Era um duelo entre dois dados estatísticos arrebatadores: o Valência é a principal vítima de Lionel Messi no Campeonato espanhol, já que o argentino já marcou 24 golos e fez dez assistências contra a equipa che desde que se estreou pelo Barcelona em 2004; e o Valência é também a equipa que mais pontos roubou ao Barcelona nas últimas cinco temporadas. Assim sendo, tanto Messi como a equipa de Marcelino García Toral queriam manter as respetivas tradições.

Ernesto Valverde não tinha Busquets no meio-campo devido a castigo e, com Arthur disponível e depois de uma grande exibição do brasileiro na goleada imposta ao Sevilha durante a semana, optou por oferecer a titularidade a Carles Aleñà, produto da formação catalã de apenas 21 anos. Nélson Semedo voltou a integrar o onze, após se ter estreado a marcar com a camisola do Barcelona no último jogo, e Jordi Alba ficou no banco, enquanto que Lenglet perdia a titularidade para o belga Vermaelen; lá à frente, os três do costume: Messi, Suárez, Coutinho. Do outro lado, Marcelino tinha o reforço de inverno Facundo Roncaglia já no banco e apostava em Kévin Gameiro ao lado de Rodrigo, na ressaca de um jogo duro contra o Getafe que terminou com agressões de parte a parte.

As duas equipas, ambas a atravessar aquele é provavelmente o melhor período de cada uma na temporada, estavam à entrada para o jogo deste sábado separadas por 20 pontos: o líder Barcelona comanda a classificação com mais cinco pontos do que o Atl. Madrid, que é segundo, e o Valência está no oitavo lugar, atrás ainda do Real Madrid, do Sevilha, do Getafe, do Alavés e da Real Sociedad. A equipa che entrou em Camp Nou com a certeza de que não teria nada a perder e podia ter-se colocado em vantagem logo aos três minutos, com um remate forte do russo Cheryshev (que tem sido o habitual substituto de Gonçalo Guedes, que está lesionado há algum tempo) ao poste. O bom arranque do Valência, assente principalmente nas investidas pelo corredor central orquestradas por Parejo e Wass, apanhou de surpresa um Barcelona onde Jordi Alba e a profundidade e explosão que o lateral oferece muita falta fizeram. Aos 24 minutos, com os catalães a terem mais bola mas sem conseguirem transformar essa aparente superioridade em qualquer ocasião de golo, Parejo desarmou Messi à entrada da área de Neto e lançou Rodrigo em velocidade. O avançado ex-Benfica conduziu até à área contrária e aproveitou um grande movimento de desmarcação de Kévin Gameiro para isolar o francês, que não falhou na cara de Ter Stegen.

Face à desvantagem, esperava-se uma reação por parte do Barcelona. Mas o trio do meio-campo, formado por Aleñà, Rakitic e Arturo Vidal, esteve demasiado ausente e pouco criativo, deixando a ligação defesa-ataque praticamente entregue a Messi. Philippe Coutinho mal se viu na primeira parte e Suárez só entrou em jogo quando solicitado por um cruzamento ou um passe mais longo à procura de uma desmarcação. A equipa de Valverde esforçava-se para transformar a posse de bola em oportunidades mas a inspiração escolheu outro sítio que não Camp Nou para passar o final de tarde. Menos de dez minutos depois do golo inaugural de Gameiro, Wass sofreu grande penalidade de Sergi Roberto e o capitão Pareja não falhou e aumentou a vantagem. Aos 32 minutos, o Barcelona perdia em casa por 0-2 e estava longe de estar a realizar um jogo passível de reviravolta.

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Por cima do jogo mas sem controlar, o Barça acabou por beneficiar de um penálti conquistado por Nélson Semedo para ir para o intervalo a perder pela desvantagem mínima. Ao converter a grande penalidade e bater Neto, Messi não só fez o golo 23 ao Valência como somou o nono jogo consecutivo a marcar para todas as competições (12 golos), naquela que é a sua melhor série goleadora desde janeiro de 2013 — e ainda se tornou o terceiro jogador na história do Campeonato espanhol a acertar mais de 50 penáltis, depois de Cristiano Ronaldo e Hugo Sánchez. Ainda antes do intervalo, Kévin Gameiro ficou lesionado depois de um lance com o aniversariante Piqué e teve de ser substituído por Ferran Torres.

No regresso para o segundo tempo, Ernesto Valverde terá percebido que faltava Jordi Alba. O treinador tirou o português Nélson Semedo para lançar o lateral espanhol e Messi encontrou um parceiro que não esteve presente durante a segunda parte. Juntos, Alba e Messi têm um entendimento fora de série e durante os primeiros minutos do segundo tempo pareciam estar a jogar sozinhos, dado o alto nível das combinações e das transições que fizeram um com o outro e onde mais ninguém foi necessário. O Barcelona regressou a reagir melhor à perda de bola, ganhou profundidade com a entrada do lateral e anulou as investidas do Valência: a equipa de Marcelino continuou a defender exatamente na mesma zona onde tinha colocada a primeira linha de pressão durante os 45 minutos iniciais mas já não tinha espaços para lançar contra-ataques ou arrancadas pelo corredor central. Rodrigo, o principal inconformado, ainda teve duas boas oportunidades para fazer o terceiro mas desperdiçou e nunca teve em Fernan Torres o companheiro ideal para criar perigo na área de Ter Stegen.

A entrada forte do Barcelona, ainda que raramente transformada em oportunidades, acabou por ser capitalizada pelo nome inevitável. Depois de uma tabelinha com Arturo Vidal, Messi atirou de pé esquerdo e em arco para a baliza de Neto e não deu qualquer hipótese ao guarda-redes do Valência, que ficou pregado ao chão. A partir dos segundo golo e do empate, o Barcelona tirou o pé do acelerador, deu mais bola à equipa adversária e esqueceu-se de que ainda não estava a vencer: os catalães não voltaram a criar perigo e acabaram por esgotar os 90 minutos sem ameaçar novamente a baliza do Valência, terminando mesmo a partida algo desligados do jogo e a arriscar sofrer o golo da vitória por parte da equipa che, através de oportunidades de Rodrigo e Parejo.

A poucos dias de receber o Real Madrid em Camp Nou (quarta-feira, às 20h, para as meias-finais da Taça do Rei), o Barcelona não conseguiu ir além de um empate com o Valência e o Atl. Madrid pode ficar a apenas três pontos da liderança caso vença o Betis este domingo. Mantiveram-se as tradições: Messi continua a marcar ao Valência, o Valência continua a fazer o Barcelona perder pontos, Ernesto Valverde continua sem perder com o Valência e Marcelino continua sem vencer o Barcelona. Em dia de não alterar o passado, o Barça interrompeu uma série de oito vitórias consecutivas para o Campeonato.