O ponto alto deste último dia de pré-campanha da CDU foi uma marcha com partida do Campo 24 de Agosto com destino à Rua de Santa Catarina, o palco favorito de qualquer campanha eleitoral. Faltava ainda uma hora para o início e junto à paragem de metro já se viam militantes a estender faixas no chão, a encher balões coloridos com uma botija de hélio, a retirar de uma carrinha bandeiras e cartazes. Se uns distribuíam autocolantes do partido, outros partilhavam garrafas de água, protetor solar e bonés, afinal os 30 graus faziam-se sentir.

“Camaradas do Porto no último pano”; “Camaradas de Valongo no penúltimo”; “Camaradas de Matosinhos no antepenúltimo” foram algumas das frases que se ouviam de um megafone no momento em que a marcha se organizava e ganhava forma. À frente ecoavam dois tambores e uma gaita de foles tocados no feminino, mas eis que perdem protagonismo quando todos começam a gritar “CDU”, sinal de que chegaram ao local Jerónimo de Sousa e João Ferreira. Atravessam todo o perímetro juntos, sorridentes, de mangas de camisa arregaçada e sem óculos de sol. Cumprimentaram todas as pessoas e tiraram algumas seflies até chegarem ao primeiro pano, onde se lia “Avançar é preciso”. Nele já seguravam Ilda Figueiredo, vereadora da CDU na câmara do Porto, Mariana Silva e Diana Ferreira, números 4 e 5 da lista de candidatos comunistas para as eleições europeias.

Agora a marcha pode começar, primeiro na Rua Fernandes Tomás, depois em Santa Catarina. No caminho foram muitas as palavras de ordem, mas poucas as trocadas entre João Ferreira e Jerónimo de Sousa. Se um bebia água, outro olhava para as janelas cumprimentando quem não resistia a ir espreitar, mas ambos sorriam quando alguém fechava o punho e gritava “CDU”. No palco principal, em Santa Catarina, Jerónimo já acompanha as frases clássicas “CDU, voto eu e votas tu” ou “A CDU avança, com toda a confiança”, ganhando fôlego para os discursos que se seguiriam. Sol, calor e domingo são sinónimos de muita gente nas ruas, dos turistas de telemóvel na mão, a eternizar o momento, aos lesados do BES que fizeram questão de pedir pessoalmente a Jerónimo que não se esqueça deles e da sua luta.

PS, PSD e CDS: descubra as diferenças

Mas a mesnsgem do secretário-geral do partido era outra. Perante os milhares de apoiantes que se juntaram no Porto, Jerónimo de Sousa não poupou criticas ao PS e à sua ação nos últimos dias. “Na semana passada vimos o PS a fazer cálculos eleitorais, a tentar libertar-se do facto de não ter a mãos livres para andar parra trás”, diz, acrescentando que “nesta nova fase da política nacional, o PS não mudou, o que mudaram foram as circunstâncias e a correlação de forças existentes na Assembleia da República.”

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Jerónimo recorda que os socialistas “não se sentiram bem” em relação a muitas matérias, nomeadamente na “reposição de direitos e rendimentos”, e recorda a primeira reação do PS a algumas propostas apresentadas, acusando o aumento do salário mínimo nacional para 850€ de uma medida “irrealista”. “São os mesmo que reconhecem que os salários dos deputados europeus são normais, mas depois em relação ao salário mínimo nacional não pode ser, porque é irrealista.

O líder comunista não tem dúvidas de que “o PS quer libertar-se” com vista a ter uma maioria absoluta e sem “querer fazer julgamentos da história”, destaca que ao longo dos anos “todos sabemos bem o que constituíram as maiorias absolutas do PS, com todas as consequências no retrocesso social”.

O PS foi um alvo, claro. Mas não foi o único. Jerónimo de Sousa garante, aliás, não descobrir diferenças entre os três partidos da oposição: “Vemos por aí deputados do PS, PSD e CDS a desunharem-se a provar que são diferentes, é uma missão bem difícil. Foram iguais nas decisões fundamentais”, disse, sublinhando que o que “a CDU disse na Rua de Santa Catarina é o mesmo que disse na Assembleia da República e no Parlamento Europeu”.

João Ferreira entre os ataques à direita, ao PS (e ao Bloco também)

A campanha para as eleições europeias só começa oficialmente na segunda-feira, mas a CDU, tal como todas as outras forças partidárias, já está na rua para conquistar votos. O sábado foi passado no distrito de Lisboa e este domingo a norte. João Ferreira, cabeça de lista da CDU para o Parlamento Europeu  começou por almoçar com cerca de uma centena de apoiantes do partido na Quinta da Persa, em Viana do Castelo. Por lá, fez saber que a CDU foi o “único partido” a votar contra o “aumento substancial” dos vencimentos dos eurodeputados.

João Ferreira diz que salários dos eurodeputados devem ter “vínculo” a quem os elege

Na arruada feita pelas ruas da baixa do Porto voltou a falar da polémica do dia, reafirmando o que disse e acrescentando que nessa matéria nem todos os deputados “foram iguais”. Entre as críticas à oposição, João Ferreira também não tem duvidas em colocar PS, PSD e CDS no mesmo saco. E de caminho, atacar também o Bloco que num dos últimos debates entre cabeças de lista, criticou as perguntas que os comunistas fazem à Comissão Europeia: “Aqueles que passados estes 5 anos de mandato têm para apresentar ao povo português uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, bem podem vir agora dizer com dor de cotovelo que trabalhamos para a estatística ou refugiarem-se em máximas e tiradas da cartilha anti-comunista de trazer por casa. Digam o que fizeram, prestem contas ao país e ao povo como nós fazemos todos os dias.

O candidato comunista falou de uma “lógica centralista” defendida por muitos. “O PSD e o PS, sempre criativos em arranjar soluções para que pareça que alguma coisa mude, mas que na verdade fique na mesma ou pior, assinaram uma espécie de tratado de Tordesilhas em que ambos combinam impedir o avanço da regionalização.” E, por falar em debates, João Ferreira diz que “uma vez mais podemos dizer fugiu o pezinho ao PS para se aliar com o PSD em momentos decisivos e, neste caso, num processo pouco sério e rigoroso”, concluindo que os dois partidos “convergem” e que agora “tentam divergir nos debates televisivos”. “Quando tantos falam do interior e do mundo rural quando, choram lágrimas de crocodilo por aquilo que podiam ter feito quando eram governantes e não o fizeram, nós perguntamos daqui: quem tem medo da regionalização? Quem quer impedir a regionalização?”

ELEICAO EUROPEIA, CDU,

Reafirmando que o partido “põe os interesses do país à frente dos interesses da União Europeia”, o eurodeputado volta as atenções para o trio partidário à sua direita: “Se afirmamos vezes sem conta que rejeitamos a submissão do país às imposições da União Europeia, é exatamente porque sabemos que essas regras, que PS e PSD e CDS lá subscrevem, mas que cá querem esconder, impedem o desenvolvimento do nosso país.

Para o também vereador da Câmara Municipal de Lisboa, nesta campanha PS, PSD e CDS “esforçam-se por representar supostas diferenças, por mostrar encenadas divergências”, sendo que a verdade “é que lá como cá, invariavelmente, juntaram os trapinhos e votaram contra os interesses nacionais.”

E como o seguro morreu de velho, no final do discurso, João Ferreira deixou um aviso para “não haver confusões” no boletim de voto. “O voto acertado é no ultimo quadrado”, esclareceu.