Depois de Portugal ver dois dérbis de Lisboa em quatro dias, Espanha recebia um clássico e um dérbi de Madrid também em quatro dias. Na passada quarta-feira, o Real Madrid visitou o Camp Nou e o Barcelona para a primeira mão da meia-final da Taça do Rei e este sábado era tempo de ir até ao Wanda Metropolitano e encontrar o Atl. Madrid para a Liga espanhola. A imprensa desportiva do país, da Marca ao As e passando pelo Mundo Deportivo, explicava que, quer o jogo terminasse com uma vitória de uma das equipas ou mesmo com um empate, o grande beneficiado deste sábado seria apenas um: o Barcelona.
Os catalães, isolados na liderança do Campeonato com 50 pontos, tinham mais seis do que o Atl. Madrid e mais oito do que o Real Madrid, o que significava que a perda de pontos de qualquer uma das equipas da capital era também uma escorregadela de um dos perseguidores. Após o clássico da quarta-feira passada, que terminou empatado a uma bola, Solari apostava no mesmo trio ofensivo que foi titular em Barcelona, com Vinícius, Benzema e Lucas Vázquez e Bale no banco, lançava Casemiro no onze para render o lesionado Marcos Llorente e Reguilón voltava a ser opção inicial na esquerda da defesa, em detrimento do brasileiro Marcelo. Isco, desta vez, nem sequer constava do lote de convocados — segundo o boletim clínico merengue, o espanhol queixou-se de dores nas costas durante a semana. Do outro lado, Simeone não tinha o maestro Koke devido a lesão e lançava no ataque a dupla perigosa formada por Griezmann e Morata.
9 – Solari's Real Madrid have won eight of their nine games in all competitions without Isco (they have only failed to win in the draw vs Barcelona at Camp Nou in Copa del Rey). Injured pic.twitter.com/wQRH01G0Tu
— OptaJose (@OptaJose) February 8, 2019
Morata que, curiosamente, protagonizava um dos três reencontros desta tarde. O avançado espanhol, reforço de inverno do Atleti nesta temporada, defrontava o clube que representou durante sete temporadas (em dois períodos distintos); do outro lado, Thibaut Courtois, titular na baliza do Real, encontrava o clube onde deu nas vistas de 2011 a 2014; e, nos bancos técnicos, Solari reencontrava na equipa técnica de Simeone muitos antigos colegas de equipa do River Plate e da seleção argentina e o próprio treinador do Atl. Madrid, que o orientou já numa fase final da carreira, no San Lorenzo.
Se a equipa de Solari visitava o Wanda Metropolitano naquela que será uma das melhores fases da temporada, com cinco vitórias consecutivas antes do empate a meio da semana com o Barcelona, a de Simeone recebia o Real Madrid depois da primeira derrota para o Campeonato em cinco meses, aos pés do Betis de William Carvalho (1-0). Tal como tinha acontecido no clássico de quarta-feira, o Real Madrid entrou no jogo de forma mais pressionante, com um poder de recuperação de bola impressionante e uma transição defesa-ataque feita quase sempre através da largura e do corredor esquerdo, onde Vinícius voltou a estar sempre irrequieto e perigoso. Numa primeira parte onde Modric esteve sempre mais discreto, Kroos parece cada vez mais entendido com o brasileiro ex-Flamengo e lançou a velocidade do extremo em inúmeras ocasiões durante o primeiro tempo. Apesar do sorriso que nunca consegue esconder dentro das quatro linhas, Vinícius vivia este sábado um dia difícil: o avançado formado no Flamengo passou vários anos no Centro de Treinos que ardeu esta sexta-feira e onde morreram dez jovens da formação do clube brasileiro e lembrou isso mesmo no Twitter, ao escrever que “só de lembrar as noites e dias” que passou no local, “é de arrepiar”.
Só de lembrar as noites e dias que passei no ct, é de arrepiar. Ainda sem acreditar, mas em oração por todos! Que Deus abençoe a família de cada um! ? pic.twitter.com/RcBsdH3GME
— Vinicius Jr ⚡️ (@viniciusjr) February 8, 2019
O golo do Real Madrid apareceu aos 16 minutos e no seguimento de um canto que o árbitro da partida decidiu repetir. Canto batido na direita, Sergio Ramos ganhou o duelo aéreo a três defesas do Atl. Madrid e Casemiro aproveitou uma bola perdida e meio metro de espaço para se lançar num pontapé de moinho e bater Oblak. O golo sofrido mobilizou o meio-campo dos colchoneros e Correa, o homem mais próximo do corredor, começou a procurar com mais intensidade a profundidade de Griezmann e Morata. A vantagem dos merengues durou menos de dez minutos e durante esse tempo o Atleti soube reduzir o espaço entre os blocos e reagir melhor à perda da bola, com uma pressão alta orquestrada por Partey e que abria linhas de passe para lançar o ataque. O empate surgiu assim mesmo, com uma recuperação de bola de Correa sobre Vinícius logo depois da linha do meio-campo: o argentino descobriu rapidamente Griezmann em desmarcação entre os centrais do Real e o francês, com uma classe assinalável, bateu Courtois com um remate rasteiro. O árbitro ainda esperou pela decisão do VAR, devido a uma eventual falta de Correa sobre Vinícius, mas acabou por validar mesmo o empate.
