A campanha de re-eleição de Donald Trump já gastou mais dinheiro em anúncios do Facebook do que qualquer adversário democrata, replicando assim a mesma estratégia que lhe garantiu a vitória em 2016.

Segundo o The New York Times, Trump terá investido com mais força no início deste ano de 2019, quando o número de adversários era mais pequeno — algo que hoje é bem diferente. Desde que que Joe Biden entrou na corrida, no mês passado, a sua equipa injetou centenas de milhares de dólares no mesmo tipo de propaganda, conseguindo ultrapassar o atual presidente dos EUA.

No início do ano, Trump gastava mais que todos os adversário democratas juntos, apesar de esse número eventualmente ter mudado. “Durante muito tempo, Trump estava a apostar numa intensiva campanha a que ninguém ligava”, explicou Mike Schneider, um dos responsáveis da Bully Pulpit Interactive, uma empresa de comunicação política e marketing que tem estado a rastrear o dinheiro gasto pelos candidatos em anúncios no Facebook.  “Apesar de os democratas terem conseguido apanhar Trump ao nível de investimento, eles estão a degladiar-se pelo mesmo grupo de apoiantes, enquanto ele está a alargar a sua base eleitoral”, afirmou o mesmo Schneider.

Grande parte dos gastos de Trump nesta área foram direcionados para anúncios que têm como alvo norte-americanos mais velhos, particularmente mulheres com mais de 55 anos, afirma a mesma empresa. O eleitorado mais velho é muito importante para as ambições de Trump, tendo sido uma faixa etária determinante para lhe dar a vitória sobre Hilary Clinton, em 2016, segundo as as sondagens feitas à boca das urnas. A aposta no eleitorado feminino também é justificada pelo grande decréscimo de apoio (por parte de mulheres brancas) sentido nas passadas eleições intercalares.

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O atual presidente norte-americano pode verter milhões em publicidade via Facebook porque tem uma grande vantagem no campeonato da angariação de fundos que o coloca à frente dos mais financiados candidatos democratas. Ele terminou o primeiro quarto do ano com um orçamento de 41 milhões de dólares, bem mais do que Bernie Sanders, o mais bem financiado dos democratas.

A campanha de Trump recebeu muita atenção durante as eleições de 2016 pela forma agressiva como comunicou através do Facebook. Em entrevistas feitas após a vitória de Trump, Brad Parscale — o diretor digital da campanha — descreveu como a campanha de Trump procurou tirar o máximo partido do Facebook para alcançar possíveis eleitores. Os anúncios do Facebook permitiram alcançar sítios “que nunca seria alcançáveis via televisão”, afirmou o mesmo Parscale numa entrevista dada ao programa “60 Minutes”, em 2017.

Para tornar mais eficiente este tipo de publicidade, a campanha de Trump utilizou dezenas de milhares de variados anúncios diariamente, explicou Parscale, que está outra vez a ajudar o atual presidente na re-eleição. “Mudar linguagens, palavras, cores […] Algumas pessoas preferem a palavra ‘doar’ em vez de ‘contribuir'”, afirmou.

Os responsáveis pela campanha esperam gastar centenas de milhões de dólares na sua estratégia para 2020, explicam os próprios ao NYT. Muitos dos anúncios no Facebook da campanha de Trump estão desenhados de forma a pôr os utilizadores a ceder a sua informação de contacto, expandindo o tamanho da campanha que já conta com uma enorme lista de apoiantes. Outros exemplos solicitam donativos ou tentam vender merchandise Trump, por exemplo.

“Os anúncios do Facebook são uma forma valiosa de aumentar a tua base de dados de e-mails. Quantos mais tiveres, mais dinheiro podes angariar”, relatou Eric Wilson, um estratega digital republicano. “Há uma linha direta para recursos de campanha.”

Um dos fenómenos mais curiosos dos últimos tempos foi o grande investimento feito pela equipa de Trump a propósito do aniversário do presidente, que fará 73 anos já no próximo mês. Pela internet tem surgido um anúncio que pede às pessoas que assinem um cartão de parabéns. Visualmente, os reclames vão alternando bastante, havendo umas versões onde se vê um jovem com um boné do partido republicano a ser abraçado pelos seus amigos, que carregam prendas e balões; outros mostram uma mulher com um bolo de aniversário e há ainda outra versão onde só aparece Donald Trump. Curiosamente, em muitas destas versões diz-se incorretamente que o atual presidente fará 72 anos. Esta tática já foi utilizada no mês passado, com o aniversário da Primeira-Dama, Melania Trump, e serviu o mesmo propósito: reunir e-mails de possíveis eleitores.

No total, Parscale e a sua equipa esperam acumular contactos de 40, 50 ou 60 milhões de pessoas a tempo das eleições de 2020. “Somos capazes de ter o contacto direto de toda a gente que poderia votar Trump no dia das eleições”, afirma. Alguns dos temas explorados por estes anúncios são os da imigração, socialismo e a suposta “caça às bruxas” que está a ser realizada contra o próprio presidente — temas que Trump gosta de discutir e poderá continuar a fazê-lo num eventual segundo mandato. Ultimamente até têm aparecido anúncios em espanhol que falam sobre o papel de Trump na crise venezuelana.

“Conseguimos perceber parte da estratégia eleitoral do presidente analisando estes anúncios”, afirmou Tara McGowan, estratega digital dos democratas.  A imigração foi um ponto fulcral da campanha de Donald Trump no ano de 2016 e será um grande gancho na re-eleição. Alguns anúncios perguntam se o presidente deve fechar a fronteira, outros pedem aos internautas que preencham um questionário oficial sobre as autoridades fronteiriças onde se encontram perguntas como “Acha que os democratas estão preocupados com a sua segurança?”