Rui Rio é o número dois da lista do PSD pelo círculo eleitoral do Porto nas próximas eleições legislativas de 6 de outubro mas não se sente muito motivado com a função a que se candidata. “Fui deputado durante 10 anos. Mesmo quando saí, eu já achava que aquilo está degradar-se e já não me entusiasmava assim tanto. E entretanto já se degradou mais. [Ser deputado] Não é função que me entusiasme completamente“, afirmou numa entrevista à Agência Lusa.

Questionado sobre se vai assumir o lugar deputado, Rui Rio responde: “Ah, vou assumir. Lá estarei”, afirmou igualmente sem grande entusiasmo.

Rui Rio elegeu ainda quatro setores que devem ter reformas estruturais e que serão a prioridade do PSD para a próxima legislatura: o sistema eleitoral, a Segurança Social, a descentralização e a Justiça. Mesmo que os social-democratas percam as eleições, Rio admite fazer acordos com um eventual Governo PS e com outros partidos para que sejam executadas essas reformas. “Estas quatro áreas requerem maiorias alargadas que não têm de ser necessariamente em votos. Podem ser, digamos assim, em conforto político”

Eventual acordo com o PS? Só “por escrito”

O presidente do PSD, Rui Rio, afirmou que qualquer acordo sobre reformas que possam vir a ser feitas com um Governo PS teria de ser “por escrito”, considerando também que, apesar da diferença das tendências de voto, ainda há tempo para o partido recuperar.

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Numa entrevista à Lusa, o líder do PSD também se referiu a António Costa, dizendo que não o desiludiu como primeiro-ministro, mas que esperava que tivesse tido “mais ousadia para reformar e para melhorar” o país.

“Eu acho que qualquer acordo, seja com que partido for, seja como for, tem de ser sempre por escrito”, disse Rui Rio, ao abordar o tema da necessidade das reformas estruturais, como a do sistema político, segurança social, descentralização e justiça. “Mesmo por escrito, às vezes é preciso pedir a terceiros para interpretar o que ambos queriam dizer”, acrescentou, em tom irónico.

Para o líder do PSD, que nos últimos tempos tem endurecido o tom de crítica ao governo, há ainda tempo para inverter a tendência eleitoral, que aponta para uma vitória folgada do partido no poder.

“Eu tenho consciência de que o PS vai à frente”, afirmou, sublinhando que tem “os pés assentes na terra”, mas os 30 dias que faltam até às eleições “são mais do que suficientes para inverter [essa tendência]”. Segundo Rui Rio, que disse partir não do patamar das sondagens, mas do sentir das pessoas, o fator fundamental é ele ser uma pessoa conhecida, “que já cá anda há muitos anos” e não um líder “nascido das guerras partidárias”.

“Eu comecei na política antes do 25 de Abril, de uma forma mais visível como deputado, há 20 e tal anos. É por isso que eu digo que está tudo em aberto [caso contrário], se as pessoas não me conhecessem, 30 dias para me conhecerem era curto”, sublinhou.

Segundo Rui Rio, o que o leva a ter essa convicção é o que vê na rua, “a margem de indecisos, mas indecisos sinceros, pessoas que querem votar, mas não sabem mesmo como [porque] do governo não gostam, olham para a oposição e ainda não sentiram que se tivesse afirmado”.

Questionado como fará para marcar as posições entre PSD e PS perante um eleitor do centro, que diz ser aquele que disputa com este último partido, Rio declarou que será com duas diferenças fundamentais: “uma relativamente à governação em concreto, que tem diferenças”, embora não “gigantescas”, mas “claras” e a outra “com a postura e com a forma de ser”.

“Eu acho que o que nós temos é de incutir confiança no eleitorado, que somos capazes de fazer aquilo que as pessoas querem que seja feito e que isto não é só conversa”, asseverou, para destacar que isso “é que é fundamental” para o eleitor: “Está a mentir ou não está a mentir? Faz ou não faz?”.

É nessa perspetiva que Rui Rio conta com o potencial do seu “historial” político e no qual assenta a sua convicção de que “isto é tudo reversível”, mesmo reconhecendo que “a dinâmica do governo é maior do que aquela que foi a da oposição”.

Nesta entrevista à Lusa, Rui Rio afirmou ainda que as críticas que tem feito sobre o aumento do endividamento externo devem ser vistas como alertas de “um caminho errado” que deve ser invertido.

“Nada disto quer dizer que a ‘troika’ aparece cá depois do Natal”, salientou.

O líder do PSD foi mais contundente em relação a anteriores governações socialistas, que disse terem tido, em média, “défices externos de 10% do PIB”.

“Só podia acabar com uma ‘troika’, era um disparate. A dra. Manuela Ferreira Leite explicou isto à saciedade, as pessoas não quiseram ouvir. Mesmo que tivesse ganho as eleições já não haveria muito a fazer, o destino já estava traçado. Aquilo foi ali mais um ano e tal, e ‘pumba’, como se costuma dizer”, lamentou.