A China estará a equacionar substituir Carrie Lam, chefe do governo de Hong Kong, por um líder interino, na sequência dos protestos violentos que decorrem na cidade há cinco meses, segundo avança o Financial Times.

O novo chefe de governo interino deverá subir ao poder em março e manter-se até ao fim do mandato de Carrie Lam, em 2022. Entre os candidatos, o Financial Times destaca dois: Norman Chan, atual chefe da autoridade monetária de Hong Kong, e Henry Tang, atual número dois do governo de Hong Kong — cargo que era ocupado por Carrie Lam antes de ela própria subir a chefe do executivo regional.

Entre os potenciais candidatos ao lugar estão também Paul Chan e Bernard Chan, que fazem parte do conselho executivo de Lam. O primeiro é o responsável pelas finanças do governo regional e o segundo lidera um conselho executivo de aconselhamento ao governo regional. “Queremos olhar para pessoas que serviram no governo regional, mas também para quem saiba como funcionam os negócios aqui”, declarou ao jornal um membro da elite de Hong Kong próximo do Governo central chinês. “E claro que têm de se apoiar em Pequim”.

Já lá vão cinco meses de protestos, com os manifestantes a fazerem cinco exigências (revogação da lei da extradição, inquérito à violência policial, libertação de ativistas detidos, mais liberdades democráticas e a demissão de Lam). O jornal britânico avançou em julho que a chefe de governo propôs demitir-se do cargo em junho, algo que o governo chinês rejeitou quando confrontado inicialmente com essa possibilidade.

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Em finais de agosto, a agência Reuters noticiou também que Carrie Lam terá proposto a Pequim ceder a algumas das exigências feitas pelos manifestantes, algo que não terá agradado aos representantes do Partido Comunista Chinês.

Carrie Lam propôs ceder a algumas exigências dos manifestantes em Hong Kong. Pequim rejeitou

O mal-estar entre Pequim e Lam já era notório em alguns pontos ao longo dos últimos meses. Ainda na semana passada, na sequência do discurso anual da chefe de governo na assembleia legislativa — que foi interrompido por protestos e teve de ser emitido em vídeo —, o maior partido pró-Pequim da região, a Aliança Democrática para o Melhoramento e o Progresso de Hong Kong, fez críticas a Carrie Lam: “Para além de pedir às pessoas para serem pacíficas e racionais, devia ter proposto medidas substanciais para que as pessoas tenham confiança de que a ordem social será restaurada”, afirmou a presidente do partido, Starry Lee Wai-king.

Segundo o Financial Times, o governo chinês deverá esperar pelo final dos protestos antes de anunciar a decisão, para não passar a sensação de que está a ceder às exigências dos manifestantes. Ainda assim, o mais certo é que as manifestações abrandem nos próximos tempos devido ao elevado número de detenções e à cada vez pior opinião pública que advém dos atos de vandalismo que ocorrem todos os dias.

Dados da polícia de Hong Kong revelam que a situação tem vindo a deteriorar-se nos últimos tempos. Isto porque, desde 2016, que o número de protestos anuais na metrópole se mantém acima dos 10 mil por ano.  A população reivindica ainda que o chefe de governo seja eleito por sufrágio democrático, algo que não acontece uma vez que o chefe de governo é nomeado diretamente por Pequim.

Esta não seria a primeira substituição ao governo de Hong Kong. Quando o primeiro líder do executivo regional apontado por Pequim, Tung Chee-hwa, se demitiu em 2005, o seu substituto serviu o resto do mandato e foi depois nomeado para servir mais um mandato de cinco anos.