No seguimento de um arranque de temporada em que escapou à irregularidade de Real Madrid e Barcelona e saltou para a liderança da liga espanhola graças a essa regularidade que os principais rivais não conseguiam impor, o Atl. Madrid somou uma derrota com o Real Sociedade, um empate com o Celta Vigo e ainda outro empate sem golos com os merengues. Estas três semanas, que no entretanto ainda tiveram outro empate com a Juventus para a Liga dos Campeões, levaram Simeone a pensar que era necessário mudar alguma coisa, virar a página e tentar abrir um novo capítulo.

A meio desta semana, na Rússia e contra o Lokomotiv Moscovo de João Mário e Éder, o treinador argentino lançou Morata, Diego Costa e João Félix, todos juntos no onze inicial, uma solução diferente da usada desde o início da época que assentava na utilização de um dos espanhóis ao lado do português. Com o Lokomotiv, num jogo que deu frutos, deu vitória e onde João Félix se estreou a marcar na Liga dos Campeões, o jogador ex-Benfica atuou tombado na direita mas a procurar espaços interiores atrás de Morata e Diego Costa e Simeone descorbiu uma nova zona de influência para o reforço mais caro da história do Atl. Madrid. Este domingo, na visita ao Valladolid, a escolha era fácil de fazer: Morata, Costa e Félix estavam todos, novamente, no onze inicial dos colchoneros.

A atuar, desta vez, mais junto à faixa esquerda, João Félix assistiu a uma primeira parte muito nova, longe da intensidade que o Atl. Madrid aplicou na Rússia com o Lokomotiv. Ainda que Morata estivesse muito ligado ao jogo e a dar muito trabalho aos defesas do Valladolid, a verdade é que a ausência de Diego Costa das zonas de concretização tornava difícil para a equipa de Diego Simeone criar verdadeiras oportunidades de golo. Na ida para o intervalo, e já depois de Sandro — que não marca há quase dois anos — desperdiçar uma grande penalidade que tinha conquistado a Thomas Partey (36′), o Atl. Madrid não tinha ficado perto de marcar, João Félix estava a cumprir uma exibição tímida e o clube da capital espanhola precisava de fazer algo mais para ultrapassar o muro do Valladolid.

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Na segunda parte, ainda que com uma inegável subida de rendimento, os colchoneros continuavam pouco fluidos, sem ligação entre os setores e a jogar quase aos repelões, da linha defensiva diretamente para o ataque, sem transições ponderadas ou desmarcações oportunas. Morata continuava o mais interventivo, Diego Costa permanecia escondido entre os centrais do Valladolid e João Félix não encontrava os espaços interiores que com o Lokomotiv foram a chave do sucesso. Por volta da hora de jogo, e logo depois de ver um cartão amarelo por protestos, o internacional português que acabou de ser novamente convocado por Fernando Santos para a Seleção Nacional foi substituído por Simeone. Em nove jogos desde o início da temporada com a camisola do Atl. Madrid, Félix foi substituído em sete — e continua com alguma dificuldade em mostrar serviço na liga espanhola.

Morata foi o melhor do Atl. Madrid contra o Valladolid e um dos poucos que tentou evitar o empate

Simeone lançou Herrera para segurar de vez o meio-campo e criar uma primeira linha defensiva mais adiantada para empurrar de forma derradeira o Valladolid para o próprio meio-campo mas tirou Morata — o avançado espanhol, que tinha sido o mais móvel e mais inventivo dos colchoneros, deixou a frente de ataque totalmente entregue a Diego Costa, que até esse momento raramente tinha tocado na bola para criar lances de perigo. A saída de Morata esvaziou por completo uma equipa que já não tinha ideias e o jogo arrastou-se até ao apito final com muitas faltas e pouco discernimento, com o Atl. Madrid a bombear bolas para a grande área adversária — a melhor oportunidade pertenceu a Correa, que rematou ao poste (82′) — e com o Valladolid a defender o empate com tudo aquilo que tinha.

Depois de um mercado de transferências promissor que deu lugar a um início de temporada também ele prometedor, o Atl. Madrid caiu de rendimento nesta fase da época e tem vindo a perder pontos de forma consecutiva. Com este resultado, a equipa de Simeone fica à mercê de Barcelona e Real Sociedad, que em cenário de vitória podem ultrapassar os colchoneros e subir ao segundo lugar da tabela, atrás do Real Madrid. Num ano que foi apontado como o de reconstrução do espírito vencedor da equipa e consolidação de um projeto que foi desenhado desde o final da época passada com o objetivo de renovar o plantel, o Atl. Madrid não está a conseguir responder às expectativas. E João Félix, que foi fulcral a meio da semana na Liga dos Campeões, saiu visivelmente desiludido com a própria exibição e ainda não conseguiu fazer da liga espanhola o seu jardim — mas também porque ninguém lhe está a regar as flores.