O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, disse esta segunda-feira, 25 de março de 2019, que a ONU está com os moçambicanos, vítimas do ciclone Idai, reconhecendo que a recuperação “vai levar tempo” e “exigir uma mobilização muito grande”. Simultaneamente as Nações Unidas lançaram um apelo de ajuda de emergência de 249 milhões de euros para ajudar Moçambique a recuperar durante os próximos três meses da devastação provocada pela passagem do ciclone Idai.

Numa mensagem áudio em língua portuguesa, disponibilizada pelos serviços das Nações Unidas, António Guterres começa por expressar a sua “total solidariedade ao povo moçambicano e ao seu Governo” face “à imensa tragédia que assolou Moçambique (…) E, ao mesmo tempo, as minhas sinceras condolências às famílias das centenas e centenas de moçambicanas e moçambicanos que morreram”, cujo número certo ainda é desconhecido, refere o secretário-geral das Nações Unidas.

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Mark Lowcock, sub-secretário-geral da ONU para os assuntos humanitários, precisou que este novo apelo de financiamento será usado em água potável, saneamento, educação e na reabilitação dos meios de subsistência das centenas de milhares de pessoas deslocadas na sequência do ciclone Idai.

O representante das Nações Unidas esclareceu ainda que serão lançados pedidos de ajuda internacional separados para o Zimbabué e Maláui, países que também foram fortemente afetados pelo ciclone. Mark Lowcock acrescentou que os fundos para as vítimas do Idai estão a começar a chegar, nomeadamente os 25 milhões de euros canalizadas pelo Reino Unido, alertando, no entanto, que as verbas ainda estão longe de preencher as necessidades.

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A diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Henrietta Fore, visitou hoje a cidade portuária da Beira (no centro de Moçambique), onde os efeitos do ciclone Idai assumiram proporções devastadoras, e advertiu para a situação de urgência no terreno.

É uma corrida contra o tempo“, afirmou Henrietta Fore, numa referência à ajuda aos milhares de deslocados e ao trabalho de prevenção de doenças. Segundo as Nações Unidas, o ciclone Idai afetou 1,85 milhões de pessoas em Moçambique, estimando-se que mais de 480 mil tenham sido desalojadas pelas cheias que submergiram e destruíram uma área de mais de 3.000 quilómetros quadrados.

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Na mensagem, António Guterres manifesta, ainda, total solidariedade “a todos os que perderam membros das suas famílias ou perderam a sua casa, que viram as escolas onde os seus filhos estudavam destruídas, as estradas que percorriam desaparecer, que não mais têm a possibilidade de colher aquilo que semearam”.

A todos quero dizer que as Nações Unidas estão convosco, que os trabalhadores das agências das Nações Unidas, no plano humanitário, no plano do desenvolvimento, desde a primeira hora, procuram fazer o seu melhor para ajudar o povo moçambicano a sair desta crise enorme e a recomeçar o seu caminho de desenvolvimento”, garante o secretário-geral da organização.

Reconhecendo que “vai ser duro, vai levar tempo, vai exigir uma mobilização muito grande de todos os esforços, nacionais e internacionais“, António Guterres assegura: “Mas nós, nas Nações Unidas, estamos convosco e estamos, ao mesmo tempo, a apelar à comunidade internacional para uma ajuda maciça a Moçambique, para que Moçambique possa recuperar o mais depressa possível desta imensa tragédia”.

A passagem do ciclone Idai em Moçambique, no Zimbabué e no Maláui fez pelo menos 762 mortos, segundo os balanços oficiais mais recentes. Em Moçambique, o número de mortos confirmados subiu hoje para 447, no Zimbabué foram contabilizadas 259 vítimas mortais e no Maláui as autoridades registaram 56 mortos. O Governo moçambicano adiantou que estes números ainda são provisórios, já que à medida que o nível da água vai descendo vão aparecendo mais corpos.