O asteroide “Lorde do Caos” vai passar ao largo da Terra numa sexta-feira 13, mas a NASA diz que não vai haver azar. Muito pelo contrário. “A comunidade internacional que investiga asteroides não podia estar mais entusiasmada”, refere o site da agência espacial norte-americana. O asteroide 99942 Apophis (nome oficial) vai passar a 31 mil quilómetros, em abril de 2029, uma distância suficientemente segura para lhes permitir focarem-se no que a ciência pode ganhar com o evento.

“A aproximação do Apophis, em 2029, vai ser uma oportunidade incrível para a ciência”, disse Marina Brozović, que usa os radares do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA para observar objetos próximos da Terra. “Vamos observar o asteroide com telescópios óticos e radares. Com as observações de radar podemos conseguir ver pormenores da superfície que têm apenas alguns metros.”

Os asteroides do tamanho do Apophis, que tem cerca de 340 metros de comprimento, são raros. E é ainda mais raro que passem tão perto da Terra — normalmente os que passam mais perto têm cinco ou 10 metros. Quando foi descoberto, em 2004, e depois dos primeiros cálculos, estimou-se que haveria um risco de 2,7% de que colidisse com a Terra em 2029 — a partir de 1% já é razão suficiente para haver preocupação. Observações e cálculos posteriores eliminaram esta hipótese. Há uma probabilidade de um em 100 mil de o asteroide colidir com a Terra, mas só daqui a muitas décadas — visto a aproximação de 2036 também ser encarada como segura.

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Apophis, o “Lorde do Caos” (na mitologia egípcia), o asteroide gigante, vai passar pela Terra a grande velocidade, tão rápido que vai atravessar o oceano Atlântico em cerca de uma hora. A má notícia é que, apesar de ser visível a olho nu como um ponto muito brilhante no céu, não vai sobrevoar a Europa. No vídeo em baixo pode ver a simulação do percurso (linha vermelha): da Austrália (em baixo à direita), atravessando África e a América do Norte.

Ainda antes de passar perto da Terra, Apophis já está a mexer com o planeta — ou pelo menos com as pessoas que nele vivem. Mas prevê-se que o impacto da Terra sobre o asteroide será maior do que o contrário. Por ação da força gravitacional da Terra, que se faz sentir com mais intensidade quanto mais próximo passarem os objetos, a órbita pode ser modificada, a forma como o asteroide gira sobre si próprio pode ser alterada e podem até acontecer algumas avalanches na superfície de Apophis.

Simular o impacto de um asteroide para estarem preparados

Apophis não trará o caos desta vez, ainda que o padre evangélico Paul Begley tenha tentado associá-lo ao Apocalipse. Mas uma das preocupações das agências espaciais é observar os objetos celestes que se aproximam da Terra para perceber qual o risco de colisão. Para imaginar o que pode acontecer ao planeta caso um asteroide caia à superfície, basta pensar que uma das hipóteses mais prováveis para a extinção dos dinossauros foi a queda de um meteorito na península do Iucatã, no México, e as alterações climáticas e atividade vulcânica que aí se terão originado.

Os cientistas levam tão a sério este trabalho que se atrevem a brincar ao faz-de-conta. Faz-de-conta que um asteroide 2019PDC vai colidir com a Terra no dia 29 de abril de 2027. O #fictionalevent (evento fictício) faz parte de um exercício de defesa planetária lançado na conta de Twitter da Agência Espacial Europeia (ESA), a 26 de abril deste ano. A partir desse momento, a ESa foi fornecendo dados sobre o que se ia descobrindo sobre o asteroide fictício e sobre o que poderia ser feito para evitar a colisão.

No dia 29 de abril, a ESA fez uma atualização da situação. O asteroide tinha um tamanho estimado de 140 a 260 metros, a probabilidade de colisão era de um em 10 e seriam libertadas 100 a 800 megatoneladas de energia com a colisão. Só para ter uma ideia, a Tsar Bomba, uma bomba nuclear soviética e a mais potente bomba nuclear alguma vez detonada, libertou 50 megatoneladas de TNT. “A pergunta é: como é que o desviamos? Temos oito anos”, escreveu a ESA no Twitter. “Uma pergunta vital é: devemos começar a desenvolver missões espaciais antes de ter a certeza do impacto ou antes de sabermos mais sobre o asteroide e sobre quanta deflexão [desvio da trajetória] é necessária?”

O exercício da ESA ia permitindo avançar no tempo de forma acelerada. Faz-de-conta que já passaram dois anos desde que o asteroide fictício foi detetado: “O primeiro veículo de reconhecimento foi desenhado, construído, testado e instalado num veículo de lançamento, que levará sete meses a chegar ao asteroide”, lê-se numa das publicações.

Como qualquer viagem ao espaço requer muito tempo de preparação e muito tempo até chegar ao destino, é preciso tomar decisões o quanto antes: “Quando a missão de reconhecimento chegar ao asteroide 2019PDC, a massa pode ser determinada totalmente. Contudo, a missão de deflexão já tem de ter sido lançada por essa altura.”

Quem quiser seguir a operação da ESA, e perceber o que pode ser feito depois de um asteroide em rota de colisão ser detetado, pode fazê-lo no Twitter, com a hashtag #fictionalevent. Ou nas conferências de imprensa que vão sendo partilhadas nos vídeos da página de Facebook da agência.