A Jovem Orquestra Portuguesa (JOP) leva ao festival internacional Young Euro Classic, na próxima sexta-feira, em Berlim, um projeto “revolucionário”, com uma peça “inclusiva” que mostra que a música pode e deve ser para todos.

“Passamos a vida a dizer que a música é uma linguagem universal, mas, para isso acontecer, não podemos deixar ninguém de fora”, revela, em declarações à agência Lusa, o maestro Pedro Carneiro, sublinhando a importância da peça “Alcance | Reach”, de João Godinho, que representa quase um ano de trabalho com este compositor português.

“O projeto, que tem com a nossa equipa, chama-se ‘Notas de Contacto’, que levamos a cabo há uma década com a Cerci Oeiras [Cooperativa Educação e Reabilitação de Cidadãos com Incapacidade]. Utilizamos a música como ferramenta para trabalhar com pessoas com deficiência, não como musicoterapia, mas na criação de objetos artísticos, de concertos de espetáculos, em que estas pessoas desenvolvem as suas capacidades musicais, muitas vezes com instrumentos adaptados à sua especificidade e com compositores que escrevem música para eles”, explica Pedro Carneiro.

Este concerto, revela o maestro, pretende ser “uma mensagem de paz e uma afirmação política”, no que é considerado “o festival mais importante de orquestras jovens do mundo”. A estreia desta peça de João Godinho é “um orgulho e, obviamente, um ato de coragem”, acrescenta.

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“Ao criarmos, estrearmos e apresentarmos em palco esta peça inclusiva, em que celebramos, em harmonia, no palco, a inclusão, o direito à expressão artística, colocamos Portugal na linha da frente neste tipo de afirmações”, realça.

No total são cinco os utentes da Cerci Oeiras, e três professores, que vão estar em palco com a JOP, em Berlim.

“Tem sido delicioso trabalhar com eles nos ensaios, porque estão muitíssimo bem preparados. Não só têm alguns instrumentos adaptados como também há sistemas de notação musical que foram desenvolvidos e que vão ser utilizados. Eles têm uma partitura adaptada no iPad, que é interativo e que vai passando ao longo da obra”, descreve Pedro Carneiro.

É a terceira vez que a Jovem Orquestra Portuguesa participa no festival Young Euro Classic (depois de estar presente nas edições de 2015 e 2017), considerada a mais importante plataforma de divulgação de jovens orquestras e talentos da área da música clássica. Pelo certame passam orquestras de todo o mundo, da China à Rússia, passando pelos Estados Unidos.

Em 2015 a JOP estreou, neste festival, uma peça de Pedro Lima Soares. Dois anos depois, foi a vez do trabalho de Mariana Vieira.

“Levamos sempre uma peça de um compositor ou compositora português. Em 2017 levámos a peça ‘Raiz’, de Mariana Vieira, que tinha 21 anos na altura, e que ganhou o ‘European Composer Award’, distinção [que é dada] à peça favorita em estreia no festival. Foi uma honra enorme para nós, e para a Mariana também, já que foi a primeira grande encomenda dela”, adianta Pedro Carneiro.

“As experiências foram fantásticas. As salas estiveram cheias, os concertos foram gravados e transmitidos por toda a Europa. Os espetáculos foram muito bem recebidos pelo público e pela crítica. A JOP tem sido uma das orquestras preferidas do festival e também por isso estamos aqui a representar Portugal”, revela.

Para Pedro Carneiro a presença neste festival é um “momento importantíssimo também para Portugal, porque se vê representado por esta ‘seleção nacional’ da música erudita”, por isso lamenta que, apesar dos convites, nenhum elemento do governo vá ao concerto.

“Tenho pena que não tenhamos nenhum membro do governo ou o Presidente da república neste concerto (…). É um momento muitíssimo importante. Não deixa de ser com orgulho que estaremos a representar Portugal neste festival e com este programa muito especial”, remata o maestro da JOP.

Além da estreia de “Alcance | Reach”, de João Godinho, a Jovem Orquestra Portuguesa tocará também uma peça de George Enescu e de Ludwig van Beethoven.

O concerto, que se insere no Young Euro Classic está marcado para a próxima sexta-feira, 26 de julho, às 20:00 (hora local), na Konzerthaus de Berlim. O festival comemora duas décadas de existência, que coincide com os 30 anos da queda do muro de Berlim.