Os primeiros meses de 2019 trazem várias peças de teatro em torno do feminino, das questões de identidade e da sexualidade, provável reflexo da atualidade política e mediática. Exemplo disso é “Bisonte”, de Marco da Silva Ferreira, que se estreia a 11 de janeiro no Teatro do Campo Alegre, no Porto. Ou também “A Noite do Choro Pequeno”, um acolhimento do Clube Estefânia/Escola de Mulheres, em Lisboa.

De resto, há poucas estreias absolutas e bastantes reposições nos palcos portugueses, o que em muitos casos faz circular pelo resto do país criações já apresentadas em Lisboa ou no Porto.

Quanto à dança, o destaque vai para a nona edição do GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea de Guimarães, de 7 a 17 de fevereiro.

A apresentação oficial dos programas das instituições acontece nas primeiras semanas de janeiro, mas o Observador faz já uma seleção de propostas.

Viana do Castelo

Teatro Municipal Sá de Miranda – “A Estalajadeira”, 23 a 25 de janeiro

Criação do grupo Teatro do Noroeste que recupera um texto clássico de Carlo Goldoni, nome maior da “commedia dell’arte” do século XVIII, aqui traduzido por Jorge Silva Melo. “Como poderá uma mulher solteira trabalhar num mundo de homens em que todos a querem seduzir?” Dramaturgia de Alexandra Moreira da Silva, encenação de Ricardo Simões.

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[vídeo promocional de “A Estalajadeira”]

Braga

Theatro Circo – “Concerto à la Carte”, 22 a 24 de janeiro

Foi o centésimo espetáculo da Companhia de Teatro de Braga, agora em reposição, “olhar frio, concreto, real até aos ossos, da vida vivida por cada vez mais mulheres em cada cidade”, diz a sinopse. “Depois dos preconceitos da dominação masculina, temos dois mercados cada vez mais competitivos: o do trabalho e o do casamento. E a mulher cada dia mais só.” Texto do alemão Franz Xaver Kroetz, encenação de Rui Madeira e interpretação de Ana Bustorff.

[vídeo promocional de “Concerto à la Carte”]

https://www.youtube.com/watch?v=A-B_IRMo9cY

Guimarães

Fábrica ASA – “Lento e Largo”, 15 de fevereiro

É uma das propostas da nona edição do GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea, que se realiza entre 7 e 17 de fevereiro em Guimarães, com um total de 11 espetáculos, além oficinas, conferências e debates. Em “Lento e Largo”, da dupla Jonas Lopes e Lander Patrick, os robôs dançam e há uma “poética da alucinação”, interpretada por  Ana Vaz, Lewis Seivwright e Mathilde Bonicel. Em estreia.

Famalicão

Casa das Artes – “A Vida do Grande D. Quixote de La Mancha e do Gordo Sancho Pança”, 26 de janeiro

Kuniaki Ida encena um texto de António José da Silva para a Companhia de Teatro do Bolhão. Primeiro de um conjunto de espetáculos que têm como fio condutor o “desalienar” da imposição histórica das crenças dominantes, descreve a sinopse. Estreou-se no Porto em outubro de 2018.

[vídeo promocional de “A Vida do Grande D. Quixote de La Mancha e do Gordo Sancho Pança”]

Vila Real

Teatro de Vila Real – “O Deus da Carnificina”, 31 de janeiro

“Dois casais, adultos e aparentemente civilizados, encontram-se para resolver um incidente protagonizado pelos seus filhos menores.” Comédia da argelina Yasmina Reza, com encenação de Diogo Infante e interpretação do próprio, de Rita Salema, Patrícia Tavares e Pedro Laginha. Estreou-se no Teatro da Trindade, em Lisboa, no início de 2018.

[vídeo promocional de uma das versões de “O Deus da Carnificina”]

Porto

Teatro Nacional de São João – “Otelo”, 5 a 20 de janeiro

Reposição de um espetáculo estreado nesta sala em setembro último, versão de Nuno Carinhas do clássico de Shakespeare. “Cúmplices e testemunhas da tragédia doméstica que cedo se desenha, somos lançados numa sucessão de palcos, cada vez mais claustrofóbica, que culmina nesse palco íntimo que é o quarto de dormir.”

[vídeo promocional de “Otelo”]

Teatro do Campo Alegre – “Bisonte”, 11 e 12 de janeiro

“Quais as masculinidades que são criadas e mantidas ainda hoje? Que feminino é esse que se afirma, ele próprio, como algo masculinizado? Que seres humanos são estes que ainda medem a sua força pelo porte, pela rapidez, pela força?” Algumas das perguntas que Marco da Silva Ferreira – artista associado do Teatro Municipal do Porto para as temporadas 2017 a 2019 – convoca neste espetáculo de dança. Em estreia.

