O escândalo que envolveu dezenas de anos de abusos por parte do médico Larry Nassar a centenas de ginastas norte-americanas, entre as quais algumas das campeãs olímpicas que se tornaram “meninas queridas” de um país que se encontra sempre à procura de figuras que possam servir de exemplo para várias gerações, levou à condenação do antigo responsável a uma pena de 175 anos de prisão mas está longe de ficar encerrado. Aly Raisman, tricampeã nos Jogos, tem sido a principal figura na luta para que tudo o que se passou não seja esquecido, nomeadamente os autores morais que, sabendo do que se passava, de forma mais ou menos direta, nada fizeram para o travar. Atuais e antigas atletas, famílias e amantes do desporto pedem uma “limpeza” de pessoas e costumes na USA Gymnastics, a Federação que tutela a modalidade. E foi dado novo sinal nesse sentido.

Larry Nassar. A história do monstro que abusou de centenas de atletas durante mais de 20 anos

A USA Gymnastics decidiu avançar para o capítulo 11 da Lei de Falências do Código dos Estados Unidos, que permite que as empresas que atravessem problemas financeiros se possam reorganizar de acordo com as leis do país. Ou seja, uma bancarrota que, na verdade, acaba por não o ser – a ideia passa por acelerar as centenas de processos civis colocados à entidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sete dias e 158 testemunhos, a decisão: Larry Nassar condenado a 175 anos de prisão

“Esta é uma reorganização, não uma liquidação. O nosso desporto está mais protegido e mais forte graças à coragem de todas estas mulheres. Devemos isso às sobreviventes, que possam finalmente resolver por completo todos pedidos baseados em atos horrendos que aconteceram no passado, e que esse processo possa também ajudar a que consigam seguir em frente”, destacou Kathryn Carson, a atual responsável da USA Gymnastics, citada pela BBC.

“O nosso silêncio deu poder às pessoas erradas demasiado tempo”: o chocante testemunho de McKayla Maroney

“Este pedido de bancarrota vai permitir que a USA Gymnastics continue a ajudar os seus atletas a estarem 100% operacionais, poderem satisfazer as suas necessidades e resolverem todas as queixas feitas pelas sobreviventes dos crimes de abusos sexuais perpetrados por Larry Nassar. Considerámos que esta era a melhor forma de satisfazer isso mesmo”, acrescentou, garantindo ainda que este passo não colocará em causa o valor do seguro que “protege” a instituição. “Este é o resultado inevitável da incapacidade desta organização para cumprir com as suas responsabilidades fundamentais de protegerem atletas de abusos”, comentou John Manly, advogado de muitas das vítimas que avançaram com processos.

Universidade de Michigan vai pagar 500 milhões às vítimas de Nassar

Como explica o La Vanguardia, este é apenas mais um capítulo da autêntica bola de neve que envolveu a Federação de Ginástica dos Estados Unidos depois da condenação de Larry Nassar. Há menos de dois meses, Steve Penny, antigo líder da instituição (que quer também receber uma indemnização pelo despedimento), foi acusado de manipulação de provas; depois dele, já houve duas presidências interinas que chegaram ao fim poucos meses depois (Mary Bono e Kerry Perry) devido à forte pressão de algumas das atletas mais mediáticas, casos de Aly Raisman ou Simone Biles, a grande figura da modalidade.

Aly, a campeã olímpica que cresceu a ver cassetes VHS e quer mudar a ginástica americana

Em paralelo, o Comité Olímpico dos Estados Unidos iniciou no passado mês o processo para revogar a certificação da USA Gymnastics. “Vocês merecem melhor”, salientou a diretora geral do Comité, Sarah Hirshland, numa carta aberta às atletas.