro suposto representante de uma editora discográfica que prometiam recintos esgotados e atenção mediática. A realidade, porém, era bem diferente: o grupo musical era totalmente desconhecido, não tinha fãs nem muito menos um agente.

Os Threatin tinham apenas um membro fixo, Jered Threatin, e terá sido ele o responsável por esta fraude que rapidamente chegou aos quatro cantos do mundo, via imprensa, graças a todo o aspeto rocambolesco desta história. “Em todos os meus muitos anos no mundo da música, nunca vi nada assim”, explica ao jornal inglês Rob Moore, cantor e guitarrista da banda punk/hardcore Dogflesh, grupo que tocou com Jered no espetáculo dado em Newcastle… para um recinto praticamente vazio (só com quatro pessoas a assistir), algo recorrente em todos os concertos desta “digressão”. Só técnicos de som, roadies e poucos funcionários dos espaços assistiam ao espetáculo. “O esforço dedicado a pintá-lo [Jared] como uma grande estrela é fenomenal!”, acrescentou ainda Moore.

No concerto dado na cidade de Bristol, por exemplo, Threatin teve de ir levantar dinheiro para pagar os custos de utilização do recinto. Já no de Londres, o mesmo músico terá comprado quase 300 bilhetes com o seu dinheiro.

Os Kamino, banda de apoio que tocou com Threatin em Bristol, afirmam ter feito a sua própria investigação e perceberam que o norte-americano terá comprado ‘likes’ em diversas redes sociais para conseguir convencer promotores de concertos a contratá-lo. “Depois de irmos mais a fundo no assunto percebemos que ele usou este esquema na sua conta de Youtube e Facebook e até inventou datas de supostos concertos dados numa ‘digressão’ nos EUA”, explicou a banda. “Até os contactos de pessoas da industria listados na pagina online da banda eram falsos. Tudo isto é uma grande mentira.”

Não é conhecido o nome verdadeiro de Threatin e o próprio não respondeu aos vários pedidos de explicação feitos pelo jornal britânico. O desmascarar desta farsa fez com que o “grupo” tivesse de cancelar a última data da digressão no Reino Unido, que estava agendada para 11 de novembro, em Belfast. Todas as redes sociais do grupo foram entretanto bloqueadas.

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