A noite desta terça-feira, 12 de fevereiro, foi muito provavelmente uma das melhores da vida de Nicolò Zaniolo. Apesar da proximidade com aquele que é considerado o dia do amor e dos namorados, a felicidade do médio ofensivo da Roma nada tem que ver com esses assuntos que, normalmente, ocupariam grande parte do tempo de um jovem de 19 anos. Para Zaniolo, a felicidade está relacionada com a Liga dos Campeões e dois golos marcados ao FC Porto nos oitavos de final da principal competição europeia de clubes. Para Zaniolo, a felicidade está relacionada com algo que para a maioria dos jovens de 19 anos que jogam à bola nada mais é ainda do que um sonho.

Zaniolo, que faz parte da colheita de 1999 que tanto sucesso faz nos dias que passam na Europa – basta olhar para João Félix, Justin Kluivert, De Ligt ou Brahim Díaz –, é atualmente o menino de ouro da Roma mas a verdade é que o médio não realizou a formação no clube da capital italiana. Nascido na Toscana, foi na Fiorentina que deu os primeiros passos enquanto jogador e que começou a realizar o sonho que o pai deixou por cumprir: Igor Zaniolo, pai do médio, representou vários clubes na Serie C e B mas nunca chegou ao principal escalão do futebol italiano. Depois de passar por todos os degraus das camadas jovens da Fiorentina, Zaniolo transferiu-se para o modesto Virtus Entella da Serie B no último dia do mercado de transferências do verão de 2016 e estreou-se naquela que é a Segunda Liga italiana em março de 2017, com apenas 17 anos.

Mesmo com apenas sete jogos realizados pelo Entella, o médio ofensivo deu nas vistas e chamou a atenção do Inter Milão, que o contratou por quase dois milhões de euros. Entrou diretamente para a equipa sub-19 dos nerazzurri e afirmou-se enquanto melhor marcador da equipa que venceu o Nazionale Primavera em 2017/18, com 13 golos. A estreia pela equipa principal, porém, não chegou a acontecer e Zaniolo acabou por integrar o negócio que levou Radja Nainggolan de Roma para Milão no verão de 2018 (assim como o central Davide Santon, que também trocou o Inter pela Roma). À vista desarmada, a ida dos dois jogadores para a equipa orientada por Eusebio Di Francesco nada mais era do que uma maneira de atenuar valores; mas do lado dos giallorossi já estava Monchi, antigo guarda-redes espanhol que tem tido mais sucesso enquanto dirigente desportivo do que alguma vez teve enquanto jogador de futebol.

O jovem avançado marcou os dois golos que valeram à Roma a vitória frente ao FC Porto nos oitavos de final da Liga dos Campeões

Ao longo de 16 anos enquanto diretor para o futebol do Sevilha, o espanhol descobriu jogadores como Diego Capel, Sergio Ramos, Jesús Navas e José Antonio Reyes e potenciou nomes como Dani Alves, Adriano e Ivan Rakitic – que se traduziram em lucros de cerca de 200 milhões de euros na soma de todas os negócios feitos durante as temporadas em que Monchi serviu o clube. Em abril de 2017, onze troféus depois, rescindiu com o clube de sempre e foi contratado para gerir o futebol da Roma. A primeira época era, à partida, difícil: Francesco Totti tinha acabado a carreira, Mohamed Salah tinha saído para o Liverpool, Vermaelen para o Barcelona e Rüdiger para o Chelsea. Era preciso, portanto, garantir que os próximos anos eram bem preparados e apostar no futuro. E a melhor maneira de o fazer era não só converter as vendas de jogadores em contratações como também lucrar com essas saídas. No ano seguinte, a ida de Nainggolan para o Inter Milão trouxe não só 24 milhões de euros mas também Zaniolo e Santon – e se o belga que foi uma das bombas do mercado do verão que passou ainda não conseguiu afirmar-se em Milão, o jovem italiano valeu esta terça-feira a vitória frente ao FC Porto no Olímpico de Roma e leva já três golos e duas assistências em 14 jogos na Serie A. Registo que não escapa a Roberto Mancini, selecionador nacional italiano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Estou muito feliz por ver que o Di Francesco está a pôr o Zaniolo a jogar. Eu segui-o nos Sub-19 e percebi que ele tem qualidades pouco comuns para um rapaz tão novo – e ele nessa altura ainda nem era profissional. Com muito respeito pelos outros, ele tinha mais presença física e mais qualidade. E acho que os factos têm provado que eu tinha razão. É o talento do futuro”, disse Mancini esta terça-feira, após ter assistido ao Roma-FC Porto nos camarotes do Olímpico.

