Nasceu em Detroit, em 1881, o homem que haveria de mudar para sempre a paisagem da aviação em todo o mundo. Filho de um alemão aventureiro que chegou aos Estados Unidos em 1868, com apenas vinte anos, o apelido de William Edward Boeing tem andando nas bocas do mundo, e não pelos melhores motivos. Um pioneiro que fundou a companhia em 1916 e que passaria os seus últimos dias num barco. Eis algumas curiosidades.

Os primeiros passos na indústria da madeira

William E. Boeing (1881–1956) deixou a universidade de Yale em 1903 para apostar na indústria da madeira no noroeste do país, um negócio cíclico, arriscado, mas financeiramente compensador, recorda a biografia reservada ao fundador no site da empresa. Investiu uma área extensa em redor de Grays Harbor, no oeste do estado de Washington, e foi bem sucedido, conseguindo capital para diversificar os investimentos. Na qualidade de presidente da Greenwood Timber Company, viajou para Seattle e assistiu à grande feira mundial Alaska-Yukon-Pacífico, uma mostra em 1909. Foi aí que Boeing, que já tinha experiência com o design de barcos, se deixou encantar pela aviação, decidindo-se a ter aulas como piloto na escola Glenn L. Martin, em Los Angeles.

O rigor e o leitor voraz

Uma “pessoa reservada, um visionário, um perfeccionista e obcecado com os factos”. A biografia no site da Boeing, em formato reduzido ou alargado, não esquece um dos traços de carácter mais vincados, e recorda ainda a frase que exibia num placard no exterior do seu escritório, com um ensinamento de Hipócrates, o pai da medicina: “Não há autoridade a não ser a dos factos”. Ainda segundo o seu filho, William Boeing, Jr., o fundador da companhia era um ávido e célere leitor, com uma memória prodigiosa que registava tudo o que lia.

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Uma réplica do primeiro modelo da empresa, o Boeing Model 1, B & W Seaplane, que se encontra num museu em Chicago © DR

O prometido é devido

Sob a sua liderança, Boeing converteu uma modesta empresa de aviação num império com uma série de ramificações para outros setores. Quando a legislação pós-Depressão sentenciou, em 1934, a sua dispersão, vendeu a sua parte na Boeing Airplane Co. mas manteve-se ligado a outros negócios. De resto, e segundo uma promessa feita junto dos antigos profissionais da casa, voltaria no papel de consultor durante a II Guerra Mundial, quando a empresa se lançou no fabrico de aeronaves de combate, com as empresas outrora desirmanadas de novo reunidas sob a mesma alçada, com o propósito de defender o país.

As aventuras na pesca e as corridas de cavalos

No final da década de 30, Boeing dedicou boa parte do seu tempo à pesca. De tal forma que ajudou a criar o isco artificial com pelo de urso polar usado na pesca do salmão. A ligação ao setor da madeira estender-se-ia até 1954 mas o grande destaque ainda nos anos 30 foi a criação de cavalos para corrida, chegando a acumular 40 exemplares nos seus estábulos em Walnut Creek, Califórnia, selando um contrato com o jóquei Basil James.

Da mansão para a quinta: a aposta na carne

Em 1942, Boeing doou a sua mansão em Highland Hills a um hospital ortopédico infantil e mudou-se com a mulher para uma propriedade com 500 hectares em Aldarra, perto de Fall City, Washington. Foi aqui que começou por criar puros sangue, passando mais tarde a concentrar atenções na raça de vacas Black Angus. É reconhecido o seu papel no desenvolvimento da certificação desta espécie no noroeste do país.

Os últimas dias num barco

Foi ainda em 1910 que William investiu num estaleiro para se poder dedicar à construção de um iate, que batizou como Taconite. Logrou mesmo salvar a construtora Hoffar-Beeching Co. durante o período da Depressão e ainda se empenhou numa segunda embarcação deste género, o Taconite II, que deveria ser um presente para a mulher, Bertha. Curiosamente, foi a bordo do seu iate, onde passava os verões em família, que morreu o homem dos aviões, em setembro de 1956. O fundador da célebre companhia não teve um funeral formal, sendo as suas cinzas atiradas ao largo da costa da Columbia Britânica, onde passara tantos meses a bordo da sua embarcação, o primeiro barco de um civil a possuir um radar depois da II Guerra.

Uma imagem de 1971. Um grupo de crianças atentas a algumas curiosidades sobre o Boeing 747, a que se seguiu um breve voo © William Lovelace/Daily Express/Getty Images