Rivoli – “Anarquismos”, 25 e 26 de janeiro

O galego Pablo Fidalgo Lareo, escritor, criador teatral e curador, propõe-nos quatro jovens que vivem com um pé dentro e outro fora deste mundo, à procura de uma via própria que os leve a superar medos e silêncios. Estreia em Portugal.

Teatro Carlos Alberto – “Baleizão”, 27 de fevereiro a 2 de março

Espetáculo dirigido por Aldara Bizarro, criado e interpretado a meias com Miguel Horta, convoca memórias de Angola durante a guerra colonial. Estreado em Lisboa, em 2017.

Aveiro

Teatro Aveirense – “Os Vizinhos de Cima”, 15 de fevereiro

Fernanda Serrano, Pedro Lima, Ana Brito e Cunha e Rui Melo numa comédia do catalão Cesc Gay, encenada por Maria Henrique e traduzida por Maria João da Rocha Afonso. “Comédia sobre a vida conjugal e a sexualidade, através de dois casais que vivem no mesmo edifício.”

Coimbra

Teatro Académico Gil Vicente – “MB#6 (2018)”, 22 de janeiro

Miguel Bonneville convida algumas mulheres para falarem sobre si mesmas e as suas experiências como mulheres, adultas e artistas. Elas fazem videoretratos de si mesmas, ele interpreta-as com dobragem ao vivo, criando uma nova identidade para ambos. Original de há uma década, agora em nova versão já apresentada em novembro último, em Lisboa.

[vídeo promocional de “MB#6 (2018)”]

Leiria

Teatro José Lúcio da Silva – “Cavalos Selvagens”, 22 de Fevereiro

O que fazemos está realmente a acontecer? Pergunta de partida para esta coreografia que se inspira na herança dos Ballets Russes e dos diários de Nijinski. Espetáculo de Bruno Alexandre (um dos intérpretes residentes da Companhia Olga Roriz), com André de Campos, Bruno Alves e Francisco Rolo.

Torres Novas

Teatro Virgínia – “A Casa de Bernarda Alba”, 26 de janeiro

“As nossas instituições” são como a casa de Bernarda Alba: de portas fechadas, coercivas, sem igualdade de oportunidades, diz a sinopse da peça. “Regressam as Bernardas Albas, crescendo à luz cruel dos nossos dias, como monstros que despedaçam vidas.” Peça de Lorca pela Companhia João Garcia Miguel.

Lisboa

Culturgest – “Triste In English From Spanish”, 16 de janeiro

“Comecei a criar este trabalho a partir da minha tristeza particular, tentando tocar na tristeza do mundo, mas dei a volta ao mundo para voltar até à minha tristeza particular”, escreve Sónia Baptista, coreógrafa de raízes “ecofeministas” e “eco-queer”, com esperança no amor, exclusivamente coadjuvada por mulheres nesta criação. “Olhar a tristeza e a morte nos olhos não é fácil mas é necessário.” Em estreia.

[excerto de “Triste In English From Spanish”]

Teatro da Trindade – “Boudoir”, 30 de janeiro a 10 de março

O Marquês de Sade é o ponto de partida. Acima de tudo, pretende-se aqui “celebrar a liberdade do corpo e do pensamento na sociedade contemporânea”. Direção de Martim Pedroso, interpretação de Flávia Gusmão, João Gaspar, João Telmo, Maria João Abreu, Margarida Bakker, Martim Pedroso, Pedro Monteiro e Sofia Soares Ribeiro. Estreou-se em novembro no Campo Alegre, no Porto. Para maiores de 18 anos.

Teatro Nacional D. Maria II – “Sopro”, 11 a 19 de janeiro

Texto e encenação de Tiago Rodrigues, estreou-se em 2017 no Festival de Avignon e nesse ano passou pelo D. Maria II. Regressa novamente. Cristina Vidal, ponto de teatro há mais de 25 anos, aparece sob os holofotes, acompanhada por cinco atores e muitos fantasmas, para evocar histórias reais e ficcionais.

[excertos de “Sopro”]

Centro Cultural de Belém – “A Criada Zerlina”, 21 a 26 de fevereiro

A partir de Hermann Broch, escritor austríaco, João Botelho faz uma incursão teatral através de um “texto sublime” interpretado por Luísa Cruz. “Uma bela e prodigiosa atriz transformará em verdade o intenso monólogo da velha criada Zerlina”, personagem maior da dramaturgia, narradora de uma história de amor, ciúme e vingança. Botelho estreou-se como encenador em 2011, com “Banksters”, no Teatro de São Carlos.

