Foi um longo e quente verão, ainda a longa distância de emergências climáticas e nortadas imprevistas em pleno agosto. Um autêntico banho de água quente, saído dos areais californianos e a desaguar nos ecrãs de televisão de milhões em todo o mundo. A grande onda revivalista não estaria completa sem um regresso a “Baywatch”, ou “Marés Vivas”, na versão portuguesa que gerou igual grau de entusiasmo e culto. A viagem até 1989, a casa de partida da série que retratava as aventuras de um grupo de salva-vidas nas praias de Los Angeles e ainda os seus dramas pessoais, será agora em forma de documentário, ainda sem data de estreia prevista.

Matthew Felker, de 39 anos, e Brian Corso, 44, são os realizadores de serviço, depois de terem unido esforços em “Public Figure”, o projeto para a Amazon Prime sobre o universo das redes sociais. “Baywatch: o documentário” reunirá uma série de elementos de topo do elenco e vai contar com os respetivos testemunhos sobre como foi passar uma parte generosa da vida profissional num fato de banho encarnado. À The Hollywood Reporter, os responsáveis pelo formato explicam como, para lá do visual balnear e da eventual nostalgia, o filme tentará trazer à tona o profundo impacto cultural da série, que a certa altura, por volta de 1996, garante o Guinness, se converteu na mais vista em todo o mundo. Felker e Corso mostrarão ainda o que é feito dos protagonistas da saga, liderada por David Hasselhoff, que na pele de Mitch Buchannon sobreviveu até ao desfecho, na décima primeira temporada.

Numa sessão promocional em Londres quando a série chegou ao Reino Unido. Alexandra Paul, David Charvet e Pamela Anderson fotografados por Arnold Slater, a 21 de janeiro de 1993 © Mirrorpix/Getty Images

“Queremos mostrar ao público como definiu toda uma década”, descreve Felker, que tirou o curso de salva-vidas depois de assistir a Baywatch, inspirado pelo ambiente retratado. “O cenário, a vibração, o tom, gritava anos 90 por todos os lados. Baywatch foi para aquela década o que as Kardashians são hoje para a cultura pop”.

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A dupla contará com a produção da Red Button Films e Antisocial Hero. Quanto às estrelas convocadas e entrevistas aguardadas já há confirmações, casos de David Hasselhoff, Nicole Eggert (Summer Quinn), David Chokachi (Cody Madison, que acabou por substituir David Charvet), Alexandra Paul (Stephanie Holden), Erika Eleniak (Shauni McClain), Gena Lee Nolin Hulse (Neely Capshaw), Jason Simmons (Logan Fowler) e Jeremy Jackson (Hobie Buchannon). Quanto a outros pesos pesados como Pamela Anderson (C. J Parker), Carmen Electra ou Michael Bergin, Matthew e Brian garantem que continuam a fazer de tudo para que se juntem à equipa, que ainda este mês ou já em setembro deverá arrancar com as gravações.

David Hasselhoff, Pamela Anderson, Alexandra Paul, Jeremy Jackson, Jaason Simmons, Yasmine, David Charvet, e Gregory Alan Williams em 1994, quando Baywatch celebrou os 100 episódios transmitidos © Ron Galella/Ron Galella Collection via Getty Images

“Baywatch foi viral antes mesmo do fenómeno viral”, defende Alexandra Paul enquanto Gena Lee recorda como se espalhou a ideia de assistência e primeiros socorros graças à série. “Passámos em 163 países e a série é tão popular hoje como foi nos anos 90. Todos os episódios estão a ser transmitidos na Amazon Prime e na Hulu. Continua a fascinar-me”, partilharam à The Hollywood Reporter.

Os fãs não esquecerão também boa parte da fórmula, provavelmente pouco compatível com os padrões atuais, ou pelo menos objeto de controvérsia qb: uma equipa de nadadores-salvadores de corpos esculturais e bronzeados e alguma da mais reveladora roupa de banho da história da televisão, com closes inéditos a ajudar à festa. De resto, Yasmine Bleeth foi das poucas senão a única das atrizes do elenco a recusar uma soma astronómica para posar nua para a revista Playboy, a casa de chegada de uma série de nomes femininos no auge da popularidade de “Marés Vivas”.

Pamela Anderson numa das imagens mais clássicas de ‘Baywatch’, por volta de 1990, quando tinha apenas 23 anos © Kypros/Getty Images

Mas para a tenente Stephanie Holden, ou Alexandra Paul, “Marés Vivas” terá feito mais pela emancipação feminina do que à primeira vista se possa pensar, para lá das generosas e omnipresentes doses de sensualidade. “Qual foi o impacto do programa em termos de igualdade de género, sexualidade, empoderamento e como isso se aplica ao clima corrente? Era uma série feminista. Não se riam, ouçam-me: Havia tantas mulheres como homens no elenco. As mulheres tinham profissões que na vida real, na altura, eram dominadas pelos homens. Fazíamos o mesmo número de salvamentos. A minha personagem costumava discutir com a do Hasselhoff. Tudo isto era pouco comum nos anos 90!

Surpresa! Havia sexo (e muito) nos bastidores da série Marés Vivas

E se a longa-metragem de 2017 que revisitou “Baywatch” (com Dwayne Johnson e Zac Efron) ficou a léguas de distância do sucesso de outros tempos, os realizadores do documentário recordam como a série serviu de rampa de lançamento para inúmeras estrelas, apesar de “Marés Vivas” continuar a ser vista por muitos como um produto “menor”. “As pessoas eram muito snobs em relação a “Baywatch'”, aponta Felker. Mas de Jason Momoa e Mila Kunis sem esquecer Michelle Williams ou Sofia Vergara — “e a lista continua” — uma vasta tripulação deixou a sua marca por aqui.