Seis famílias tiveram de ser realojadas este sábado na ilha Terceira, nos Açores, devido a inundações nas suas habitações, provocadas pela chuva forte que se fez sentir durante a manhã, revelaram à Lusa autarcas dos dois municípios da ilha.

“Temos quatro casos de famílias desalojadas”, adiantou o presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses, alegando que algumas estavam a viver em “habitações degradadas”.

Segundo o autarca, algumas famílias deverão regressar às suas habitações em breve, mas alguns casos “exigem uma intervenção mais cuidada, particularmente aqueles em que os tetos estão em muito mau estado”.

Já no concelho da Praia da Vitória, duas famílias foram realojadas em casas de familiares, devido a inundações, mas deverão regressar assim que a limpeza estiver concluída, segundo o vereador do município responsável pela Proteção Civil, Carlos Armando Costa.

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O Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA) registou entre a madrugada e a manhã 82 ocorrências, devido à passagem da depressão Kyllian.

“Nós registámos já 82 ocorrências, a grande maioria no grupo central. Contrariamente aquilo que se esperava, que fosse o grupo ocidental o mais afetado, assim não aconteceu. Embora fosse fustigado por grande intensidade de vento e chuva, só registou uma ocorrência nas Flores, a queda de uma árvore”, adiantou, em declarações à Lusa, o presidente da Proteção Civil dos Açores, Carlos Neves.

A maior parte dos pedidos de auxílio (78) foi registada no grupo central (Terceira, São Jorge, Graciosa, Pico e Faial) e só na ilha Terceira contaram-se 42 ocorrências.

“Tivemos derrocadas, obstruções de vias, transbordo de ribeiras, mas principalmente inundações, algumas em habitações, outras em quintais à volta de habitações. Tivemos 42 ocorrências provocadas por inundações”, avançou Carlos Neves.

Segundo o presidente da Proteção Civil dos Açores, na origem dos estragos esteve sobretudo a chuva intensa.

“A intensidade do vento manteve-se conforme o esperado, com rajadas por volta dos 100km e a intensidade na ordem dos 70km, mas a precipitação ultrapassou em muito aquilo que nós esperávamos. Felizmente, não foi por um período muito prolongado, mas o concelho de Angra foi afetado por muita precipitação, que provocou alguns estragos, mesmo na própria cidade, nos arruamentos”, adiantou.

Na ilha Terceira, algumas estradas chegaram a estar cortadas ao trânsito e nalguns casos será necessário uma reparação mais demorada.

O autarca de Angra do Heroísmo disse que as estradas estão transitáveis, mas recomendou “prudência”, alegando que há “pavimentos levantados” e vias com pedras soltas e buracos.

“É importante que as pessoas não circulem a não ser que tenham mesmo necessidade disso”, frisou.

O vento forte provocou também cancelamentos e atrasos nas ligações aéreas.

Segundo o porta voz da companhia aérea açoriana SATA, não se realizaram os voos Lisboa-Pico-Terceira, da Azores Airlines, bem como os voos Horta-Flores-Horta e Terceira-São Jorge-Terceira, da SATA Air Açores.

Entretanto, o Porto da Casa, no Corvo, e os portos das Poças e das Lajes, nas Flores, foram fechados a toda a navegação, segundo uma nota do Capitão do Porto de Santa Cruz das Flores, Paulo Silva.

Também o capitão do Porto de Ponta Delgada, Diogo Branco, anunciou o fecho da barra daquele porto, na ilha de São Miguel, “para embarcações de comprimento inferiores a 50 metros” e o encerramento do porto de Vila do Porto, em Santa Maria, a toda a navegação.

Já o Governo Regional determinou a interdição do acesso à Montanha do Pico e encerramento da Casa Montanha, na ilha do Pico, bem como o encerramento do Centro de Interpretação da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, na ilha de São Jorge.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a depressão Kyllian encontrava-se às 9:00 deste sábado “centrada a aproximadamente a 440 km a oeste-noroeste da ilha das Flores, com uma pressão atmosférica prevista no seu centro de 960 hPa”.

“Encontra-se já em fase de afastamento da região, com deslocamento para nordeste, contudo ainda condiciona o estado do tempo em todo o arquipélago”, adiantou a meteorologista Vanda Costa, em comunicado de imprensa.

As ilhas do grupo ocidental (Flores e Corvo) mantém-se sob aviso vermelho — o mais grave da escala — até às 18:00 (mais uma hora em Lisboa), devido à agitação marítima, passando a laranja até à meia-noite.

Há ainda um aviso laranja nestas ilhas, até às 18:00, devido às previsões de vento forte.

Também as ilhas do grupo central (Terceira, São Jorge, Graciosa, Pico e Faial) estão sob aviso laranja até às 15:00, devido ao vento forte, e até às 21:00, devido à agitação marítima, enquanto no grupo oriental (São Miguel e Santa Maria) existe um aviso amarelo.

Nas Flores e no Corvo, está previsto “vento sudoeste com rajadas na ordem dos 110 km/h até à tarde de sábado e ondas de sudoeste com 10 a 11 metros de altura significativa (podendo atingir de altura máxima os 20 metros), passando a oeste”.

Já no grupo central, “o vento deverá soprar de sul/sudoeste com rajadas na ordem dos 120 km/h até à tarde” e as ondas “poderão atingir os nove metros de altura significativa e os 15 metros de altura máxima”.

O IPMA prevê ainda vento de sul/sudoeste “com rajadas a rondar os 100 km/h”, no grupo oriental, e a ocorrência de “precipitação por vezes forte e que poderá ser acompanhada de trovoadas”, em todas as ilhas, devido à passagem de uma superfície frontal associada à depressão Kyllian.