O Presidente de Governo em funções de Espanha, Pedro Sánchez, endureceu o discurso contra o Unidas Podemos, deixando ainda mais evidente que, mais de dois meses depois das eleições e após uma tentativa de investidura falhada, o cenário de novas eleições pode estar mais perto.

Quando questionado sobre a relação do seu partido, o PSOE, com o Unidas Podemos, de Pablo Iglesias, Pedro Sánchez respondeu: “Tenho de dizer depois de tantas vezes que [no Unidas Podemos] disseram que desconfiam do PSOE, eu próprio acabei por desconfiar das posições do Unidas Podemos e do senhor Iglesias. Portanto, a desconfiança entre o PSOE e o Unidas Podemos é recíproca”.

As declarações de Pedro Sánchez surgem depois de uma consulta com o Rei Filipe VI e enquanto o líder dos socialistas enceta uma segunda fase de negociações. Esta segunda-feira, o Rei Filipe VI disse que “o melhor é encontrar uma solução [de governo] antes de ir a eleições”.

Porém, essa matemática não está fácil. Para governar, o PSOE precisa de uma maioria absoluta de votos a favor numa primeira votação de investidura ou uma maioria simples (em que basta que haja mais votos a favor do que contra, além das abstenções) numa segunda votação. Porém, nas duas votações de julho, as primeiras depois das eleições gerais de 28 de abril, o PSOE não conseguiu juntar os votos necessários para esse efeito. O Unidas Podemos sempre se absteve, ao passo que o Partido Popular e o Ciudadanos votaram contra nas duas sessões.

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Durante a sessão de investidura, o Unidas Podemos procurou garantir cinco ministérios: Direitos Humanos, Igualdade e Economia da Assistência Social; Ministério do Trabalho, Segurança Social e Luta Contra a Precariedade; Transição Energética; Meio Ambiente e Direitos dos Animais; Justiça Fiscal e Luta Contra a Fraude; Ciência, Inovação, Universidades e Economia Digital. Essa pretensão não chegou a ser aprovada pelo PSOE e, esta quarta-feira, Pedro Sánchez sublinhou que o Unidas Podemos queria ter “dois governos num só” e um “governo de compartimentação em vez de um governo de coligação”.

“Um governo tem de ter uma única direção, tem de ser coeso e coerente nas suas linhas de ação política”, sublinhou Pedro Sánchez.

Ainda assim, Pedro Sánchez não negou a possibilidade de um governo de coligação com o Unidas Podemos. “Há muitas fórmulas”, referiu. “O propósito é criar um governo progressista que não dependa de forças independentistas na investidura e sem dúvida na governabilidade do nosso país. Por isso, pedi ao grupo do Unidas Podemos o seu apoio, tal como pedi ao grupo parlamentar do PP e do Ciudadanos que facilitassem com a sua abstenção, para que se possa constituir, quanto antes, um govenro no nosso país com a presidência do PSOE”, disse Pedro Sánchez.

Seja como for, qualquer solução encontrada entre o PSOE e o Unidas Podemos deverá, à partida, esbarrar no Congresso dos Deputados. Pedro Sánchez disse que não “[atira] a toalha” e que “os espanhóis não merecem ter de ir a eleições outra vez”, mas a verdade é que o calendário continua a avançar sem que com a passagem dos dias se produzam novos desenvolvimentos.

Bem marcado no calendário está o dia 23 de setembro, data final para haver um novo governo em Espanha. Se até aí não houver uma solução, serão convocadas novas eleições. Para já, esse cenário pode interessar ao PSOE, uma vez que as sondagens lhes dão um resultado manifestamente superior ao conquistado nas eleições de abril.

Na última sondagem do CIS, o PSOE surge com 41,3% das preferências — bem acima dos 28,7% de abril. Em segundo lugar, está o PP com 13,7% (teve 16,7% em abril); em terceiro lugar o Unidas Podemos com 13,1% (baixando dos 14,7%); em quarto o Ciudadanos com 12,3% (depois dos 15,9% de abril) e em quinto lugar o Vox, com 5,1% em vez dos 10,3% de abril.