Se o golo do Real Madrid tinha motivado o Atl. Madrid, o mesmo aconteceu com o empate dos colchoneros, que voltou a impulsionar Kroos para terrenos mais avançados. Benzema, enquanto pêndulo do ataque, voltou a recuar para procurar jogo e iniciou as trocas de posição com Vázquez que na quarta-feira deixaram a defesa do Barcelona com a cabeça em água. O lance que acabou por dar origem ao segundo golo, porém, surgiu do outro lado, com uma arrancada de Vinícius pela esquerda: o brasileiro só parou quando derrubado em falta por Giménez. Ficam dúvidas sobre se a falta aconteceu dentro ou fora da grande área mas a verdade é que foi assinalada grande penalidade e na conversão, a cinco minutos do intervalo, o capitão Sergio Ramos não deu hipótese a Oblak. Na ida para o descanso, o Real Madrid era já apenas a segunda equipa a marcar dois golos no Wanda Metropolitano esta temporada e estava perto de se tornar a primeira a impor uma derrota caseira ao Atl. Madrid.
2 – Atletico de Madrid have conceded two goals in the first half of a game at Wanda Metropolitano for the first time in all competicions. Short-circuit. pic.twitter.com/ypYKzCJMP4
— OptaJose (@OptaJose) February 9, 2019
O Atl. Madrid voltou mais rápido e mais decidido do que o Real Madrid mas com o mesmo problema que tinha levado para o balneário: mesmo tendo mais bola, a espaços, tinha pouco critério nos últimos 30 metros de terreno, em contraste com a enorme sabedoria dos três homens mais adiantados dos merengues, que criavam perigo sempre que solicitados. O Atleti podia ter marcado ainda antes dos cinco minutos da segunda parte, com um bom remate de Griezmann depois de um ação deliciosa de Morata, e acabou mesmo por fazê-lo à passagem do minuto 53, por intermédio do avançado espanhol, mas o lance foi anulado por fora de jogo. Fica para a história e para a memória o grande passe de Giménez, a descobrir Morata em velocidade nas costas de Sergio Ramos, e o enorme chapéu do espanhol a Courtois, que só terminou dentro da baliza do Real Madrid. Não valeu mas foi bonito na mesma.
A equipa de Simeone passou a segunda parte à procura de um maior equilíbrio e de largos espaços temporais com posse de bola, com as entradas de Vitolo e Rodri para as saídas de Lemar e Correa, mas continuava a faltar ligação e acerto. Do outro lado, sem a velocidade de Vinícius, que entretanto saiu para entrar Gareth Bale, sem grande vertigem e sem necessidade de acelerar o jogo, o Real Madrid soube controlar e jogar de frente para a partida, com o encontro totalmente na mão: o terceiro golo e a pedra sobre o assunto surgiu quando faltavam 15 minutos para o apito final, com uma lição sobre jogo apoiado dada por Benzema e Modric e uma finalização exímia de Bale — que marcou o seu 100.º golo pelo Real Madrid. Vinícius, sem marcar nem assistir mas a conquistar a grande penalidade que deu o golo da vitória, foi (novamente) o melhor elemento dos merengues em campo e honrou a memória dos dez jovens jogadores que, tal como ele há uns anos, procuravam o sonho no Centro de Treinos do Flamengo.
100 – @GarethBale11 has scored his 100th goal for @realmadriden in all competitions. Express. pic.twitter.com/hRqLzaQ3iR
— OptaJose (@OptaJose) February 9, 2019
O Atl. Madrid perdeu em casa pela primeira vez esta temporada, sofreu três golos em casa pela primeira vez esta temporada e caiu para o terceiro lugar do Campeonato, com menos um ponto do que o Real Madrid e a nove do Barcelona (caso os catalães vençam este domingo o Athl. Bilbao). Simeone soma duas derrotas consecutivas e Solari confirma a boa fase do Real Madrid, que parece que sente que a Liga dos Campeões está a recomeçar e coloca os motores novamente a carburar.