Teatro Camões – “Dom Quixote”, 1 a 17 de março

Remontagem da versão de 1990 de Eric Volodine, baseada no famoso bailado de Marius Petipa que se apresentou no Bolshoi em 1869. O Quixote de Cervantes, “uma natureza realista e popular”, um “mundo de fantasia e sonho”.

Teatro Municipal São Luiz – “O Crocodilo ou O Extraordinário Acontecimento Irrelevante”, 31 de janeiro a 9 de fevereiro

Peça de Rui Neto, surge da reescrita do conto “KroKodil”, de Dostoievski, e procura um paralelo com o Portugal atual. Inclui música original ao vivo e “video-mapping” como elemento cénico. Intérpretes: Ana Guiomar, Miguel Raposo, Miguel Sopas e Rui Melo. Em estreia.

Rua das Gaivotas 6 – “Pecar”, 11 e 12 de janeiro

Performance sobre três criaturas que coexistem numa só pessoa: a pecadora, a santa e a criatura libertada. “Diferentes linguagens corporais e poéticas, unidas através do terreno comum da análise do género e do ‘empoderamento’ feminino.” Criação, encenação e direção de Anajara Laisa Amarante.

Clube Estefânia / Escola de Mulheres) – “A Noite do Choro Pequeno”, 10 a 27 de janeiro

Década de 1960 em Lisboa: “Duas mulheres passam a noite numa estação rodoviária. Uma espera reencontrar-se com o passado, enquanto a outra foge dele. João Ascenso dirige, Alexandra Sargento e Sofia Nicholson interpretam.

(Pedro Sadio)

(Pedro Sadio)

Teatro da Politécnica / Artistas Unidos – “Os Aliens”, 23 de janeiro a 2 de março

A peça que revelou a dramaturga Annie Baker, em 2010, aqui com Pedro Carraca a encenar. Um café de província. Dois rapazes discutem sobre música e literatura, até que se aproxima outro e aqueles decidem “ensinar-lhe tudo o que sabem”.

Teatro Tivoli – “Thiago Soares & Marcelo Bratke – Duelo”, 20 de fevereiro

Descrito como um encontro especial entre o primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres e o célebre pianista internacional, o espetáculo tem a participação especial de Filipa de Castro, primeira bailarina da Companhia Nacional de Bailado.

Almada

Teatro Municipal Joaquim Benite – “O Feio”, 9 a 27 de fevereiro

Apresentada pela primeira vez no Festival de Teatro de Almada em 2017, a peça conta a história de Lette, um indivíduo que descobre, do dia para a noite, ser “incrivelmente feio” e tenta uma operação plástica que se revelará pouco avisada. Intérpretes: André Pardal, João Farraia, João Tempera e Maria João Falcão.

[excerto de “O Feio”]

Faro

Teatro das Figuras – “Zé Manel Taxista, Uma Comédia com Brilhantina”, 26 de janeiro

Comédia musical protagonizada por Maria Rueff, com textos de Maria João Cruz, Filipe Homem Fonseca, Mário Botequilha e Rui Cardoso Martins, estreou-se em outubro em Lisboa e está em digressão, chegando agora a Faro. “Uma forma de agradecer ao público os 20 anos do Zé Manel, talvez o boneco mais consensual que fiz, e também de repensar esta nova cidade gentrificada, de turistas e despejos”, explicou Maria Rueff em entrevista recente ao Observador.

[vídeo promocional de “Zé Manel Taxista, Uma Comédia com Brilhantina”]

Ponta Delgada

Teatro Micaelense – “Pelo Próprio Pé”, 18 e 19 de janeiro

Dois atores com quatro séculos de história comum desentendem-se quando decidem encenar um texto clássico. “Um deles continua arraigado às formas teatrais mais tradicionais e seculares, enquanto outro já se rendeu às novas tecnologias.” Criação e interpretação de Miguel Mendes e Nelson Cabral.

Funchal

Teatro Municipal Baltazar Dias – “Estaleiro (Obras em curso para um amanhã qualquer)”, 16 a 20 de janeiro

Ricardo Brito, da Companhia Contigo Teatro, apresenta um espectáculo sobre os muros construídos “em nome do nosso pequeno nada” e “o medo de tudo perder”. É a 31ª produção da companhia e foi criada “a pensar no público jovem e nas limitações que a sociedade impõe aos seus sonhos”.