Costuma dizer-se, nos meandros do futebol, que em equipa que ganha não se mexe. Ora, por raciocínio básico, percebe-se que o contrário também será verdade. Terá sido isso que Massimiliano Allegri pensou este sábado, quando teve de tomar as últimas decisões sobre o onze da Juventus que iria defrontar o Parma e que tinha como missão apagar os fantasmas deixados pela derrota a meio da semana com a Atalanta que significou a eliminação da Taça de Itália (e que teve ondas de choque no dia seguinte, com Andrea Agnelli a manter uma reunião de emergência durante mais de uma hora com Allegri).

Face ao jogo da passada quarta-feira, o treinador italiano fez sete alterações: saíram Szczesny, De Sciglio, Chiellini (este por lesão), Alex Sandro, Bentancur, Bernardeschi e Dybala; entraram Mattia Perin, João Cancelo, Cáceres, Spinazzola, Pjanic, Douglas Costa e Mandzukic. Cristiano Ronaldo manteve-se no onze e tinha agora como objetivo regressar às boas exibições e aos bons resultados, depois de dois jogos pouco conseguidos e de dificuldade extrema para a Juventus — a vitória frente à Lazio e a derrota com a Atalanta. O adversário deste sábado era o Parma de Bruno Alves, central que foi associado à vecchia signora durante a totalidade do derradeiro dia do mercado de transferências e que interessava a Allegri para colmatar as lesões de Bonucci, Chiellini e Barzagli, que deixaram Cáceres e Rugani como os únicos jogadores aptos a cumprir a posição no eixo da defesa.

Durante 35 minutos, a Juventus controlou por completo o Parma e foi reduzindo minuto a minuto o espaço disponível que a equipa orientada por Roberto D’Aversa tinha para jogar. João Cancelo fazia o que queria do corredor direito, beneficiado pela falta de dobra defensiva de Gervinho e Cristiano Ronaldo desequilibrava na ala contrária, aproveitando o entendimento quase perfeito com Mandzukic — e que em tanto é superior à ligação do jogador português com Dybala. O regresso de Pjanic ao meio-campo dos italianos, depois de já ter sido suplente utilizado contra a Atalanta, garantia um apoio acrescido à construção e permitia uma maior liberdade a Khedira, que apareceu várias vezes em zona de finalização, e a Matuidi, muito forte à entrada da área a distribuir jogo para Ronaldo ou Douglas Costa.

Face a um Parma muito macio e altamente inofensivo, a Juventus chegou a aplicar uma pressão tão intensa que se assemelhava a um jogo de futsal: passes curtos em espaço reduzido e a menos de quatro ou cinco metros da baliza. Um minuto depois de Khedira mostrar que o primeiro golo era uma questão de tempo, com um remate ao poste que Sepe só poderia defender com os olhos, Cristiano Ronaldo surgiu novamente descaído na esquerda a receber um passe de Matuidi: mesmo com uma escorregadela pelo meio, o avançado português rematou cruzado e beneficiou de um ressalto num dos defesas do Parma para inaugurar o marcador e regressar aos golos. O primeiro da Juventus, muito festejado pelas bancadas e pelos jogadores, teve dedicatória especial para a namorada Georgina, já que o pai da espanhola morreu durante a passada semana.

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Sem desacelerar muito mas com a tranquilidade compreensível de quem está a ganhar de forma fácil, a Juventus terminou a primeira parte à beira do segundo golo, com mais um remate cruzado de Ronaldo, e com a noção clara de que bastava eficácia para sair do confronto com o Parma com uma goleada no bolso. Ao intervalo, Allegri tirou Douglas Costa — que tão bem se entendeu com Cancelo no corredor direito durante a primeira parte — e lançou Bernardeschi, o talento em bruto que ainda não ganhou regularidade na equipa italiana.

O Parma regressou para o segundo tempo, como não podia deixar de ser, a correr mais riscos e a policiar de forma mais atenta a primeira linha de construção da vecchia signora. Scozzarella, no miolo do meio-campo, assegurou as funções defensivas de forma a deixar Barilla e Kucka, um de cada lado, bastante mais abertos e libertos do que haviam estado na primeira parte. O momento mais pressionante do Parma, porém, não se estendeu por muito mais do que cinco minutos e rapidamente a Juventus voltou a tomar o controlo do jogo, principalmente graças a três grandes exibições: Cristiano Ronaldo, como não poderia deixar de ser; Mario Mandzukic, que não tendo a classe e o primor de Dybala é anos luz mais influente do que o argentino; e Sami Khedira, o alemão, que tomou conta do meio-campo e surgiu uma mão cheia de vezes em zona de finalização, com uma bola ao poste na primeira parte e outra na segunda.

Depois de voltar a reduzir o espaço útil do Parma a pouco mais de 20 metros, a Juventus conseguiu chegar ao segundo golo num lance de insistência. Depois de um remate do lateral Spinazzola, Mandzukic ganhou o ressalto na esquerda e cruzou de forma quase perfeita: Ronaldo falhou mas Rugani surgiu nas costas, a fuzilar por completo a baliza de Sepe. Quase de seguida, após um cruzamento milimétrico de Kucka, Barilla apareceu ao segundo poste a fazer o primeiro golo ao serviço do Parma e relançou o jogo. No lance seguinte, novamente a parceria que deixa para trás todas as outras em Turim — Mandzukic a cruzar, desta vez na direita, e Ronaldo a cabecear de cima para baixo, como mandam as regras, para o terceiro da Juventus. Mas há um problema. A equipa de Allegri ataca bem, marca golos, é eficaz, cria com classe e critério mas deixa muito a desejar no setor defensivo. Com Alex Sandro no banco, os três centrais principais lesionados e João Cancelo sempre muito mais balançado para o ataque do que para a defesa, os bianconeri voltaram a sofrer um golo. Gervinho, de calcanhar, respondeu a um cruzamento rasteiro de Kucka e voltou a deixar Andrea Agnelli, em conjunto com Pavel Nedved, de semblante carregado.

Até ao final, com o jogo muito partido e muito espaço livre para transições e arrancadas pelos corredores sem qualquer oposição, a Juventus não conseguiu carimbar o quarto golo que fecharia a partida e acabou por sofrer o golo do empate já no terceiro minuto de descontos, depois de um erro capital de Mandzukic que manchou uma exibição enorme do croata. Gervinho, tal como Ronaldo, bisou na partida e impôs aquele que é apenas o terceiro empate da Juventus na Serie A (tem 19 vitórias em 22 jogos) num jogo onde o Parma de Bruno Alves esteve a perder por dois golos de diferença em duas ocasiões e deu uma primeira parte de avanço ao adversário. Cristiano Ronaldo, por seu lado, tem já 17 golos esta temporada e é atualmente o melhor marcador da liga italiana: o último jogador da Juventus a ter marcado mais do que isso numa única época foi o francês David Trezeguet, em 2005/06.

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