António Costa procurou vender o modelo português aos seus parceiros socialistas na Europa, embora tenha deixado uma pequena farpa aos parceiros de esquerda em Portugal. No encerramento do Congresso do Partido Socialista Europeu, este domingo em Lisboa, o primeiro-ministro português propôs à sua família europeia que combata os populismos com a “afirmação de valores sociais-democratas” em conjunto com “resultados” a nível económico e social, dando Portugal como exemplo.

Costa, no fundo, pediu aos partidos socialistas europeus que, nas eleições para o Parlamento Europeu, espalhassem esta boa nova pela Europa: não há que ter medo do socialismo. “Podemos dizer, e temos de dizer, a todos os cidadãos que percebemos que há razões para terem receios, mas a resposta ao medo não é fechar as fronteiras, é construir uma União Europeia social-democrata, com os nossos valores, que responda no dia-a-dia às necessidades dos nossos cidadãos“. Para o primeiro-ministro português, “é com este espírito” que os socialistas têm de “partir para as próximas eleições europeias. As mais exigentes de sempre”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR,

E não deixou de contar aos delegados socialistas o que de bom há : “Há três anos muitos disseram que nos estávamos a isolar da Europa, que queríamos ser uma ilha, que se queria separar do continente e rumar pelo atlântico rumo ao sul. Mas estamos mais no centro do continente do que há três anos e demonstrámos que era possível virar a página da austeridade sem sairmos do euro.”

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Aí, vieram as farpas à esquerda e à direita do PS. “Uns [PCP] diziam que tínhamos que sair do euro para nos libertarmos da austeridade, outros diziam que nos tínhamos que sacrificar à austeridade para continuarmos no euro e nós provámos que era possível”, disse Costa. O primeiro-ministro disse ter-se inspirado num ensinamento de Mário Soares que repete muitas vezes: “Só é derrotado quem desiste de lutar”.

Costa diz que Portugal está mais perto da Europa e que isso “não é só por Centeno ser presidente do Eurogrupo”, mas porque o país provou “que era possível ter uma política diferente e melhores resultados do que a política da austeridade”. E depois, como Centeno tinha feito no plano europeu, começou a enumerar conquistas: “Temos o défice mais baixo da história da democracia portuguesa, mais crescimento, pela primeira vez a crescer acima da média europeia, mais emprego, e aumentámos o salário mínimo, em 4 anos, em quase 20%.”

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Costa lembrou ainda que o investimento privado “ao contrário do que diziam” não fugiu e ainda aumentou” e que as “exportações não só têm aumentado” como o país tem vindo a ganhar “quota de mercado”. E conseguiu fazê-lo, garante, sem recorrer a “baixos salários” e investindo nas pessoas, contrariando a “receita neoliberal”.

O país que Costa “vendeu” no palco, motivou muitos aplausos. Houve muitos, que ao longo dos dois dias de Congresso, admitiram querer copiar o modelo português. O primeiro-ministro lembrou ainda que Portugal irá pagar “este mês a última tranche da dívida ao FMI, libertando Portugal definitivamente de programas do FMI.”

Mas não acabou aqui. Costa ainda tinha mais trunfos para defender o seu modelo: “Esta política deu bons resultados no que diz respeito à qualidade da democracia. A confiança dos portugueses nas instituições democráticas subiu de 15% para 75%. A confiança na União Europeia também subiu e somos o segundo país da UE que mais confia na União Europeia e no futuro da Europa”.