Foram 290 votos contra e 288 a favor, o que fez com que a resolução, de carácter não vinculativo, que instava os Estados-membros da União Europeia a reforçarem operações de busca e salvamento no Mediterrâneo, fosse chumbada no Parlamento Europeu por apenas dois votos de diferença.

O facto de dois dos 290 “nãos” terem sido proferidos por eurodeputados portugueses, nomeadamente Álvaro Amaro, do PSD, e Nuno Melo, do CDS-PP, não passou despercebido nos últimos dias, com Marisa Matias, sempre sem nomear qualquer um deles, a dar o mote para a indignação. “A maioria dos meus colegas decidiu mesmo que não se deve apoiar as missões de salvamento e resgate, que as pessoas e as organizações que trabalham para salvar vidas devem ser criminalizadas, que se deve manter os campos de detenção onde todos os dias são violados os direitos humanos, que não temos obrigação de prestar assistência e socorrer quem precisa, que não devemos assegurar um desembarque seguro, que não deve haver cooperação entre os países para receber quem chega”, escreveu a eurodeputada bloquista num texto de opinião publicado no passado dia 26 de outubro no Diário de Notícias.

Nas redes sociais e não só, o mundo desabou sobre Nuno Melo, o mais mediático dos três portugueses que votaram contra. Em entrevista conjunta publicada este sábado no mesmo Diário de Notícias e na TSF, o eurodeputado centrista fala em “nojo”, “manipulação” e “mentira” e aponta o dedo a Matias, às redes sociais e a “alguma imprensa”: “Eu não podia ver coisa mais miserável.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Eu vejo neste episódio uma miserável manipulação na base da mentira que uma certa esquerda conseguiu, através das redes sociais, de alguns comentadores com partido e, devo dizer também, de algumas redações, fazendo notícia no país do que não aconteceu. Eu vi títulos que diziam ‘Deputados da direita impedem o salvamento de migrantes no Mediterrâneo’ e algumas dessas notícias até com a minha fotografia. Vi no jornal Público, esta semana, um exercício do pior que já vi na comunicação social, com uma fotografia minha numa caricatura num barco a meter uma pessoa debaixo de água. Eu considero isto uma enormidade, uma coisa tão miserável que não consigo sequer adjetivar“, começou por dizer, quando questionado sobre as acusações de que tem sido alvo.

Depois, passou a explicar o que terá acontecido de facto em Estrasburgo, dizendo que houve mais do que uma proposta a votação e acusando Marisa Matias de apenas contar metade da história. “E tudo isto surge porquê? Porque um certo setor da política, através do Bloco de Esquerda, passa a ideia de que houve uma resolução que se destinava a salvar pessoas no Mediterrâneo, a favor da qual esteve a Marisa Matias, chorosa quando contou os votos, e contra a qual estive eu e mais alguns deputados à direita. Isto é absolutamente falso. Vamos cá ver: houve quatro resoluções, todas com o mesmo objetivo. Qual era o objetivo? O resgate de pessoas no Mediterrâneo. Quatro. Todos os eurodeputados portugueses votaram a favor e votaram contra as duas coisas — todos os eurodeputados portugueses votaram a favor do resgate, todos os eurodeputados portugueses votaram contra o resgate, dependendo da resolução que estava em causa”, garantiu.

“Havia uma resolução que era minha, era do PPE. Uma resolução que entre outras coisas dizia ‘… reitera a obrigação decorrente do Direito Internacional de prestar assistência às pessoas em perigo no mar, (…) insta todos os navios aos salvamentos e a cumprirem as instruções dadas pelo Frontex, (…) insta todos os intervenientes no Mediterrâneo a transmitirem às autoridades competentes quaisquer infrações relativas a pessoas em perigo no mar…’ Isto foi uma proposta do PPE. A Marisa Matias votou contra ela, e eu não vi nenhuma notícia com a fotografia da Marisa Matias ou de outros deputados à esquerda com a legenda “Esquerda chumba o resgate de pessoas no Mediterrâneo”. Portanto, houve quatro resoluções, houve uma do PPE que foi chumbada, houve uma do Partido Socialista que foi chumbada, houve uma do ECR que foi chumbada e houve uma de outro grupo político mais à direita que foi chumbada. Foram as quatro”, concluiu.