No final de outubro, Santiago Solari estreava-se como técnico do Real Madrid numa deslocação ao terreno do Melilla, de escalões inferiores. Era jogo de Taça e uma boa oportunidade para os jogadores com menos ritmo terem o seu momento. Marcos Llorente, que jogara apenas 11 minutos como suplente utilizado frente ao Espanyol, foi um desses casos. Depois, deixou até de ser chamado às convocatórias. Nem mesmo com a lesão de Casemiro, que promoveu ao invés a titularidade de Dani Ceballos. Quase no final de novembro, o espanhol de 23 anos entrou no onze. Daí para cá, nunca mais saiu. E conseguiu agora o primeiro troféu pelos merengues como protagonista, marcando um golo na vitória frente ao Al Ain na final do Mundial de Clubes por 4-1.

Internacional Sub-19 e Sub-21, o médio que começou a jogar nos modestos Las Rozas e Escola de Futebol Roceña destacou-se no Rayo Majadahonda antes de chegar aos infantis do Real Madrid, em 2008. Fez toda a formação no conjunto da capital espanhola, chegou a participar na pré-época da formação principal em 2014 com apenas 19 anos e realizou o primeiro encontro oficial pela equipa A na temporada seguinte, de 2015/16. A seguir, foi um ano emprestado ao Alavés, regressando com Zidane em 2017 para fazer 20 partidas, entre Campeonato, Taça de Espanha e Liga dos Campeões. No entanto, nunca foi aposta forte do francês. Nem de Julen Lopetegui. Nem de Solari, pelo menos no início. Agora, tudo mudou.

Neto de Paco Gento, nomeado presidente honorário do Real Madrid após a morte de Alfredi Di Stéfano pelo currículo de peso pelos merengues onde constam seis Taças dos Campeões Europeus, 12 Campeonatos, duas Taças do Rei e uma Intercontinental, Marcos pertence a uma das famílias mais tituladas de sempre em Espanha, no futebol e no basquetebol: o pai, Paco, jogou no Real Madrid e chegou a disputar finais europeias pelos blancos; o tio, Júlio, jogou também no clube da capital espanhola; outros dois tios, Joe e Toñín, brilharam pelo Real mas nos pavilhões (o primeiro ganhou mesmo uma medalha de prata nos Jogos de 1984). Também do lado materno existe um legado com o avô Ramón Grosso, que jogou nos merengues.

Mas há outras curiosidades em torno de Marcos Llorente que levantaram muito interesse da imprensa espanhola esta semana como por exemplo a dieta paleolítica que segue, tal como o pai ou os tios (com alimentação básica como peixe, carne, frango ou arroz sempre mal cozinhados). Como escreveu o El Mundo, o médio era um miúdo que olhava para os bolos de aniversário com curiosidade mas à distância e que levava para casa doces que lhe ofereciam sem nunca os abrir. “O seu físico destaca-se mas o segredo está na sua cabeça”, confidenciou à publicação o pai, Paco. “Sempre foi um miúdo cheio de saúde desde pequeno, se teve de tomar antibiótico três vezes na vida foi muito”, acrescentou. Além dos cuidados com a alimentação, o produto da formação merengue tem ainda uma quase obsessão pelo trabalho de ginásio, com um personal trainer e uma cama inteligente onde dorme nove horas para retirar a contaminação eletromagnética com o objetivo de reduzir a idade em termos biológicos, aparelho utilizado já há alguns anos por outros jogadores de alta competição, como recorda o La Vanguardia.

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Marcos Llorente foi titular em Roma e deixa agora no banco os rivais diretos, Casemiro e Dani Ceballos (GIUSEPPE CACACE/AFP/Getty Images)

Llorente foi um dos melhores do Real Madrid frente ao Al Ain, num encontro que começou com um ritmo frenético e chances nas duas balizas: na sequência de um cruzamento curto do médio, um defesa do conjunto dos Emirados desviou para o poste (4′); Hussein El Shahat beneficiou de duas oportunidades flagrantes após erros de Varane (defesa de Courtois, 6′) e Marcelo (Ramos cortou com a perna em cima da linha para canto, 12′). O estádio ainda estava a viver o sonho do quase golo do conjunto da “casa” ao tricampeão europeu quando o melhor do Mundo em 2018, Luka Modric, inaugurou o marcador com um grande remate de fora da área sem hipóteses para Khalid Essa. E foram os espanhóis que tomaram a partir daí conta da partida.

Apesar das boas aproximações que o conjunto de Zoran Mamic foi conseguindo amiúde, com Courtois a brilhar nessas ocasiões, seria o Real Madrid a dilatar a vantagem com relativa facilidade: primeiro foi Marcos Llorente, num remate à entrada da área de primeira após canto, a fazer o 2-0 (60′); por fim foi Sergio Ramos, de cabeça após canto, a aumentar para 3-0 (78′). O máximo que o Al Ain conseguiu foi reduzir a desvantagem a quatro minutos do final, por Shiotani, após livre lateral, antes do golo final de Yahia Nader, na própria baliza, no seguimento de uma jogada do brasileiro Vinicius (90+1′).

Com este triunfo, o primeiro de Solari no clube que confirma também a supremacia europeia na competição, o Real Madrid passa a ser o clube com mais triunfos no Mundial de Clubes (quatro), ultrapassando o rival Barcelona, os últimos três ganhos de forma consecutiva nos derradeiros três anos contra Kashima Antlers, Grémio e Al Ain.

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