É como se o feitiço se estivesse a virar contra o feiticeiro. O Bunker do Apocalipseo edifício onde estão guardados exemplares das sementes mais importantes do mundo, que podem ser usadas para repovoar a Terra em caso de uma catástrofe global, está em risco por causa dos efeitos das alterações climáticas. O edifício, que fica no arquipélago ártico de Svalbard (Noruega), conserva as sementes a uma temperatura de -18ºC através de um sistema elétrico. Se este sistema falhar, as sementes não ficam comprometidas porque pode ser mantidas pelo pergelissolo, isto é, pela terra permanentemente congelada do Ártico. O problema é que esse gelo está a derreter.

O alerta foi dado pelo governo norueguês, que juntamente com a Suécia, Finlândia, Dinamarca e Islândia se responsabilizou pela construção do bunker — cujo nome oficial em português é Silo Global de Sementes de Svalbard. Num relatório que prevê o clima nesse arquipélago até ao final deste século, os cientistas preveem que a temperatura possa aumentar até 10ºC se a emissão dos gases com efeito de estufa para a atmosfera for “minimamente contida” ou até 7ºC caso haja “um corte significativo” nessas emissões.

O aumento da temperatura na localidade de Longyearbyen, a pouco mais de 1.100 quilómetros do polo norte, vai descongelar o pergelissolo, ou seja, o solo constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados que compõem os terrenos próximos ao Ártico. Se assim for, o solo gelado que ajuda a manter as sementes vai transformar-se numa papa. E o metano e dióxido de carbono até agora presos no gelo serão libertados para a atmosfera, agravando ainda mais o estado do clima.

Aliás, isso já começou a acontecer. De acordo com o relatório, “a temperatura do ar em Svalbard aumentou de 3ºC a 5°C durante as últimas quatro a cinco décadas”. O inverno trouxe episódio de chuvas fortes, as fiordes já não têm gelo durante a maior parte do ano e o solo já aqueceu “consideravelmente”. Tudo isto provocou “uma série de avalanches em Longyearbyen ou perto” dessa localidade.

E pode conduzir a inundações em redor do bunker. No futuro, espera-se cada vez mais chuva e mais intensa, os períodos de neve vão encurtar-se e as avalanches vão ser mais comuns. De acordo com o governo da Noruega, todos estes cenários serão possíveis apenas a partir de 2071, isto é, na reta final do século XXI. Ainda assim, sublinha o relatório, as alterações climáticas já provocaram grandes danos a Svalbard nos últimos 50 anos.

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