O sérvio em 2009, a celebrar um golo pela Lazio: a passagem de Kolarov pelo clube rival não é perdoada pelos adeptos da Roma

Mas se a Roma ganhou esta época e esta terça-feira um novo filho pródigo, a verdade é que para os adeptos da equipa da capital italiana existe um filho bastardo no cerne do plantel. Aleksandar Kolarov, o sérvio que deixou o Manchester City no verão de 2017 para regressar a Itália, nunca foi um dos favoritos dos ultras do clube pelo simples facto de ter jogado durante três temporadas na Lazio, eterna rival da Roma, antes de se mudar para Inglaterra. A relação, nunca pacífica, tornou-se ainda mais difícil com as afirmações do defesa, que depois de uma derrota frente à Udinese referiu que os adeptos “não sabem nada sobre futebol”. “Os adeptos têm o direito de estar chateados, nós respeitamos isso, mas têm de estar conscientes do facto de não saberem nada sobre futebol. Eu gosto de ténis e basquetebol, joguei as duas modalidades quando era criança, e fico chateado quando as minhas equipas perdem, mas nunca daria conselhos táticos porque não faço ideia daquilo de que estaria a falar”, disse Kolarov.

A derrocada da Roma frente à Fiorentina no final de janeiro, numa goleada por 7-1 em Florença que culminou com a eliminação da equipa de Di Francesco da Taça de Itália, motivou várias críticas dos adeptos à atuação dos jogadores no geral e de Kolarov em particular: nas horas que se seguiram ao jogo, surgiram vários graffitis nos muros da casa do defesa sérvio, com insultos e ameaças. Encorajado pelos colegas de equipa, o ex-Manchester City tentou fazer as pazes com os adeptos na passada sexta-feira, quando marcou na vitória da Roma frente ao Chievo, e fez uma vénia à claque na comemoração do golo. O gesto, porém, foi interpretado como sendo sarcástico e uma forma de gozo, ainda que Di Francesco tenha garantido na conferência de imprensa depois do jogo que a atitude nada mais era do que uma tentativa de resolver o diferendo. Na mesma linha do treinador, o capitão Daniele De Rossi apelou à paz entre os dois lados na antevisão da receção ao FC Porto.

“Se esta relação fraturada fosse reparada, eu seria o homem mais feliz do mundo. O Aleksandar [Kolarov] é como um irmão para mim. Aquilo que eu posso dizer aos adeptos é o seguinte: vocês sempre confiaram em mim, voltem a fazê-lo agora quando vos digo que ele é um grande profissional e é muito focado naquilo que faz. Não estou a dizer que é adepto da Roma desde que era criança, não. Estou a dizer que ele dá sempre o seu melhor, que nunca faltou a um treino e que joga frequentemente em condições difíceis. Prefiro ter alguém como ele do que alguém que beija a camisola e depois não pára para dar autógrafos. O dia de amanhã [terça-feira] seria o melhor para reparar esta relação e isso faria de mim o homem mais feliz do mundo”, pediu De Rossi, num apelo que não foi ouvido por parte dos adeptos. Nos primeiros instantes do jogo contra o FC Porto, em que Kolarov foi titular na esquerda da defesa e jogou os 90 minutos, os ultras da Curva Sud do Olímpico mostraram uma gigantesca faixa onde se lia “Kolarov bastardo”. No mesmo dia em que ganharam um filho pródigo, os adeptos da Roma assumiram que têm um filho bastardo.